Por Matheus Campos
(Imagem ilustrativa)
Nas últimas quatro décadas, estima-se que o número de crianças e adolescentes de até 17 anos com sobrepeso aumentou em 10 vezes no mundo - somente no Brasil, o Ministério da Saúde aponta que a obesidade atinge 13% dos meninos e 10% das meninas nesta faixa etária. De acordo com pesquisa inédita da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), certos alimentos podem agravar esse cenário ao causarem vício alimentar em crianças.
O recente estudo, publicado no periódico científico Appetite e conduzido por Ana Lydia Sawaya, coordenadora do Centro de Recuperação e Educação Nutricional (CREN) e professora da Unifesp, apresentou diagnósticos de 139 crianças, de 9 a 11 anos, com excesso de peso. Todas eram matriculadas em duas escolas públicas de baixa renda da cidade de São Paulo.
A pesquisa contemplou três tipos de alimentos: biscoito, embutidos e refrigerante. O consumo alimentar das crianças foi estimado pelo Questionário de Frequência Alimentar Semi-quantitativa (QSFA) com 88 itens, dos quais: 41 representaram comidas ultraprocessadas; 12 pertenciam à categoria de alimentos processados, e 35 eram alimentos in natura ou minimamente processados. A frequência de consumo foi de uma a dez vezes ao dia, uma vez por semana ou uma vez por mês. Cada grupo de alimentos era representativo de alimentos brasileiros que compunham os componentes nutricionais dos cardápios das escolas.
Os diagnósticos concluíram que 24% das crianças com excesso de peso apresentaram comportamentos ligados à dependência em alimentos ultraprocessados. O vício alimentar está associado ao fato de que a pessoa pode desenvolver padrões de comportamento descontrolados ao consumir substâncias que causam prazer. Alguns dos sintomas são: abandono de atividades devido ao anseio de consumir alguma substância (69% das crianças diagnosticadas apresentaram este sintoma) e abstinência (71% dos casos, o mais prevalente entre os diagnósticos).
“O vício é uma situação de saúde grave porque a criança já perdeu o controle”, reforça Ana Lydia. “O consumo de alimentos ultraprocessados deve ser evitado o máximo possível, sendo preferível alimentos in natura ou minimamente processados”, complementa.
As crianças analisadas na pesquisa passaram por 16 meses de tratamento no Centro de Recuperação e Educação Nutricional, com aconselhamento nutricional e clínico. Os resultados do tratamento estão sendo analisados.