Ontem, 29 de abril, a opinião pública brasileira foi, novamente, brindada com cenas absolutamente inaceitáveis de prática de violência exacerbada da força policial contra 15 mil professores, servidores públicos e estudantes do estado do Paraná, que apenas exerciam seu legítimo direito de manifestação e greve. As imediações da Assembleia Legislativa, em Curitiba, foram transformadas em praça de guerra, quando, a partir das 15h, ao longo de pelo menos duas horas, cerca de 1,5 mil soldados da PM, incluindo tropas de choque e de elite, atacaram os manifestantes com cães, bombas de gás, balas de borracha, cassetetes e jatos d’água. Instalou-se a barbárie.
O prédio da Prefeitura de Curitiba, localizado em frente à Assembleia, foi transformado numa espécie de enfermaria de emergência, destinada a oferecer os primeiros socorros às vítimas da repressão. O hall de entrada e salas próximas viraram hospital de campanha, mesas de trabalho serviram de maca. A internet foi inundada por vídeos feitos com smartphones que mostravam homens e mulheres deitados, sangrando. O saldo da operação fala por si: ao menos 170 feridos, 43 hospitalizados e centenas de pessoas em fuga desesperada, incluindo mães que caminhavam ao encontro de seus filhos abrigados numa creche municipal situada a poucas quadras da praça.
Os manifestantes protestavam contra uma votação em curso na Assembleia, realizada a portas fechadas, de um projeto do governador Beto Richa (PSDB) que reduz repasses do governo para pensões e transfere inativos de fundos previdenciários. Em crise financeira, o governo quer passar uma parte dos aposentados pagos por um fundo do governo, que está deficitário, para o fundo previdenciário que tem saldo positivo de R$ 8 bilhões e recebe contribuição do Estado e dos servidores. Com isso, espera um alívio de R$ 1,7 bilhão ao ano no caixa. O temor é que a migração de inativos, a cargo hoje do governo, consuma recursos do outro fundo, afetando os servidores estaduais aposentados e pensionistas com mais de 73 anos de idade. Cálculos indicam que as mudanças reduzirão praticamente pela metade - de 57 para 29 anos - o tempo de solvência dos fundos de previdência do funcionalismo público.
Do ponto de vista militar, o governo cumpriu o seu objetivo: a votação foi realizada e o pacote, aprovado, ao contrário do que havia acontecido em fevereiro, quando os cerca de 50 mil professores (a maior categoria profissional do estado) realizaram uma greve que durou 40 dias. Na ocasião, o governo recuou momentaneamente, e o movimento grevista foi suspenso, para ser retomado no último fim de semana, quando Richa anunciou que encaminharia o pacote para nova votação.
O governo defende a ação da PM e responsabiliza as vítimas. Ressuscita a figura dos “vândalos” e dos “black bloks”, supostamente a serviço dos partidos e grupos de oposição. Pelo menos seis manifestantes foram presos. A contrapartida dessa versão é oferecida pelo próprio movimento dos professores, cuja greve conta, novamente, com a adesão de totalidade da categoria. E, simbolicamente, pela atitude corajosa de 17 soldados da PM que se recusaram a atacar os professores, e que agora sofrem a consequência de seu gesto legítimo e louvável.
Diante dos fatos expostos, a reitoria da Unifesp manifesta sua total solidariedade para com o movimento dos professores, dos servidores e dos estudantes do estado do Paraná, e repudia com toda veemência o uso da truculência policial por parte do governo. Não é com repressão que o país resolverá os gravíssimos problemas que afetam o sistema público de educação.