Sexta, 16 Março 2018 12:18

Opinião: Professor do Campus Diadema da Unifesp comenta sobre a trajetória de Stephen Hawking

Por Rodolfo Valentim*

O dia 14 de março de 2018 começou um pouco mais triste para todos aqueles que apreciam Ciência e os mistérios do universo: morreu o grande físico inglês Stephen Hawking (coincidentemente no mesmo dia que nasceu Albert Einstein). Stephen, como era chamado entre amigos, ou professor Hawking, como era conhecido nos meios acadêmicos, faleceu tranquilamente em sua casa em Cambridge cercado por sua família.

Stephen William Hawking nasceu em Oxford (Oxfordshire, um condado) no Reino Unido em 8 de janeiro de 1942 (exatamente 300 anos depois da morte de Galileu Galilei). Ele fez graduação em Física na renomada Universidade britânica e depois cursou sua pós-graduação em Astronomia em Cambridge, onde se tornaria professor. Hawking, um brilhante estudante de doutorado, foi diagnosticado aos 21 anos com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) ou doença de Lou Gehrig. Esta doença causa a perda dos movimentos musculares gradativamente, causando a morte em poucos anos. O prognóstico médico foi arrasador: ele perderia o movimento dos músculos e morreria em no máximo dois anos. Pouco tempo antes, da trágica notícia, Stephen conheceu uma jovem estudante de literatura chamada Jane Wilde, com que se casaria em 1965, poucos anos depois tiveram seus três filhos: Lucy, Robert e Tim. Jane foi fundamental para a continuidade e o sucesso da vida acadêmica ativa que Stephen teve, eles se divorciaram em 1990. Após seu doutorado, já com evidentes sequelas proporcionadas pela doença, Stephen tornou-se pesquisador em Cambridge e, em 1973, professor lucasiano de Matemática no Departamento de Matemática Aplicada e Física Teórica. Esta cátedra por sinal, foi a mesma ocupada por Sir Isaac Newton e o célebre físico inglês Paul Adrien Maurice Dirac, um dos pais da teoria Quântica. Há até uma história interessante sobre isso: em 1978, descobriram que Hawking não havia assinado o livro da cátedra; em uma cerimônia ele colocou sua assinatura abaixo das de Newton e Dirac.

Professor Hawking deu grandes contribuições à Ciência em especial em Cosmologia, Relatividade Geral e Gravitação Quântica. Hawking provou teoremas sobre as singularidades (região do espaço-tempo com densidade infinita) no espaço-tempo, como sendo a região que se comporta na presença dos buracos negros no contexto da Relatividade Geral. Outra contribuição importante feita por ele é que os Buracos Negros podem emitir radiação (conhecida como radiação de Hawking). Esse efeito previsto por ele diz que os Buracos Negros emitiriam radiação e, consequentemente, poderiam perder toda sua e massa podendo desaparecer. Ele também se popularizou através de divulgação científica de altíssimo nível. Publicou Uma Breve História do Tempo em 1982 (que vendeu 10 milhões de cópias), O Universo Numa Casca de Noz (2001), Uma Nova História do Tempo (2005), God Created the Integers (2006) e livros infantis em parceria com sua filha Lucy, George e o Segredo do Universo (2007) e suas continuações. Stephen foi um gigante da Ciência que procurou levar ao público leigo um pouco da beleza e complexidade do Universo e suas leis.

Tamanho foi o impacto de seu trabalho com divulgador científico que ele se tornou uma celebridade na mídia e apareceu em seriados como Star Trek, A Nova Geração (1993). Neste episódio, ele joga poker com Albert Einstein, Isaac Newton e o androide Data, em uma simulação 3D de Holodek (um computador fictício da Enterprise). E no seriado The Big Bang Theory, quando o carismático personagem Sheldon Cooper encontra-o para falar de sua nova teoria. Ele apareceu também nos desenhos Os Simpsons, Futurama e Family Guy. Stephen Hawking deixa um legado como uma das mais brilhantes mentes que a humanidade já conheceu. Pra muitos, ele é considerando tão influente quanto Isaac Newton, Charles Darwin e Albert Einstein. Além do gigantismo de sua obra e didática na divulgação científica, sua vida deixa um legado de perseverança e superação das dificuldades físicas encontradas por ele a partir de seus 21 anos. Muito obrigado professor Hawking por ter nos inspirado e ensinado tantas coisas.

*Astrofísico e professor do Departamento de Física do Campus Diadema da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro do Grupo de Astrofísica e Relatividade Geral - GAREGE.

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As opiniões expressas no artigo não representam a posição oficial da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

 

Lido 9584 vezes Última modificação em Quinta, 28 Novembro 2019 14:47

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