A edição do jornal O Globo do dia 28 de maio traz um artigo, assinado por Antônio Gois, mostrando uma pesquisa de opinião que indicou uma tendência de mudança do modo que a população vê as universidades públicas. Para a maioria dos entrevistados, essas instituições já não atendem apenas aos mais ricos. O conteúdo está transcrito abaixo e disponível para assinantes do jornal por meio deste link.
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POR ANTÔNIO GOIS 28/05/2018
Pesquisa de opinião mostra que maioria da população já não vê universidades públicas atendendo apenas aos mais ricos
O acesso ao ensino superior brasileiro continua para poucos. Porém, a percepção de que a universidade, especialmente a pública, é acessível apenas aos ricos no Brasil parece estar em mudança na opinião pública. Uma pesquisa do instituto Idea Big Data com 2.168 brasileiros, selecionados numa amostra para representar o perfil da população total, mostra que apenas 8% dos brasileiros já teve algum vínculo direto com uma universidade pública (como aluno, professor, ou usuário de algum serviço prestado por elas). Mesmo assim, só 38% dos brasileiros concordam com a afirmação de que “o acesso a universidades públicas continua restrito aos ricos”. Quando questionados se esse acesso foi ampliado com a política de cotas, 65% dizem concordar, e 70% entendem que essa política não prejudicou a qualidade do ensino.
Como não há dados para comparar essa pesquisa com anos anteriores, não sabemos quais eram os percentuais para essas mesmas perguntas há 10 ou 20 anos. Mas é provável que os números fossem diferentes, já que desde 1998 o país vem registrando aumentos sucessivos de matrículas e da participação de negros e pardos no ensino superior. Nada garante que esse movimento continuará com a mesma intensidade – como argumentei em minha última coluna, o cenário é preocupante no ensino superior –, mas o perfil do aluno de uma universidade pública ou privada hoje mudou, mesmo continuando ainda muito restrito.
A pesquisa do Ideia Big Data mostra também outras percepções dos brasileiros a respeito das universidades públicas. A maioria (54%) diz que greves e paralizações de aulas seriam motivos de preocupação caso algum familiar estudasse em universidade pública, mas, em geral, a avaliação é positiva. Apenas 27% dizem concordar total ou parcialmente com a afirmação de que elas “custam muito ao país e não beneficiam a sociedade” e 86% concordam, também parcial ou integralmente, com a ideia de que “devem permanecer gratuitas, laicas e garantindo a liberdade de pensamento”.
Em novembro do ano passado, em levantamento restrito a São Paulo, ao perguntar apenas sobre a cobrança de mensalidades daqueles que podem pagar, o Instituto Datafolha também identificou que a maioria (57%) da população prefere a gratuidade em universidades públicas. O percentual de 43% entre os que concordam com a cobrança, porém, não foi desprezível.
Obviamente, políticas públicas não podem ser pautadas apenas por pesquisas de opinião. O fato de a maioria dos brasileiros ter avaliação positiva das universidades públicas e rejeitar a cobrança de mensalidades não invalida o debate a respeito da necessidade de buscar mais eficiência no setor e de como financiá-lo de maneira mais justa, para ampliar ainda mais o acesso de mais pobres. Mas revela o quanto seria difícil para qualquer governo adotar uma medida polêmica, que exige modificação na Constituição, sem apoio da opinião pública.
Para Maurício Moura, fundador do Ideia Big Data e idealizador da pesquisa, o fato de a maioria dos brasileiros querer que as universidades continuem gratuitas revela aspirações futuras. “Mesmo que poucos tenham acesso a ela, os brasileiros a valorizam muito, e desejam que possa atender a um número maior de pessoas”.