No último dia 10 de março, a Comissão da Verdade Marcos Lindenberg (CVML) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) realizou, no campus Guarulhos, uma audiência pública para apresentar a alunos e à comunidade as histórias de Crimeia Alice de Almeida, Luis Carlos Aiex e Regina Elza Solitrineck, estudantes da Escola Paulista de Medicina (EPM) presos em 1968 durante a ditadura militar, enquanto participavam do 30° Congresso da UNE, em Ibiúna. Na ocasião, eles relataram suas trajetórias na militância política, detalhes sobre o congresso estudantil e de suas prisões, bem como apresentaram uma relação do cenário de protestos daquela época e os dias atuais.
A psiquiatra Regina iniciou seu discurso, alertando que o cenário político atual é muito semelhante ao do início da ditadura. "As manchetes veiculadas na mídia são muito parecidas, sem qualquer conteúdo político. A situação conflituosa e agressiva contra quem não compartilha da mesma opinião, é a mesma daquela época. As pessoas estão na rua pedindo intervenção militar. Quem o faz, não tem a mínima ideia do que é viver em uma ditadura", relatou.
Crimeia, enfermeira, comentou que hoje em dia, diferente daquela época, o raciocínio político é muito primário. "Ou você é contra, ou é a favor. Se você critica uma medida do governo da Dilma, é porque 'tucanou'. Não se pode ser crítico, é tudo muito raso. Naquela época, as manifestações eram mais organizadsas. Hoje é tudo muito disperso", explicou.
O congresso estudantil, realizado clandestinamente em um sítio em Ibiúna, em 1968, reuniu cerca de mil pessoas que atuavam na militância contra a ditadura militar. Por conta da falta de estrutura e de o número de alojamentos ser insuficiente, muitos dormiam no chão de barro sob a chuva torrencial que caiu durante todo o encontro. Denúncias de moradores da cidade, que estranharam a movimentação atípica na cidade, levaram os policiais ao acampamento, que montaram um cerco com mais de 200 homens, e chegaram atirando para o ar para intimidá-los. Todos estudantes foram presos.
"Nós éramos vistos como burgueses que não trabalhavam, e estávamos lutando por liberdade. Muitos companheiros precisaram viver na clandestinidade. Muitos abandonaram militância, com medo de serem assassinados. A ameaça era real. O medo e a morte faziam parte do nosso dia a dia. Matava-se a bel prazer", finalizou o psiquiatra Luis Carlos.