Por Matheus Campos
Em recente estudo publicado pela revista Journal Of Infection, pesquisadores da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) investigaram, durante duas semanas seguidas de março de 2021, a disseminação das variantes da covid-19 em profissionais de saúde e em pacientes hospitalizados atendidos no Hospital São Paulo, hospital universitário (HSP/HU Unifesp). Os resultados indicam que a variante P.1, que emergiu em Manaus, predominou em São Paulo rapidamente em 12 semanas após o primeiro caso, na maior cidade da América do Sul.
As duas principais variantes analisadas, P.1 e P.2, evoluíram da linhagem B.1.1.28 e assumiram o controle desde o final de 2020 no país. A variante P.1 foi detectada pela primeira vez em janeiro de 2021 em viajantes japoneses retornando de Manaus – e foi responsável pela segunda onda no Amazonas no final de novembro de 2020. Em outubro do mesmo ano, a variante P.2 foi relatada no Rio de Janeiro e estima-se que tenha surgido no final de agosto. Ambas as variantes também foram associadas a casos de reinfecção.
O estudo
Entre 1.º a 15 de março de 2021, 60 amostras positivas para Sars-CoV-2 de pacientes e profissionais de saúde foram enviadas para sequenciamento do genoma completo (feito pela Fiocruz). Dessas amostras, o grupo sequenciou 54, das quais 44 (84,4%) foram identificadas como P.1; cinco (9,2%) como P.2; uma (1,9%) como B.1.1.7, e duas (3,8%) B.1.1.28. As variantes mais notáveis que circulam na segunda onda, incluindo a B.1.1.7 (detectada primeiro no Reino Unido), a B.1.1.351 (detectada primeiro na África do Sul), e a P.1, estão relacionadas a um aumento na transmissibilidade.
"Curiosamente, a variante P.1 foi identificada pela primeira vez em Manaus, no estado do Amazonas, a cerca de 3.800 km de distância de São Paulo. É evidente que a variante P.1 prevaleceu durante as duas primeiras semanas de março, mostrando uma distribuição regular entre os infectados, sem diferença em relação à idade, sexo e vacinação", escreveram os cientistas em artigo publicado, que tem a pesquisadora Gabriela Barbosa, do Laboratório de Virologia da Unifesp, como primeira autora.
Na análise, da primeira para a segunda semana de março, foi observado maior frequência da variante P.1 (78,6% e 91,7%, respectivamente).
“Nossos resultados enfatizam que a variante P.1 se espalhou amplamente por todo o país. Apesar de todas as ações de intervenções como uso de máscaras, distanciamento físico, redução de viagens aéreas e o bloqueio atualmente estabelecido em São Paulo, as taxas de frequência de P.1 aumentaram significativamente em duas semanas, evidenciando sua rápida disseminação”, concluíram os pesquisadores.