Pesquisa mostra que pessoas que registraram perda de peso acentuada tiveram maior incidência de diagnósticos de câncer nos dois anos seguintes comparados aos participantes que mantiveram o peso corporal
Por Ligia Gabrielli
Pessoas que perderam mais de 10% do peso corporal possuem maior chance de obter um diagnóstico de câncer nos 12 meses seguintes do que as que não registraram perda de peso. Essa é a conclusão de um estudo que contou com a participação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e foi divulgado no periódico científico Journal of the American Medical Association (JAMA), um dos mais importantes da área. A pesquisa foi realizada com 157.474 profissionais de saúde com mais de 40 anos de idade, acompanhados entre 1978 e 2016.
Os dados coletados mostram que, entre as pessoas que perderam mais de 10% do peso corporal, o diagnóstico de câncer foi obtido em até 12 meses em 1.362 casos a cada 100 mil. Já entre os(as) que não observaram essa mesma perda de peso, a taxa de diagnósticos da doença foi de 869 casos em cada 100 mil.
A vontade das pessoas em perder peso foi considerada no estudo, englobando realização de atividade física, adoção de dieta de qualidade ou a conjunção entre ambos os comportamentos, explica Leandro Rezende, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo e um dos coautores do trabalho.
“Pessoas com baixa intencionalidade de perder peso, ou seja, aquelas que não realizaram atividade física e nem tiveram uma dieta de qualidade, registraram uma incidência de diagnósticos de câncer mais de duas vezes superior a quem não teve perda de peso”, analisa o pesquisador.
Foram 2.687 casos entre 100 mil pessoas que perderam mais de 10% do peso corporal sem essa intenção, enquanto entre as pessoas que não tiveram perda de peso o índice de diagnósticos foi de 1.220 casos entre 100 mil.
Incidência e tipos de câncer
Entre os tipos de câncer observados, o do trato gastrointestinal superior – que acomete esôfago, estômago, fígado, trato biliar ou pâncreas – foi particularmente comum entre os(as) participantes com perda de peso recente. Neste caso, foram 173 casos de câncer do trato gastrointestinal observados a cada 100 mil pessoas com perda de peso recente superior a 10% da massa corporal, contra 36 casos a cada 100 mil em pessoas sem perda de peso recente.
“O que se conclui é que a perda de peso, principalmente sem motivo aparente, pode se tornar mais um dos fatores a serem considerados na construção do diagnóstico de câncer. Obviamente que a perda de peso, por si só, não deve gerar alarme e preocupação exagerada – ela deve ser avaliada e entendida pelo profissional de saúde de confiança. Mas a descoberta contribui, em conjunto com outros indicadores, para a construção de um diagnóstico precoce, o que é fundamental para o tratamento do câncer”, avalia Rezende.