Sexta, 28 Mai 2021 11:35

Tempo de tela e inversão de sono afetam saúde mental de jovens na pandemia

Estudo da Unifesp identifica relação direta desses fatores com sintomas de depressão e ansiedade

Pessoas utilizando tablets, com destaque para as mãos e dedos tocando a tela
(Imagem ilustrativa)

Na ausência da rotina escolar, jovens estudantes de escolas públicas da Grande São Paulo que passam mais tempo diante de telas e trocam a noite pelo dia apresentam com mais frequência sintomas de depressão e ansiedade na pandemia de covid-19. Os dois comportamentos, ao lado de ser do sexo feminino, foram os fatores mais associados a esses sintomas, segundo estudo recentemente publicado por pesquisadores(as) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O grupo interdisciplinar constatou que estudantes do 9.º ano do ensino fundamental e do ensino médio de escolas públicas estaduais e municipais, localizadas nas periferias dos municípios de São Paulo e Guarulhos, apresentaram triagem positiva em 10,5% para depressão e 47,5% para ansiedade. O critério adotado foi o Inventário de Depressão Infantil e de Ansiedade pelo SCARED (Screen for Child Anxiety Related Emotional Disorders).

“Outros fatores revelaram estar relacionados a esses quadros. Quem avalia que o conhecimento adquirido na escola é importante tende a ter menos sintomas de depressão. Quem teve caso de covid-19 em casa apresentou mais sintomas. Essas tendências também se verificaram em relação à ansiedade, mas testes estatísticos não puderam confirmar efeito consistente”, explica Daniel Arias Vazquez, professor e pesquisador da Unifesp.

O professor também destaca que o artigo evidencia uma falsa dicotomia entre agravamento da saúde mental e volta às aulas em meio à pandemia, bastante presente no debate público. “Se, de um lado, o retorno à rotina escolar reduzirá a exposição às telas e a inversão do sono, amenizando os sintomas de depressão e ansiedade; por outro lado, deve-se ter em mente que a incidência de casos de covid-19 na família também impacta a saúde mental dos estudantes, podendo se tornar um fator ainda mais preponderante com o agravamento da pandemia”, descreve Vazquez.

O estudo envolveu questionário disponibilizado na internet e autopreenchido pelos(as) jovens entre 29 de outubro e 14 de dezembro de 2020, quando as escolas estavam sem aula presencial. Para ter acesso aos(às) estudantes e a autorização formal das escolas e dos pais, a pesquisa contou com o apoio do coletivo Brigada pela Vida, que congrega diferentes setores do movimento de educação e saúde, com participação de professores(as) e diretores(as) das escolas.

A equipe da Unifesp responsável pelo artigo Vida sem Escola e a saúde mental dos estudantes de escolas públicas durante a pandemia de Covid-19, publicado como preprint pela plataforma Scielo, é multidisciplinar e intercampi. São autores(as) do estudo os(as) professores(as) Daniel Vazquez, Sheila Caetano, Rogerio Schlegel, Elaine Lourenço, Ana Nemi, Andrea Slemian e Zila Sanchez, especialistas em educação, psiquiatria, políticas públicas e epidemiologia, oriundos(as) dos departamentos de Ciências Sociais, História, Psiquiatria e Medicina Preventiva da Unifesp.

Lido 9036 vezes Última modificação em Quinta, 18 Abril 2024 14:41

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