Segunda, 19 Julho 2021 09:16

Projeto de pesquisa realiza expedições em cavernas de Minas Gerais

Trabalho paleontológico é vice-coordenado por docente do ICAQF/Unifesp; fósseis revelam que local foi banhado pelo mar

Por Daniel Patini

Pesquisadores com capacetes iluminados analisam fósseis dentro da caverna
Viviane Leite, estudante de Ciências Ambientais, participou da expedição e desenvolve os experimentos com tapetes microbianos (Foto: Fernanda Quaglio)

Aprovado em 2020 pela Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), o projeto de pesquisa Desvendando o patrimônio espeleológico do extremo sul do Grupo Vazante (Coromandel - MG) tem realizado expedições com o objetivo de caracterizar e mapear as cavernas dessa região de Minas Gerais. Ele é coordenado por Marco Delinardo, especialista em Geologia Estrutural e professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), e vice-coordenado por Fernanda Quaglio, especialista em Paleontologia e professora do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva (DEBE) do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) - Campus Diadema.

Quaglio explica que, em 2015 – ano em que ainda era docente na UFU –, seus alunos de graduação encontraram estruturas curiosas em uma das cavernas na região de Coromandel, as quais foram identificadas como estromatólitos. "Esses são fósseis de construções carbonáticas induzidas pelo metabolismo de micro-organismos, que ocorrem na forma de tapetes microbianos formados principalmente por cianobactérias. Os estromatólitos existem há mais de 2,3 bilhões de anos e formas viventes ocorrem restritas em ambientes hipersalinos em algumas regiões do mundo, inclusive no Brasil, como na Lagoa Salgada e Lagoa Vermelha no RJ", exemplifica a docente.

Segundo ela, como é muito raro preservar os micro-organismos, e a construção carbonática é facilmente identificada a olho nu, o registro fossilífero dos estromatólitos é uma evidência de fácil reconhecimento nessas rochas mais antigas, quando eram muito abundantes e representavam as únicas formas de vida no planeta. "Atualmente, uma aluna do curso de Ciências Ambientais da Unifesp está desenvolvendo um projeto experimental de Iniciação Científica sob minha orientação que simula a influência de tapetes microbianos na preservação de estruturas sedimentares", explica.

Laminações das colunas estromatolíticas foram identificadas nas cavernas
Laminações das colunas estromatolíticas foram identificadas nas cavernas (Foto: Fernanda Quaglio)

Local já foi banhado por um extenso mar raso

De acordo com a professora, a região mais ao norte de Coromandel, em Vazante, Paracatu e Unaí, é relativamente bem caracterizada do ponto de vista espeleológico – ou seja, é constituída por formações como grutas e cavernas – e pela presença dos estromatólitos. No entanto, em Coromandel, as pesquisas são incipientes, sendo que o conhecimento limita-se apenas às cavidades cadastradas pelo Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas (CANIE) e Cadastro Nacional de Cavernas, mantido pela SBE.

Do ponto de vista geológico, ela continua, a área está associada à Faixa de Dobramentos Brasília, uma região de história geológica complexa, relacionada à formação do Supercontinente Gondwana e soerguimento de montanhas. Isso significa dizer que a região se encontra na transição entre o que foi uma bacia sedimentar no passado e uma área de soerguimento de montanhas. Coromandel está na borda de ocorrência de rochas denominadas Grupo Vazante, mais especificamente, o topo da Formação Lagamar, com idades calculadas em cerca de 1 bilhão de anos atrás. Nessa época da história geológica do nosso planeta, os organismos eram em sua maioria unicelulares, com poucas evidências de organismos multicelulares ou com reprodução sexuada. Formas complexas de vida, com diferenciação de tecido, vieram centenas de milhões de anos depois. Assim, os estromatólitos são a principal evidência de vida até então.

"Esse registro fossilífero marca o início de um dos intervalos de tempo de grandes inovações macroevolutivas que ocorreriam cerca de 500 milhões de anos depois da existência desses estromatólitos do Vazante. Por estar na borda de ocorrência das rochas, esses fósseis podem indicar diferenças ambientais importantes relacionadas ao paleoambiente do topo do Grupo Vazante e nos ajudar a entender como era a fisiografia e o ambiente costeiro ao longo de uma faixa que se estende hoje pelo Estado de Minas Gerais, de Coromandel a Unaí. Sim, naquela época, a região era banhada por um extenso mar raso!", revela.

Entrada da Gruta do Ronan
Entrada da Gruta do Ronan (Foto: Mardem Melo Silvia)

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