Quinta, 29 Setembro 2016 17:01

Suicídio: um problema de saúde pública e uma das principais causas de mortes

Estar presente, ouvir e levar ao atendimento especializado são as melhores formas de prevenção

Por Antonio Saturnino

 

O suicídio, mesmo com números alarmantes, ainda é um tema pouco discutido. De acordo com o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de um milhão de pessoas tiram a própria vida durante o ano, o que representa uma morte a cada 40 segundos.

O relatório também aponta que o Brasil é o oitavo país com o maior número de casos de suicídio, com mais 11 mil registros anualmente. Esse total já ultrapassa os casos de morte decorrentes de doenças como o HIV e, dentre os idosos, esses dados crescem constantemente.

De acordo com especialistas, os números entre os brasileiros são subestimados devido às notificações desses casos que não correspondem à realidade. Mas se pensarmos somente nos dados oficiais e na dimensão populacional, temos alto número de pessoas que tiraram a própria vida no país.

Porém a morte por suicídio é morte evitável e, para tanto, é imprescindível informação sobre o tema. Campanhas responsáveis de orientação e esclarecimentos são necessárias. É crucial a implantação de programa nacional de vigilância ao comportamento suicida e falta compromisso das autoridades de saúde para ações eficazes quanto à prevenção.

Como identificar uma pessoa com tendência suicida?

As pessoas que tentam se matar estão em intenso sofrimento. O professor João Fernando Marcolan, da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (EPE/Unifesp), explica que o suicida, geralmente, tem motivações que o mantém vivo e, ao perdê-las, tirar a própria vida é a única saída para resolução de seus problemas e angústias. "Muitas vezes o que se busca é uma situação de conforto e, para ele, morrer é parar de sofrer. Há casos em que a pessoa tem uma fantasia de cunho místico e a morte pode significar ir para um lugar melhor ou reencontrar um ente querido", esclarece.

Um dos principais sinais que pode ser observado é a depressão. É necessário atentar para mudanças comportamentais com tendências depressivas, tais como isolamento, relatos sobre o desejo de morrer ou de se matar, depoimentos de despedida (seja por meio de carta, mensagens nas redes sociais, o ato de se despedir de pessoas pessoalmente como se não fosse mais vê-las), ausência de planos futuros (estudar, trabalhar, constituir família, viajar etc) e/ou quadro psiquiátrico agudizado.

Quais são as principais motivações ou fatores de risco?

Deve-se ter atenção a casos de sofrimento psíquico e/ou físico considerado sem solução, bem como perdas econômicas com mudança de status social, relacionamentos afetivos inadequados, disfuncionais ou conturbados, abandono afetivo sofrido, seja ele familiar ou social. Também merecem atenção situações de transtorno mental, principalmente os do espectro do humor, violência no seio familiar e dificuldades em lidar com problemas e situações estressantes, principalmente crianças e adolescentes.

A OMS aponta que indivíduos que tenham sofrido violência sexual e/ou doméstica, agressão moral ou psicológica nas fases da infância e adolescência, vítimas de homofobia, racismo e xenofobia, ou pessoas em situação de vulnerabilidade social têm maior risco a cometerem o suicídio.

Existem também fatores de risco que devem ser observados, tais como: doenças físicas crônicas; histórico familiar de suicídio; comportamento suicida anterior (ideação, planejamento, tentativa); transtornos mentais, com maior risco para transtornos do humor; jovens que façam consumo de álcool e outras drogas; e
grupos de pessoas, dentre as quais as solteiras, viúvas ou divorciadas que vivam só ou com pouco suporte e vínculos sociais.

Como ajudar pessoas com tendências suicidas ou que já tentaram tirar a própria vida?

A melhor forma de ajudar é estar presente, ouvir e levar ao atendimento especializado o mais breve possível. É muito importante obter informações que auxiliem na detecção e avaliação do risco para comportamento suicida. Quanto mais precocemente for realizada a constatação da ameaça, mais rapidamente é possível oferecer ajuda.

Atitudes preconceituosas devem ser evitadas ao máximo. Julgamento, condenações ou juízo de valor podem ser extremamente nocivos.

É necessário estar atento a mudanças de comportamento e conversar a respeito do que o indivíduo pensa. Saber sobre ideias, planos e riscos para se matar é fundamental para trazer alívio a quem sofre. É preciso analisar o perigo, amparar afetivamente e, de imediato, buscar auxílio no sistema de saúde.

Também é importante incentivar o estilo cognitivo e da personalidade. São medidas eficazes estimular boas habilidades sociais, a autoconfiança e abertura para novos conhecimentos. Também deve ser encorajada a integração social na prática de esportes, associações em igrejas e o bom relacionamento com os amigos de convívio diário.

Setembro amarelo


Qual a melhor forma de ajudar pessoas cujos familiares ou amigos cometeram o suicídio?

Muitos familiares sentem culpa pelo ocorrido e podem desenvolver quadro depressivo ou, até mesmo, terem pensamentos de se matar. Por isso necessitam de atenção especializada.

Os que perderam familiar por suicídio devem procurar atendimento para o sofrimento gerado, que pode ser individual ou em grupo (psiquiátrico, psicoterapia, grupos de ajuda etc).

A Unifesp oferece informações sobre o Grupo de atendimento a familiares que perderam entes por suicídio e do Grupo de atendimento a indivíduos com comportamento suicida. Mais informações podem ser adquiridas pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

 

Lido 31037 vezes Última modificação em Segunda, 03 Outubro 2016 16:29

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