Segunda, 12 Novembro 2018 16:26

Cátedra Kaapora promove encontro dos Pankararu com professores e estudantes no Campus Guarulhos

Os encantados Pankararu, espíritos dos ancestrais desse povo oriundo de Pernambuco, fizeram-se presentes no Teatro Adamastor Pimentas, no último dia 7 de novembro, na Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo (EFLCH/Unifesp) - Campus Guarulhos. Mais de 120 estudantess e professores de diferentes cursos da EFLCH/Unifesp participaram do evento Os trajes de encantados Pankararu: da Missão de Pesquisas Folclóricas à São Paulo de hoje, promovido pela Cátedra Kaapora, vinculada à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec). Além de representantes da comunidade Pankararu que vivem em São Paulo, reunindo cerca de 180 famílias, participaram de uma mesa de debate o etnomusicólogo Alberto Ikeda, professor aposentado da Universidade Estudual Paulista (Unesp) e membro da Kaapora, e o antropólogo José Maurício Arruti, professor na Universidade Estudual de Campis (Unicamp). Foi uma noite de reflexão, dança, canto e preocupação, mas também esperança.

O que motivou a atividade foi a celebração dos 80 anos da Missão de Pesquisas Folclóricas, promovida por Mário de Andrade em 1938. Essa expedição etnográfica oficial foi pioneira no registro de saberes e fazeres tradicionais do Norte e Nordeste do país. Os membros da missão produziram vídeos preciosos – cujos excertos foram projetados durante o evento – e coletaram objetos, como uma indumentária dos espíritos praiá, do povo indígena Pankararu, que gerou fascinação entre os modernistas.

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Os praiás Pankararu na Unifesp (Foto: Valéria Macedo)

O primeiro convidado a falar foi Alberto Ikeda, especialista em expressões culturais populares do Instituto de Artes da Unesp e curador da exposição atualmente em cartaz no Centro Cultural São Paulo a respeito da Missão de Pesquisas Folclóricas. Ele apresentou o contexto da expedição modernista e salientou a importância de encontros como aquele. Em seguida, Clarice Josivânia da Silva, liderança da Associação Indígena SOS Pankararu, compartilhou com o público as lutas e conquistas de seu povo em São Paulo, onde vivem em maior concentração no Real Parque, no bairro do Morumbi, bem como dispersos em diferentes regiões da região metropolitana de São Paulo. Entre essas conquistas, destaca-se a criação de uma unidade de saúde no Real Parque em que práticas biomédicas coexistem com práticas tradicionais indígenas de cura. Ela também destacou o cuidado com os trajes dos encantados praiás em um local de acesso restrito na associação, de onde saem apenas para alguns rituais da comunidade e apresentações, como esse evento na Unifesp.

Por fim, foi a vez de José Maurício Arruti falar, professor que desenvolve pesquisas com comunidades quilombolas e povos indígenas, entre os quais os Pankararu. Arruti remeteu à história das comunidades indígenas no Nordeste e suas lutas por reconhecimento e direitos, enfatizando suas relações de parentesco e trocas. Tais redes envolvem diversos estados nordestinos e um intenso fluxo de pessoas para o Sudeste, particularmente para a região metropolitana de São Paulo, desde os anos 1940. O Toré foi destacado por Arruti como um complexo ritual largamente compartilhado pelos Pankararu e outros povos nordestinos. Particularmente nos torés Pankararu, os encantados praiá se fazem presentes e dançam com seus trajes.

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Teatro Adamastor Pimentas durante o evento (Ilana Goldstein)

Após as falas, a mesa se desfez e o teatro vibrou ao som do canto e da dança dos encantados Pankararu. Movimentando-se ora em círculos, ora em pares, andando para frente e para trás, portando cocares e trajando as quatro indumentárias de fibra vegetal, que cobrem seu portador dos pés à cabeça, doze homens, mulheres e crianças deram aos presentes uma amostra da força dos praiás. Pedro Pankararé, morador de Guarulhos, cujo povo é aparentado dos Pankararu, veio prestigiar os parentes e participar da apresentação. O encontro foi concluído com uma roda de conversa entre a plateia e os convidados. Questões levantadas por alunos e professores de História da Arte, Letras e Ciências Sociais incluíram temas como museologia e estética, língua indígena e outras linguagens, a vida em São Paulo e suas conexões com as aldeias em Pernambuco, bem como a conjuntura adversa de ataque aos direitos dos povos indígenas.

O relato emocionado de Clarice sobre os incêndios criminosos que atingiram uma escola e um posto de saúde indígena na comunidade Pankararu em Pernambuco, logo após o resultado das eleições, justifica a insegurança crescente e a sensação de desesperança. Mas, como destacou Pedro Pankararé, os povos indígenas vêm lutando há mais de 500 anos e seguirão sobrevivendo e lutando, aconteça o que acontecer.

O encontro foi mais um dos diversos eventos que vem sendo promovidos pela Cátedra Kaapora nos últimos três anos com o objetivo de promover a interlocução acadêmica e não acadêmica, buscando a troca e simetrização de saberes. A ideia é que essa noite de aprendizados e alianças com os povos indígenas seja seguidas de muitas outras.

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Alberto Ikeda, Clarice Pankararu, José Maurício Arruti, Pedro Pankararé e Yanet Aguillera, mediadora da mesa e membro da Kaapora (Foto: Ilana Goldstein)

 

Lido 5919 vezes Última modificação em Quarta, 21 Novembro 2018 10:22

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