Por Lauren Steffen
Projeto do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT/Unifesp) - Campus São José dos Campos visa ao desenvolvimento de próteses externas de mama personalizadas para mulheres mastectomizadas que não têm recurso financeiro para colocar um implante ou para aquelas que não têm pele suficiente devido ao tratamento do câncer de mama com radioterapia. Ele é coordenado pela professora Maria Elizete Kunkel e utilizará as mesmas tecnologias e recursos do programa de extensão Mao3D, que desenvolve próteses de membros superiores por meio de impressão 3D desde 2015.
O projeto começou com a dissertação, defendida em julho de 2021, da engenheira biomédica Flávia Cristina Nogueira de Paula, aluna do Programa de Mestrado Profissional Interdisciplinar em Inovação Tecnológica (PIT) do ICT/Unifesp. A pesquisa teve como objetivos realizar um ciclo de prototipagem de próteses personalizadas externas de mama em silicone e criar um protocolo para a produção das próteses por planejamento virtual com um bom custo-benefício. Devido à pandemia, a parte experimental da pesquisa não pôde ser feita por meio de atendimentos presenciais. Assim, foi utilizado um tronco de uma manequim para fazer a aquisição do modelo e os protótipos.
Flávia desenvolveu dois tipos de prótese durante sua pesquisa de mestrado: uma prótese de silicone, com aparência similar à da mama, cujo molde é feito por impressão 3D. A ideia é que essa prótese, feita com silicone pigmentado, seja utilizada como um adesivo grudado na pele, diretamente na parede torácica da mulher que perdeu a mama. O outro modelo de prótese, descrito na literatura e desenvolvido na Austrália, é uma prótese produzida diretamente na impressora 3D. Flávia não se aprofundou nesse segundo modelo, criando somente um protótipo inicial.
A professora Maria Elizete Kunkel explica que o grupo está dando continuidade à pesquisa para aprimorar os protocolos. “Em uma pesquisa de iniciação científica, vamos fazer com que as próteses por impressão 3D fiquem com uma aparência mais aproximada, em questão de textura, da mama real. Já temos os sutiãs que vão ser usados como protótipos. Também vamos criar um perfil no Instagram para mostrar o passo a passo do projeto”, conta a professora.
Processo de produção do molde de uma prótese personalizada externa de mama
A pesquisa de mestrado de Flávia faz parte do Programa Gendered Design in STEAM (GDS), financiado pelo International Development Research Centre (IDRC) do Canadá. O nome do projeto é 3D printing technology to promote social inclusion of mutilated women in low and middle-income countries. “O Canadá lançou um edital de financiamento de projetos para o mundo inteiro. Desse edital, 25 projetos foram aprovados. No final de 2019, saíram os projetos aprovados. Recebemos cerca de 200 mil reais para executar o projeto. Esse edital canadense se relaciona com o uso da impressão 3D para desenvolver protótipos a fim de auxiliar mulheres mutiladas, seja por agressão física, seja por cirurgia após um câncer de mama ou por acidente”, explica a coordenadora do projeto. O projeto do Canadá inclui o Mao3D e o desenvolvimento das próteses externas das mamas. Ainda há previsão de outros projetos, como a elaboração de próteses de parte da face.
Nesse projeto, o Canadá exige que 90% da equipe seja composta por mulheres, já que o objetivo é desenvolver mulheres com capacidade de estudar as questões de gênero a partir do uso da tecnologia. “Nesse projeto financiado pelo Canadá, foi feita uma cooperação com a Universidade Estadual de Londrina, porque era necessário o envolvimento de duas universidades. Em Londrina, o projeto é coordenado pelo professor Felipe Moura, do curso de Educação Física. Eles vão usar nossos modelos, e nós já estamos fazendo um treinamento. Eles vão testar o desempenho do uso das próteses em mulheres praticando atividades físicas, como caminhada, corrida”, sinaliza a professora.
A ideia é que a Unifesp possa disponibilizar próteses de mama para mulheres mastectomizadas de forma contínua, como já é feito com as próteses do Mao3D. Para o projeto com financiamento canadense, será feita uma pesquisa com um grupo de estudo composto por cerca de 15 mulheres, que vão utilizar essas próteses e avaliar como foi seu uso. Os pesquisadores ainda estão trabalhando na finalização dos protótipos e estão aguardando para chamar as mulheres para o teste em função da pandemia.
No Brasil, ainda são muito limitadas as opções de próteses externas de mama e existem poucas pesquisas nessa área. Segundo a professora Maria Elizete, “fora do Brasil, as mulheres usam próteses de silicone fixadas na pele com adesivo e, aqui no Brasil, ninguém usa esse tipo de prótese, não se sabe o motivo. É possível fazer, não está fora da realidade. Nosso objetivo é desenvolver uma prótese que tenha uma boa funcionalidade, que seja fácil de fazer e de produzir a partir da tecnologia virtual e que, principalmente, seja acessível a mulheres que passaram por mastectomia”.