Um estudo desenvolvido pelo grupo Previna, do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), analisou a associação entre as crenças atitudinais sobre o uso de drogas e o perfil de uso delas por adolescentes. O estudo foi publicado recentemente na importante revista Psychiatry Research.
“As crenças atitudinais são a percepção dos adolescentes sobre as consequências de certo comportamento. Neste caso, seriam as consequências de usar drogas”, explica a professora Zila Sanchez, do Departamento de Medicina Preventiva da EPM/Unifesp, coordenadora do estudo.
De acordo com Zila, essa avaliação subjetiva feita pelo jovem pode ser positiva ou negativa. “Uma atitude positiva é aquela que avalia o uso de drogas como algo atraente. Já uma atitude negativa é aquela que identifica os potenciais problemas associados ao uso de drogas. Nesse cenário, os atuais programas escolares de prevenção ao uso de drogas, em geral, objetivam que as crenças atitudinais positivas diminuam e as negativas aumentem, e isso é feito através de atividades e oficinas que trabalham justamente este conteúdo. Este, inclusive, é o modelo do programa #Tamojunto, do Ministério da Saúde”, destaca a professora.
Os achados da pesquisa desenvolvida pela Unifesp mostraram uma associação direta entre as crenças atitudinais positivas e o consumo de álcool – tanto qualquer uso de álcool como a prática de binge drinking, que se caracteriza pelo consumo de cinco ou mais doses de álcool em uma única ocasião –, bem como o consumo de múltiplas drogas (os adolescentes ditos poli usuários de drogas, pois consomem álcool, cigarro, inalantes, maconha, cocaína, crack e fazem binge drinking).
De acordo com Rodrigo Garcia-Cerde, antropólogo e doutorando do projeto, “o estudo revelou que os adolescentes que pontuaram mais na escala que identificava o uso de drogas como algo positivo eram os que mais consumiam os diversos tipos de drogas. Por outro lado, uma associação inversa foi achada entre as crenças atitudinais negativas e o poli uso de drogas.”
Outro ponto evidenciado no estudo, segundo Garcia-Cerde, “foi o fato de que meninas e estudantes mais velhos têm mais chances de consumirem álcool e de serem usuários de múltiplas drogas. Este maior consumo entre meninas, inclusive, tem sido observado em estudos brasileiros nos últimos anos e é um sinal de alerta.”
Em um momento em que pais e professores possuem dúvidas sobre quais estratégias utilizar em prevenção, o estudo traz algumas sugestões.
“As implicações desses resultados para o desenho e implementação de programas de prevenção ao uso de drogas em escolas de ensino fundamental estão relacionadas com a necessidade de aumento do foco dos programas em atividades que tenham como objetivo desestruturar as crenças atitudinais positivas e com a necessidade de adaptação dos conteúdos temáticos, considerando a maior chance das meninas e dos estudantes mais velhos já estarem consumindo álcool e outras drogas”, alerta Garcia-Cerde.