Por Daniel Patini
A residência multiprofissional é uma pós-graduação lato sensu, destinada a profissões que são ou dialogam com a área da saúde – Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Física, Fonoaudiologia, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional –, sob a forma de curso de especialização caracterizado por ensino em serviço, reunindo teoria e prática. Segundo dados da Comissão de Residência Multiprofissional (Coremu) da Unifesp, referentes aos anos de 2010 a 2020, mais de 1.400 residentes multiprofissionais já se formaram pela universidade.
A docente Ana Paula Dias França Guareschi coordena os programas de Residências Multiprofissionais da Coremu/Unifesp
"A residência multiprofissional é uma modalidade de ensino em serviço, desenvolvida a partir da cooperação entre a Academia, gestores(as) locais e serviços de saúde. Com isso, possibilita uma formação na perspectiva interdisciplinar e a aquisição das competências esperadas do(a) profissional da área da saúde", relata a professora Ana Paula Dias França Guareschi, coordenadora dos programas de Residências Multiprofissionais da Coremu.
Atuação no Hospital São Paulo, hospital-escola da Unifesp
Guareschi explica que, "dos 16 programas vigentes na Coremu, 13 utilizam o Hospital São Paulo (HSP/HU Unifesp) como campo de prática, devido ao seu grande potencial de hospital-escola, que oportuniza a articulação entre a Academia e assistência, possibilitando que o residente vivencie a aplicação dos saberes teórico-práticos em diferentes cenários de complexidade, com abordagem clínica e gerencial. É um hospital de referência na cidade de São Paulo, com atendimento à população que busca qualidade e segurança nos serviços de saúde”.
Os(as) residentes são, em sua maioria, do Estado de São Paulo, mas há pessoas oriundas de estados de todas as regiões brasileiras. Uma delas é a enfermeira Mayara Mota Araujo, formada recentemente em Enfermagem Neonatológica. Ela veio de Teresópolis (RJ) especificamente para estudar na Unifesp, por oferecer a especialidade que sempre desejou e por conta de seu reconhecimento em ensino e pesquisa e pela qualidade dos(as) docentes.
Mayara saiu de Teresópolis (RJ) para se especializar em Enfermagem Neonatológica
"Com essa especialização, consegui aprender de diversas formas, pois além de uma teoria atual e reconhecida, ela também pôde dar uma prática real. A gente via o que realmente acontecia no próprio cenário, e eu conseguia atuar de forma direta. Essa junção entre teoria intensa com a prática proporcionou essa profissional que sou hoje", ela constata. "Durante dois anos, estive atuando com uma equipe multiprofissional e com os(as) recém-nascidos(as). Isso acaba trazendo uma experiência como pessoa. A gente não aprende só a prestar assistência ao(à) recém-nascido(a) e à família, também acaba aprendendo a saber lidar com uma equipe", complementa.
A prática no dia a dia
Como resultado da aprendizagem obtida na prática dentro da UTI Neonatal do hospital-escola, Araujo destaca: "a gente precisa ver que não é só o(a) bebê, mas também aquela família que está todo dia ali e que precisa também desse aconchego, porque, às vezes, não necessariamente, eles(as) encontram isso. A gente precisa acolher essa família, senão o(a) próprio(a) bebê acaba sentindo. Ele(a) sente a presença dos pais, o que é muito importante para o seu crescimento e desenvolvimento".
Vindo do Maranhão, estado da Região Nordeste do país, está Gabriel Caetano dos Santos Alves, assistente social e residente multiprofissional do segundo ano em Oncologia, que sempre pensou em atuar em uma área que pudesse aproximar as pessoas de seus direitos. Sobre a junção dessas duas áreas, ele lembra que pensar em um atendimento qualificado para o(a) usuário(a) com uma doença como o câncer é pensar em políticas, programas, projetos e legislações muito específicos.
O maranhense Gabriel está em seu segundo ano de Residência Multiprofissional em Oncologia
Segundo ele, o processo da residência permite conhecer e saber ler o prontuário, saber ler o resultado de um exame de forma adequada, para qualificar o seu trabalho de assistente social. "Para eu orientar adequadamente o(a) meu/minha usuário(a), que tem uma doença oncológica, eu preciso saber, necessariamente, o mínimo sobre como essa doença se comporta, saber ler o estadiamento do câncer no(a) paciente [processo para determinar a localização e a extensão do câncer presente no corpo de uma pessoa], pois alguns benefícios socioassistenciais dependem dessas informações, e saber ler uma biópsia", exemplifica.
Como diferencial do hospital-escola em sua formação, Alves aponta que "o Hospital São Paulo, enquanto um Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon), permite conhecer diversas patologias e cânceres, muitas vezes raros, e a equipe não só trata, mas incentiva muito a pesquisa e a produção de conhecimento referente a essas patologias. A gente consegue desenvolver um bom trabalho de ensino, pesquisa e extensão para além dos muros do hospital; conhecer, de fato, o(a) paciente e pensar em um plano avançado de cuidados, um plano individual de cuidados com professores(as) que estão nessa discussão a um certo tempo".
Tutoria e preceptoria
E quem acompanha a atuação de um(a) residente multiprofissional? Para isso, existem a tutoria e a preceptoria. Como explica a fonoaudióloga Isabella Christina Oliveira Neto, preceptora e tutora da Residência Multiprofissional em Saúde, "preceptor(a) é aquele(a) que recebe o(a) aluno(a) e discute os casos, inclusive à beira-leito, acompanhando o atendimento dos(as) pacientes. Já o(a) tutor(a) é o(a) responsável pelo planejamento pedagógico do conhecimento que será apresentado ao(à) aluno(a) residente".
Isabella é preceptora e tutora dos(as) estudantes da Residência Multiprofissional em Saúde
Ainda de acordo com ela, o trabalho do(a) residente vai depender conforme seu nível de experiência. "A gente tem tarefas específicas para os(as) estudantes do primeiro [R1] e segundo [R2] anos; os procedimentos mais complexos ficam sob responsabilidade do(a) aluno(a) R2; o(a) R1 nunca atende sozinho(a). Ou atende com um(a) R2 junto ou com o(a) preceptor(a). Já o(a) aluno(a) R2 tem autorização para atender sozinho(a), mas vai discutir todos os casos com o(a) preceptor(a). O(A) residente vai ganhando autonomia ao longo do tempo", detalha Oliveira.
Sobre a relação dos(as) pacientes com os(as) residentes, a fonoaudióloga diz que eles(as) se vinculam, de fato, ao(à) estudante que está prestando o atendimento. "O aprendizado obtido dentro de um hospital-escola é fundamental, porque somente com essa experiência os(as) alunos(as) vão se tornar profissionais aptos(as) e seguros(as), com conhecimento, habilidade e com o treinamento necessário. O(A) nosso(a) paciente se sente seguro(a), pois acompanha as supervisões, a evolução; tudo é explicado, cada procedimento que vai ser realizado é explicado", garante.
Saiba mais sobre a residência multiprofissional da Unifesp
A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) oferece 16 programas de Residência Multiprofissional em Saúde e em Área Profissional de Saúde da Unifesp, sendo ofertadas 195 vagas ao todo (dado referente ao processo seletivo de 2022):
- Áreas da Residência Multiprofissional em Saúde: Cardiologia, Cuidados Intensivos de Adultos, Distúrbios Respiratórios Clínicos e Cirúrgicos, Envelhecimento, Neurologia e Neurocirurgia, Oncologia, Oncologia Pediátrica, Ortopedia e Traumatologia, Rede de Atenção Psicossocial, Saúde da Criança e do Adolescente, Saúde Mental, Transplante e Captação de Órgãos e Urgência e Emergência.
- Áreas da Residência em Área Profissional de Saúde: Enfermagem Neonatológica, Enfermagem Obstétrica e Física Médica.
O período de duração dos programas é de dois anos, com carga horária de 60 horas semanais e 5.760 horas totais. O valor atual da bolsa recebida pelos(as) estudantes é de R$ 4.106,09 mensais. Outras informações estão disponíveis no site da Coremu.
Fotos: Alex Reipert
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