Por Antonio Saturnino
Guilherme Giovannoni visita o Laboratório Atletas do Futuro e faz sua análise genética (crédito: Facebook Atletas do Futuro)
Qual a melhor forma de orientar as crianças e jovens na escolha da modalidade esportiva que eles escolherão para praticar? Ou como orientar, de forma mais eficaz, os atletas amadores, e até mesmo os profissionais, para que eles tenham melhor desempenhos nas competições? A resposta para essas perguntas está no mapeamento genético.
O estudo de um grupo de pesquisadores da Unifesp, intitulado Atletas do Futuro, está utilizando marcadores genéticos relacionados à prática de esportes para mapear atletas amadores e profissionais, com o objetivo de identificar habilidades esportivas e direcionar o treinamento. Esse assunto será discutido em um simpósio coordenado pelo professor João Pesquero durante a terceira edição do Congresso de Ciências e Medicina do Esporte (ICSEMIS, sigla em inglês para Convenção Internacional de Ciência, Educação e Medicina no Esporte), que será realizado do dia 31 de agosto a 4 de setembro de 2016, intervalo entre os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro. Considerado o maior e mais importante nas áreas de Educação Física, Ciências do Esporte e Medicina Esportiva em âmbito mundial, o evento acontece a cada quatro anos, sempre no país sede da Olimpíada.
Com esse conhecimento, os cientistas mapearam cerca de mil atletas brasileiros de alto rendimento, dentre os quais estão esportistas como Gustavo Kuerten, Oscar Schmidt, Aurélio Miguel, Joaquim Cruz, Hortência e Guilherme Giovannoni. O passo seguinte foi o mapeamento em jovens de categorias de base, o que ajudou aos técnicos a definirem os treinos mais adequados para muitos atletas.
Pesquero afirma que o levantamento não deve ser um fator que impeça os jovens ou, até mesmo, os obrigue a seguir uma carreira no esporte. “As informações obtidas no estudo não devem, de forma alguma, ser usadas para excluir ou impedir que alguém pratique determinada atividade esportiva. Porém, esse o estudo ajuda a direcionar melhor quais as modalidades esportivas mais adaptadas aos jovens atletas e ajudar em sua preparação e treinamento. Podem ser fatores decisivos para, por exemplo, definir se um corredor teria maiores chances de disputar uma prova dos 100 metros rasos ou a maratona, já que os marcadores estudados ajudam a identificar uma capacidade de explosão ou resistência”, explica.
O próximo passo é levar o projeto às escolas, como forma de identificar nas crianças esses marcadores, ajudando a despertar nelas a paixão pela atividade física e identificar novos talentos. Existem na literatura entre 250 e 300 marcadores em diferentes genes que são associados à prática esportiva, mas o grupo utiliza apenas quatro deles, que estão correlacionados a vantagens em atividades de força ou de resistência. Para cada um desses fatores foram analisados os dois alelos gênicos, um herdado do pai e o outro da mãe.
Embora uma análise genética possa melhorar o desempenho de esportistas, os genes sozinhos não são responsáveis pela performance atlética. Condição física, treinamento, nutrição, sono de qualidade, idade, motivação, desejo e competitividade são outros fatores importantes para se atingir o sucesso nos esportes.