Local onde foram colhidas amostras de sedimentos para o estudo (Foto: Vinícius Mendes)
Num cenário de debate sobre as mudanças climáticas vivenciado atualmente, os métodos que permitem compreender o passado do nosso planeta são fundamentais. Sem compreender o passado, não é possível projetar o futuro. Nesse contexto, os sedimentos depositados no fundo oceânico (areia e lama) funcionam como arquivos que registram as mudanças no clima do passado.
A partir de amostras desse sedimento, denominadas testemunhos, cientistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) conseguiram reconstruir o histórico de chuvas dos últimos 30 mil anos no nordeste brasileiro (i.e., bacia hidrográfica do Parnaíba). O feito só foi possível graças ao desenvolvimento de uma nova metodologia publicada recentemente na revista cientifica Paleoceanography and Paleoclimate. A publicação foi liderada pelo pesquisador Vinícius Ribau Mendes, do Instituto do Mar (IMar), do Campus Baixada Santista da Unifesp.
O novo método consiste na análise da luz emitida pelos cristais de quartzo e feldspato (minerais abundantes nos sedimentos originados no continente) e permite identificar a origem daquele sedimento. “No nosso estudo, foi analisado um testemunho coletado a mais de mil metros de profundidade, próximo à foz do Rio Parnaíba. Nesse testemunho, com 8 metros de comprimento, pudemos recuperar o histórico de chuvas dos últimos 30 mil anos”, comenta o professor Mendes.
A nova metodologia é mais barata, muito mais rápida e produz resultados tão precisos como os métodos tradicionais. "Esse novo método é prático e de custo relativamente baixo. Além disso, ele nos permite fazer inferências climáticas em condições distintas de outros métodos. Como por exemplo, em situações onde a matéria orgânica não foi preservada", explica Mendes.
O caráter inovador da pesquisa chamou a atenção do site de divulgação internacional Earth & Space Science News, produzido pela União Americana de Geofísica (American Geophysical Union - AGU). “Os dados obtidos por essa nova metodologia nos permitem mostrar, por exemplo, que o clima semiárido se instalou na região nordeste do Brasil a partir dos últimos 6 mil anos, corroborando as mudanças na vegetação observada por outros cientistas. Conhecer o passado dessa região assolada pela seca nos permite traçar previsões de forma mais segura”, ele destaca.
Vinícius Mendes coletando amostras de sedimento (Foto: Paulo C. F. Giannini)