Por Valquíria Carnaúba
(Imagem ilustrativa)
Muitos novos materiais têm sido constantemente estudados e absorvidos por áreas ligadas à tecnologia. É o caso do grafeno, cuja aplicação na Engenharia Biomédica foi criativamente explorada por Nirton Vieira, professor do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de São Paulo (ICT/Unifesp) - Campus São José dos Campos. O pesquisador apostou em folhas de óxido de grafeno (GO) modificadas para substituir materiais tradicionais (como o sílico) em transistores de efeito de campo (FET), dispositivos semicondutores responsáveis por controlar as correntes elétricas em circuitos integrados.
Em colaboração com colegas da Universidade de São Paulo (USP) - Campus São Carlos, Vieira tornou o óxido de grafeno condutor por meio de dois processos: redução com carga oposta e dopagem. No primeiro processo, há modificação das folhas com grupos amina. No segundo, é utilizada ureia artificial para incorporar nitrogênio ao material.
O grafeno é uma folha de carbono plana, altamente fina e resistente, considerada o material mais fino do mundo. Consiste em uma estrutura em 2D de átomos de carbono obtidos do grafite, organizados em estruturas hexagonais, cuja altura equivale a um átomo. Cada camada dessa é conhecida por folha de grafeno.
O GO é isolante elétrico, mas quando essas camadas de grafeno são submetidas a tratamento químico, torna-se o oposto, um grande condutor. É justamente essa propriedade que posiciona o material obtido como um substituto à altura dos transistores, que modulam a condutividade em chips e circuitos integrados.
O FET foi aplicado como biossensor para detecção da proteína Cistatina C (um biomarcador de doença renal crônica) em urina sintética, identificando concentrações muito baixas - em torno de 5 nanogramas por mililitro. Aliado ao seu baixo custo, o bom desempenho indica que as novas folhas de GO podem ser exploradas em dispositivos eletrônicos com funcionalidades específicas. "São promissoras na fabricação de sensores e biossensores de baixo custo que dispensam etapas sofisticadas de microfabricação, com aplicação possível na detecção de doenças virais, como a covid-19, dengue e zika", finaliza Vieira.