Segunda, 27 Dezembro 2021 17:36

Falta de apoio familiar desencoraja revelação e denúncia de abuso sexual

Pesquisa do PPG em Saúde Coletiva foi realizada entre estudantes da universidade

Por Valquíria Carnaúba

Uma pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo relevou que quase 10% dos estudantes da graduação já foram vítimas de violência sexual em algum momento da vida. Foram avaliados 858 estudantes, nos anos de 2016 e 2017, dos cursos de Medicina, Enfermagem, Fonoaudiologia e Biomedicina da Unifesp, entre 17 e 24 anos.

Conduzida pela pediatra Flávia Calanca da Silva, a pesquisa investigou o motivo principal da relutância das vítimas em revelar e denunciar os abusos. Para tanto, era crucial estabelecer contato com pessoas que nunca haviam revelado isso a ninguém. "Optamos por jovens adultos, pois a memória de fatos marcantes da infância e adolescência é mais acessível, há maior maturidade emocional para tratar de fatos traumáticos, e não dependem da assinatura de termos de consentimento pelos responsáveis", explica.

O estudo possui dados coletados com o aporte de instrumentos consolidados de avaliação de idade, sexo, nível socioeconômico, comportamento sexual e exposição a eventos traumatizantes, como os questionários QUESI e WHOQOL.

De acordo com Calanca, dos 26 relatos de situações de abuso perpetradas por conhecidos das vítimas, 15,4% nunca foram revelados. Para 19,2%, a revelação ocorreu quando o abuso já tinha cessado, 30,8% foram reveladas e/ou detectadas e o abuso cessou; e em 34,6% dos episódios, apesar da revelação ou detecção, a vítima continuou sendo molestada pelo agressor e nada foi feito.

A pesquisadora constatou que, entre as vítimas de abuso, o percentual de estudantes desfavorecidos economicamente era maior, bem como o número de pessoas com maior propensão a depressão, gravidez precoce e abuso de sedativos. O estudo contou ainda com relatos detalhados para compreensão do tema.

Conforme lembra a pesquisadora, há inúmeros caminhos para levar em frente uma denúncia de abuso sexual em São Paulo e receber suporte, como a Delegacia da Mulher, o Hospital Pérola Bygton e o Programa de Atendimento a Violência e Estresse Pós-Traumático (Prove/Unifesp). Contudo, é bom se atentar a cada caso, pois as mulheres não são as únicas vítimas desse tipo de crime e, infelizmente, os perpretadores costumam ser da própria rede de apoio dos familiares. "A educação sexual continuada poderia ter efeitos muito positivos no Brasil, que é o que ocorre em países como a Suíça. Por meio de diversas dinâmicas, são abordados desde a infância tópicos como toques permitidos e aproximação saudável", finaliza.

 

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Fonte: pesquisa Violência sexual: por que não revelar? Disponível no Repositório da Unifesp

 

Lido 4942 vezes Última modificação em Terça, 02 Abril 2024 14:05

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