Por José Luiz Guerra
Quem nunca tomou um analgésico quando sentiu uma dor de cabeça? Ou um anti-inflamatório ao sentir dores musculares ou articulares? Pois saiba que o uso destes e de outros tipos de medicamentos sem a orientação de um médico ou de outros profissionais da saúde pode trazer malefícios ao corpo.
A automedicação, ou seja, o ato de tomar remédios sem orientação de um especialista, é uma questão cultural na sociedade. Álvaro Atallah, professor titular da Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), explica que o brasileiro segue os costumes dos Estados Unidos, onde medicamentos como Paracetamol, Ácido Acetilsalicílico (AAS), multivitamínico, entre outros, são vendidos indiscriminadamente no balcão das farmácias. Para ele, essa prática pode ser prejudicial e pode mascarar ou até gerar doenças. “O Paracetamol é a primeira causa de suicídio na Inglaterra. A droga tem ação hepática e em doses altas pode matar e mata de uma maneira dramática, causando insuficiência hepática, coma e sangramentos”.
Além dos danos físicos, algumas drogas, usadas de forma inadequada, podem causar dependências, como os inibidores de apetite, costumeiramente usados para o emagrecimento. “Até pouco tempo atrás se vendia, inclusive pela internet, inibidores de apetite que são drogas que levam a dependência e causam malefícios a saúde”, diz Atallah. Segundo ele, o Brasil é um dos maiores consumidores mundiais de inibidores de apetite e, por isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) passou a regular a venda.
O docente atenta para o fato de que as farmácias no Brasil tornaram-se uma espécie de supermercado, dando ênfase à venda de cosméticos, chocolates e outros produtos, fato que, para ele, desvaloriza o trabalho do farmacêutico. “O farmacêutico tem uma formação excelente e que poderia ser muito útil em vários aspectos da automedicação e da aderência adequada ao tratamento”, pontua.
Os anúncios publicitários de remédios, veiculados na mídia, costumam trazer as mensagens “se persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado” e, em casos de medicamentos à base de AAS, “este medicamento é contraindicado em casos de suspeita de dengue”. Para o professor, essas mensagens apenas incentivam o consumo de remédios, uma vez que o paciente é orientado a procurar um médico apenas se os sintomas persistirem, ou seja, após ter tomado a droga por conta própria. “E é ridícula a maneira e a velocidade com a qual isso é falado”, afirma Atallah. Ele também citou experiências pelas quais passou, relacionadas à automedicação. “Eu já vi aqui no pronto-socorro (do Hospital São Paulo) casos gravíssimos de hematoma retroperitonial de pacientes que tomaram medicações por conta própria”, alerta o docente.
Por fim, Atallah acredita que o controle da automedicação começa pela educação e pelas universidades. “Esse é um desafio antigo para a universidade brasileira: o de interagir com o ensino primário, secundário, treinar professores, particularmente na área da educação para a saúde”. A tecnologia também pode ser uma aliada no combate a esse problema. “Hoje com a internet, Whatsapp e redes sociais, creio que a população brasileira poderia ter maior acesso aos médicos para, pelo menos, ter uma orientação inicial de certas situações”, finaliza.