De acordo com o estudo, caminhões e ônibus são responsáveis por metade da poluição do ar na cidade (Créditos: divulgação)
Um novo estudo coordenado por físicos da Universidade de São Paulo, do qual participou a docente da Unifesp Luciana Rizo, calculou que veículos movidos a diesel, como caminhões e ônibus, são responsáveis por cerca da metade da concentração de compostos tóxicos na atmosfera, tais como benzeno, tolueno e material particulado. É um valor muito alto, segundo os pesquisadores, considerando-se que ônibus e caminhões representam somente 5% da frota veicular. A região metropolitana de São Paulo tem mais de 7 milhões de veículos. O estudo foi publicado em 16 de julho, na revista Scientific Reports, do grupo Nature.
“A estimativa da emissão de poluentes de cada tipo de veículo é feita geralmente baseada em valores medidos em laboratório e multiplicado pelo número de veículos nas ruas”, diz o professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP e um dos autores do estudo. O problema dessa metodologia, segundo ele, é que não leva em conta necessariamente condições reais de condução e manutenção dos veículos, aspectos “chave” para emissão de poluentes. O estudo publicado agora foi realizado em condições reais.
“Um dos aspectos inovadores desse estudo foi utilizar o etanol na atmosfera, emitido somente por carros e motos, para separar a contribuição real de veículos leves, que emitem etanol, e pesados, movidos a diesel e que não emitem etanol”, complementa Artaxo.
Outros estudos ao redor do mundo têm focado no papel do uso de biocombustíveis como etanol, na redução de emissão de poluentes. “O grande diferencial desta análise foi o foco não no efeito do etanol em si, mas no seu uso como um traçador de poluentes, permitindo separar pela primeira vez fontes veiculares distintas”, explica o pesquisador Joel Ferreira de Brito, líder do estudo e cujo pós-doutorado no Instituto de Física da USP levou a esses resultados.
Luciana, docente do Campus Diadema da Unifesp, ressalta que uma das forças do estudo foi conseguir incluir um grande conjunto de poluentes, inclusive de reconhecido impacto na saúde humana e no clima, atualmente não regulamentados. É o caso de partículas de escalas nanométricas, ozônio, acetaldeído, benzeno, tolueno e o “black carbon”, composto emitido por combustão e responsável pela fumaça preta que pode ser observada em escapamentos.
“Pelos resultados obtidos, certamente uma redução de uso de veículos na cidade de São Paulo, aliada à expansão da linha de metrô, por exemplo, é o primeiro e mais eficaz modo de minimizar a poluição na cidade”, opina Joel Brito. “Um ótimo custo-benefício pode também ser obtido diminuindo as emissões de poluentes pelos ônibus”, acrescenta. O pesquisador ressalta que existem filtros que eliminam 95% das emissões de ônibus, “e é muito importante que estas novas tecnologias, disponíveis e baratas sejam efetivamente implementadas em São Paulo e nas grandes cidades brasileiras”, diz.
Esses resultados foram obtidos durante três meses de medida no centro de São Paulo, na primavera, um período relativamente chuvoso e de pouca poluição. “Outros estudos mais extensos, inclusive no inverno, com acúmulo de poluentes na atmosfera, deve ampliar nossa compreensão do impacto dos veículos na atmosfera de São Paulo e na sua população”, conclui.
Camada de poluição na cidade de São Paulo (Créditos: Divulgação)
Camada de poluição na cidade de São Paulo (Créditos: Divulgação)