Imagem da folha da Ginkgo Biloba: (Forest and Kim Starr https://www.flickr.com/photos/starr-environmental/)
Em busca de alternativas aos medicamentos antidiabéticos convencionais que, além de não se mostrarem totalmente eficazes, também se associam a efeitos adversos importantes, tem sido cada vez maior o número de pesquisas que avaliam a eficácia de compostos bioativos derivados de produtos naturais (como polifenóis) no tratamento ao diabetes mellitus (DM).
Em revisão publicada por pesquisadores da Unifesp, foram analisados dados recentes da literatura sobre a utilização de polifenóis na prevenção e tratamento do DM e de suas complicações. Os compostos bioativos investigados foram: resveratrol, galato de epigalocatequina, genisteína, curcumina e extrato de ginkgo biloba.
Responsável por conduzir o estudo, a nutricionista Maria Fernanda Naufel, doutora em Nutrição e mestre em Pediatria pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), destaca que “esses produtos naturais bioativos possuem efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes, além de ações benéficas ao perfil lipídico e homeostase da glicose. Essas propriedades apontam para um potencial uso destes polifenóis como compostos antidiabéticos, que devem ser associados ao estilo de vida saudável, dieta adequada e possíveis medidas farmacológicas”.
Para que possam ser utilizados de forma correta, contudo, Maria Fernanda ressalta a importância de acompanhamento profissional. “Qualquer composto natural bioativo só deverá ser utilizado sob orientação médica ou de nutricionista. Esse cuidado é fundamental para o sucesso durante seu uso”.
A nutricionista explica em detalhes as propriedades de cada um desses produtos:
Resveratrol
Encontrado em grande número de plantas e produtos dietéticos, como uva (especialmente na casca e sementes), vinho tinto, cacau e amendoim. Devido suas potentes propriedades bioativas, vem sendo usado como composto medicinal natural há mais de 2 mil anos.
“Por apresentar propriedades anti-inflamatórias, antiproliferativas, antiplaquetárias e antioxidantes, se mostrou eficaz na prevenção e tratamento de uma variedade de condições, incluindo diabetes, envelhecimento, obesidade, doenças cardiovasculares, neurológicas, entre outros”, descreve Maria Fernanda.
O comitê da US Food and Drug Administration (FDA, 2017) adicionou o resveratrol à lista de substâncias medicamentosas que podem ser usadas para o tratamento da resistência à insulina em adultos. Contudo, embora estudos não tenham revelado efeitos colaterais graves após a administração oral de grande variedade de doses de resveratrol, até o momento não há uma dose diária recomendada por diretrizes.
Galato de epigalocatequina (EGCG)
“É o principal composto bioativo presente no chá verde. Consumido principalmente na forma de chás e de suplementos alimentares disponíveis no mercado. Embora ainda não estabelecida a dosagem ideal, o consumo diário de EGCG não deve exceder 300mg/dia”, explica a nutricionista.
O chá verde apresenta muitos efeitos benéficos à saúde, incluindo redução da gordura corporal e do colesterol, ações anti-inflamatórias, mudança na composição da microbiota intestinal e melhora da sensibilidade à insulina. Seus compostos bioativos (principalmente o EGCG) são os responsáveis pelos efeitos benéficos do chá verde, e podem atenuar o DM e suas complicações.
Genisteína
Pertence ao subgrupo de flavonoides denominado isoflavonas, sendo encontrada principalmente na família das leguminosas, que inclui a soja e a alfafa. Além de ser investigada como alternativa para terapia de reposição hormonal (devido seu efeito estrogênico), diversas pesquisas evidenciaram a influência benéfica do consumo de genisteína na prevenção de distúrbios metabólicos.
A nutricionista esclarece que “uma correlação inversa da ingestão de genisteína com o risco de desenvolver DM2 vem sendo sugerida por estudos experimentais e epidemiológicos. Ela pode atuar como um composto antidiabético devido suas ações anti-inflamatórias a antioxidantes, somado à sua capacidade de reduzir a ingestão alimentar e ganho ponderal, melhorando o controle glicêmico, o perfil lipídico e reduzindo a resistência insulínica”.
Apesar de ainda não ter sido estipulada sua dose diária, inúmeros ensaios clínicos conduzidos em diferentes patologias utilizaram doses que variam entre 40 e 120 mg/dia, obtendo resultados positivos sem efeitos colaterais importantes.
Curcumina
A cúrcuma (açafrão-da-terra) é membro da família do gengibre, e seu uso medicinal (atribuídos essencialmente à curcumina) na medicina tradicional indiana e chinesa remonta há 4 mil anos.
A curcumina apresenta efeito antioxidante, anti-inflamatório, antiproliferativo, antibacteriano, antineoplásico e antienvelhecimento. Consequentemente, tem potencial terapêutico em doenças como as cardiovasculares, renais e diabetes.
Seu consumo já foi aprovado pela FDA, e o comitê da OMS/FAO determinou ingestão máxima de 3mg/kg de peso/dia.
Extrato de Ginkgo Biloba (EGb)
Obtido das folhas secas da árvore Ginkgo Biloba, é uma das plantas medicinais mais vendidas no Mundo. Sua eficácia, segurança e boa tolerabilidade foram confirmadas em diferentes condições patológicas. No entanto, sua combinação com agentes antiplaquetários não é recomendada. As doses diárias sugeridas variam de 120 a 240mg.
“Os principais efeitos terapêuticos dependem de suas características antioxidantes, anti-inflamatórias, vasodilatadoras e antiedematogênicas, que auxiliam na melhora do DM devido a redução da glicemia e da hemoglobina glicada. Além disso, devido suas propriedades neuroprotetoras, tem sido classicamente utilizado no tratamento de distúrbios neurológicos”, descreve a especialista.
Doença que preocupa no Brasil
De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, o Brasil é o 5° país em termos de incidência, com mais de 16,5 milhões de diabéticos adultos. O excesso de peso, por aumentar a inflamação, o estresse oxidativo e a resistência à insulina são os principais fatores de risco para o DM2.
O diabetes mellitus é uma doença crônica, caracterizada pelo aumento nos níveis de glicose no sangue, que pode levar a sérias complicações nas artérias, no coração, nos olhos, nos rins e nos nervos. Os dois principais tipos de DM são: tipo 1 e tipo 2 (DM2). No tipo 1, que acomete cerca de 5 a 10% do total de diabéticos, o sistema imunológico destrói as células beta, levando à deficiência ou ausência de insulina. No DM2, que representa cerca de 90% dos casos, ocorre produção insuficiente ou resistência à insulina (quando o organismo não utiliza a insulina de forma adequada).