Por Juliana Cristina
O Conselho Universitário da Universidade Federal de São Paulo (Consu/Unifesp) homenageou na manhã desta quarta-feira, 10 de novembro, o professor titular da Unifesp e Diretor da Escola Paulista de Medicina (EPM/ Unifesp) – Campus São Paulo, Manoel Girão, falecido no dia 30 de outubro, aos 60 anos, por complicações provocadas pela covid-19. A homenagem, conduzida por Nelson Sass, reitor da Unifesp, foi prestada por alguns de seus colegas de profissão que, emocionados, relembraram de sua trajetória como profissional e amigo e agradeceram pelo legado que deixa. Antes do início das falas, foi apresentado um vídeo produzido pelo Departamento de Comunicação Institucional (DCI) em homenagem ao docente (assista acima).
Karin Martin dos Santos, assistente em administração do Departamento de Ginecologia, enfatizou a preocupação que o professor tinha com seus pacientes, o amor pela universidade e pela EPM/Unifesp, além de ressaltar seu carinho e humildade com todos da instituição. “Ele era um ser humano iluminado. Não precisava impor ou cobrar nenhum respeito, porque quando pedia alguma coisa, ele iluminava! Nós fazíamos com todo prazer, porque era uma pessoa que não fazia distinção de ninguém. Só tenho a agradecer por ter tido ele na minha vida, mas não me conforto por ter perdido, pois para mim o Manoel será eterno”, completou Karin, que também foi orientanda de Girão.
Marair Sartori, chefe do Departamento de Ginecologia, comentou que o professor os deixou após uma longa batalha contra a covid-19 e, "por ironia do destino", partiu no Dia do Ginecologista e Obstetra. Ela registrou o fato de que Girão trilhou toda sua carreira na EPM/Unifesp, além de ter coordenado brilhantemente o Departamento de Ginecologia, tornando-o um dos mais respeitados dentro e fora do Brasil, tido uma capacidade técnica e humana ímpar como médico, concretizado uma produção acadêmica impressionante, orientado centenas de alunos de graduação e pós-graduação, que hoje são docentes em diversas instituições nacionais e internacionais, além de ter participado ativamente de atividades de gestão dentro da universidade. "Queria destacar a imensa capacidade que ele teve de retomar a união e a vontade de crescer da comunidade da EPM/Unifesp que andava tão abalada por seguidos golpes impostos pelas crises econômicas e políticas. Estávamos desanimados e, quando o Manoel assumiu, ele conseguiu tirar o melhor de todos nós. Com sua liderança, retomamos o orgulho da EPM/Unifesp e isso motivou inúmeras iniciativas de extensão, comunidade e políticas universitárias".
A docente ressaltou também que Girão e sua equipe estavam presentes lutando pela escola e pelo Hospital São Paulo, realizando arrecadação de verbas, criação do voluntariado da EPM/Unifesp, do Fórum das Comunidades da Vila Clementino, que abriu as portas da EPM para a comunidade, e do Projeto Semear, uma iniciativa de apoio financeiro, pessoal e profissional para alunos em vulnerabilidade. "O legado desse meu querido amigo, professor, médico, permanece. E cabe a nós continuarmos a aumentar essas iniciativas. O Manoel faz muita falta aqui, mas a gente vai seguir em frente e honrar seu legado", completou.
Helena Nader, professora titular da Unifesp, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e vice-presidente da Academia Brasileira De Ciências (ABC), relembrou com carinho das décadas nas quais teve a oportunidade de conviver com Girão, incluindo momentos importantes nos quais o professor esteve presente desde antes de a EPM consolidar-se como universidade, até depois de sua expansão. "Ele não era só meu médico, diretor e amigo; eu devo a vida a ele. Ele foi o médico, o docente, o educador, o gestor e conseguiu motivar a todos da comunidade pela união. Muita gente não sabe, mas ele lutou muito para chegar na EPM/Unifesp, ele era de família muito pobre, naquela época não existia auxilio para o estudante, nada disso. Trago isso para vemos o quanto melhoramos, para trazer esperança. Nós que ficamos temos a missão de fazer o sonho dele acontecer, tornar o Hospital São Paulo mais moderno e formar humanisticamente nossos estudantes em todas as áreas do conhecimento". Nader finalizou, emocionada, com uma mensagem aos familiares do professor: "a Sineida [esposa de Girão] deu uma lição de vida e foi única. Não saiu do lado dele, punha as músicas que ele mais gostava para ele ouvir. Eu quero que ela, o Dudu e o João Henrique [filhos de Girão], saibam que a mãe deles, a Escola Paulista de Medicina, a Universidade Federal de São Paulo, estão aqui para eles. Somos uma família e juntos vamos cumprir a missão do Manoel".
"A gente tinha não só uma afinidade na gestão, mas também uma amizade. Aprendi a amar o professor Girão, na melhor maneira da palavra em todos os sentidos, porque ele era uma pessoa amável, adorável. Então, é muito, muito difícil”, lamentou Fulvio Scorza, vice-diretor no exercício da diretoria da EPM/Unifesp. Scorza definiu a gestão de Girão em três pilares principais: humanização, compromisso institucional e empreendedorismo. Ele completou dizendo nunca ter visto alguém tão calmo e educado na condução da direção da escola e reflete que, se fosse necessário definir o professor em uma só palavra, escolheria generosidade.
O reitor da Unifesp iniciou sua fala citando a escritora brasileira Adélia Prado: A memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos. "Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos. Isso é o que essa frase nos traz. Queria dizer como amigo e como colega de profissão, o quanto de tristeza estamos sentindo, considerando 42 anos da história e de momentos, alguns muito próximos, com Girão. Quero também manifestar meus sentimentos e cumprimentos à Sineida e seus filhos e agradecer por todas as manifestações que foram colocadas ao longo dessas falas muito importantes e intensas. É difícil, depois de tudo o que foi colocado, encontrar um lugar onde o Manoel não estivesse presente e fazendo considerações absolutamente essenciais ao longo de todo esse período. Sua presença, apesar de todas as dificuldades estruturais da nossa universidade, foi muito importante para nos apoiar, incentivar e inspirar. Além disso, gostaria também de ressaltar essa efervescência, inquietude de coisas que poderiam acontecer, que manifestava sua capacidade, qualificação, um cérebro raro e fundamental, como poucos eu diria". Sass manifestou também sua honra, gratidão pela convivência que teve com Girão e de poder acompanhar sua trajetória ao longo dos anos na EPM/Unifesp desde seus momentos iniciais como aluno e residente.
Também manifestaram condolências e agradeceram Girão pelo legado deixado à universidade, a reitora da Unifesp entre 2013 a 2021, Soraya Smaili, o diretor da Escola Paulista de Enfermagem (EPE/Unifesp) - Campus São Paulo, Alexandre Pazetto Balsanelli, e os docentes José Carlos Baptista da Silva, do Departamento de Cirurgia da EPM/Unifesp, e Ivan César Ribeiro, da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (Eppen/Unifesp) - Campus Osasco.