Por Denis Dana
(Imagem ilustrativa)
Um dos grandes desafios envolvidos na realização de estudos sobre o comportamento animal é reproduzir o ambiente mais natural possível aos bichos, de forma que a pesquisa de fato permita a coleta fidedigna de dados. Durante a pandemia e a imposição da quarentena, esse desafio foi colocado aos(às) pesquisadores(as) da área de maneira ainda mais intensa. Foi justamente nesse período que eles(as) viram a oportunidade de aperfeiçoar um novo método científico, batizado de Ciência Cidadã Síncrona. A metodologia, testada com sucesso em um estudo com gatos, envolve o público no processo da pesquisa científica, ou seja, pessoas de fora da universidade coletam os dados necessários, contando com a presença virtual e a orientação da pesquisadora durante todo o experimento, de forma que todas as instruções sejam seguidas.
O novo método foi aplicado por pesquisadoras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade de São Paulo (USP) em uma pesquisa com gatos domésticos. O estudo, publicado recentemente no periódico científico Journal of Veterinary Behavior, apresentou o resultado da aplicação do novo método em uma amostra piloto com cinco gatos. Conduzido durante uma videochamada, o experimento envolveu duas interações humano-gato gravadas, uma com o alimento predileto do animal e outra com um brinquedo novo, que foi enviado pelas pesquisadoras para ser o mesmo objeto para todos os gatos participantes. O objetivo era comparar como o gato se comportaria nessas duas interações altamente motivadoras.
“O diferencial desse método é contar com a presença virtual da pesquisadora durante todo o experimento. A orientação e o monitoramento foram fundamentais para a padronização do procedimento e precisão dos dados obtidos”, destaca Carine Savalli Redigolo, professora do Campus Baixada Santista da Unifesp e uma das autoras do estudo, junto com as pesquisadoras Naila Fukimoto e Natalia Albuquerque.
Na Ciência Cidadã Síncrona, quem coleta o dado é o(a) próprio(a) pesquisador(a), que está presente virtualmente durante todo o procedimento, em conjunto com o(a) tutor(a) do gato. "A pesquisadora orienta o experimento e grava a videochamada, enquanto o(a) participante realiza a tarefa proposta com seu gato", explica Naila.
Inovação veio para ficar
De acordo com Naila, "o método criativo deu tão certo que foi adotado para conduzir a pesquisa na amostra total, que incluiu 48 duplas de tutores e gatos, com grande sucesso e confiabilidade dos dados".
Para as pesquisadoras, esse novo método deve ser bastante repetido nas próximas pesquisas, ainda mais naquelas envolvendo gatos. "Eles são animais que geralmente ficam estressados ao sair de casa e podem mudar seu comportamento em um ambiente desconhecido. Então, com a Ciência Cidadã Síncrona, o bem-estar dos(as) participantes, das pesquisadoras e, principalmente, dos gatos pode ser priorizado, uma vez que podem participar da pesquisa em seu ambiente familiar, com o mínimo de perturbação, o que também garante que os comportamentos exibidos por eles durante o experimento sejam espontâneos e naturais".