Por Matheus Campos
(Imagem ilustrativa)
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), mais de 12 mil crianças e adolescentes são diagnosticadas com câncer anualmente no Brasil. Hoje, 80% dessa população acometida pela doença pode ser curada se houver diagnóstico precoce. Com tratamento adequado, a maioria terá qualidade de vida ao sobreviver à doença.
Pesquisadores e médicos de diversas áreas da saúde oncológica debatem sobre as melhores formas para um tratamento pós-câncer. Uma abordagem recente foi levantada por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): um estudo, publicado no periódico Journal of Adolescent and Young Adult Oncology, avaliou as características da ingestão alimentar em crianças e adolescentes sobreviventes de câncer no Brasil. De acordo com a pesquisa, doenças como obesidade, identificadas nessas crianças, foram associadas às dietas realizadas em tratamento prévio.
A pesquisa
O estudo analisou características nutricionais de 77 crianças e adolescentes sobreviventes de câncer com até 18 anos de idade. A ingestão alimentar dos pacientes foi avaliada utilizando o recall de 24 horas - uma ferramenta de avaliação dietética que consiste em entrevistas nas quais os participantes são solicitados a recordar todos os alimentos e bebidas que consumiram nas 24 horas anteriores.
Os resultados da análise demonstraram que há um desequilíbrio na qualidade dos lipídios e baixo consumo de micronutrientes nos sobreviventes de câncer infantil, demonstrando que a qualidade da dieta é ruim. A ingestão média diária de algumas vitaminas e minerais ficou abaixo dos níveis recomendados para todos os sexos e faixas etárias, com valores abaixo de 50% de adequação.
“Isso favorece o desenvolvimento não apenas da obesidade, mas também de outras doenças crônicas, e potencialmente predispõe esses pacientes a cânceres secundários”, explica Júlia Teixeira, pesquisadora do Departamento de Biociências do Instituto de Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) - Campus Baixada Santista da Unifesp, que conduziu a pesquisa.
O Ministério da Saúde estima que 33% das crianças entre 5 a 9 anos, hoje, já estejam acima do peso. De acordo com informações contidas nas Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE 2008-2009, o índice de meninos obesos alcança 16,6% e dentre as meninas a taxa chega a 11,8%. Não há uma estatística precisa sobre quantas dessas crianças e adolescentes são sobreviventes de câncer, mas de acordo com Júlia, “a pesquisa científica é um dos passos para reexaminar comportamentos de saúde que podem modificar e reduzir o risco de sobrepeso e obesidade”.
O estudo reforça que estratégias de monitoramento nutricional para sobreviventes de câncer infantil devem ser incentivadas devido à sua vulnerabilidade. Trata-se de um pilar para ajudar a entender, prevenir ou minimizar problemas de saúde pública.