Por Valquíria Carnaúba
(Imagem ilustrativa)
A maternidade ainda simboliza um enorme desafio para a carreira de muitas mulheres, especialmente as inseridas na academia. É o que revela uma pesquisa desenvolvida na Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, realizada em 2021, que apontou uma lacuna persistente na oferta de infraestrutura institucional para esse público dentro da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
De acordo com Luana Adami, uma das pesquisadoras envolvidas no trabalho, o intuito era analisar, conhecer, discutir e compreender o perfil das cientistas que integram a comunidade interna, considerando suas percepções sobre maternidade, acolhimento institucional e demandas cotidianas. Adamy também integra o Grupo de Trabalho Mulheres na Ciência/Unifesp, dedicado ao tema.
Liderado também por Susanny Tassini e Monica Andersen, o trabalho trouxe à tona, entre muitos outros dados, que 16,6% das mestrandas se tornaram mães durante o curso e tiveram licença maternidade. Quanto às doutorandas que se tornaram mães durante a pós-graduação, 62,5% obtiveram licença maternidade e uma delas precisou trancar o Doutorado. Entre as pesquisadoras contratadas, daquelas que tiveram filho(s) após a contratação, 66,7% desfrutaram sua licença.
Em relação aos impactos na carreira, entre as alunas de Iniciação Científica, 75% relataram atrasos para entrega de relatórios, 50% tiveram prejuízos em participação de eventos científicos e 25% apresentaram dificuldades com as demandas acadêmicas. Entre as mestrandas, 66% atrasaram entrega de relatórios e tiveram dificuldades na participação de eventos, enquanto dentre as doutorandas uma relatou ter perdido oportunidades por ser mãe, 60% tiveram dificuldade de participar de eventos e 18% atrasaram entrega de relatórios e/ou artigos.
Já metade das pesquisadoras contratadas precisaram paralisar alguma atividade ou projeto que estavam desenvolvendo, 92% tiveram dificuldades de participar de eventos científicos, 28% atrasaram a entrega de relatórios e prestação de contas enquanto 14% tiveram sua produtividade diminuída.
Dentre as respostas válidas, houve no total 142 participantes, com idade média 29 anos. A maioria da amostra compõe o campus São Paulo (55%), seguido por Diadema (17,61%), Guarulhos (12,68%), Baixada Santista (7,04%) e São José dos Campos (2,11%). Cerca de 33,8% das mulheres não tinham filhos, mas planejavam ter; 30,28% são mães; 21,83% não querem ter filhos e 4,22% estão grávidas. Em relação a qualificação das mulheres com filhos, 11,26% estão cursando o doutorado; 4,22% estão no Mestrado; 2,82% estão na graduação realizando iniciação científica e 2,11% estão no pós-doutorado.