Na última sexta-feira (27/03), foi formalizado um protocolo de intenções, que oferecerá atendimento psicológico aos profissionais envolvidos no processo de identificação das ossadas encontradas em uma vala clandestina no cemitério de Perus. Assinaram o acordo, no gabinete da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), Ideli Salvatti; a reitora da Unifesp, Soraya Smaili; o secretário-adjunto da SMDHC, Rogério Sottili; o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão; e a presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), Eugênia Gonzaga.
Intitulada Clínicas de Testemunho, a iniciativa já oferece atenção psicológica aos afetados por violência de Estado entre 1946 e 1988, e agora estenderá o atendimento aos 17 peritos que atuam no Grupo de Trabalho Perus, cujas análises estão sendo realizadas no Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF). É uma ação já realizada pela Comissão de Anistia, e visa dar reparação fundamental aos profissionais que lidam diariamente com o impacto da dureza do tema e com o sofrimento dos familiares de desaparecidos políticos da época da ditadura civil militar.
A ministra Ideli Salvatti ressaltou a importância de estender o trabalho das Clínicas do Testemunho aos profissionais. "Só quem não está no cotidiano não consegue ter a dimensão do que significa estar envolvido com uma história tão difícil e dura. Os peritos se relacionam diretamente com os familiares, e lidam com a legítima desconfiança que eles têm do Estado. Esses profissionais ressucitam momentos dolorosos cotidianamente e, por conta disso, estender este trabalho a eles é de fundamental importância".
Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia, falou sobre a importância da luta dos defensores dos direitos humanos no cenário atual. "O país nunca precisou tanto de nós. Vimos nas manifestações o surgimento desavergonhado de uma minoritária, porém significativa, parcela da sociedade pedindo a volta da ditadura e intervenção militar. Acretido muito na união da força aqui representada, como forma de nos fortalecer no enfrentamento da cultura autoritária. Não existe espaço para não trabalharmos juntos e somarmos os nossos esforços. Sem isso, nossa possibilidade de êxito torna-se menor. Espero que sigamos trabalhando juntos. Vamos avançar, pois, em se tratando de direitos humanos, não são permitidos retrocessos", comentou.
A reitora Soraya Smaili, colocou a Unifesp à disposição, no sentido de somar forças à luta. "A universidade pode fazer muito mais. Nós temos um centro de referência em Direitos Humanos na Baixada Santista, ligado ao Serviço social e ao curso de psicologia, e nós queremos oferecer este atendimento para os trabalhadores, vítimas da ditadura, familiares, bem como às vítimas da política de desaparecimento atual. A violência está muito enraizada em nossa sociedade, e nós precisamos fazer mais por isso. Deixo nosso pedido para ampliarmos isso, e colocarmos nosso centro de Direitos Humanos à disposição".