Quinta, 08 Setembro 2022 09:33

Bem-estar humano e do meio ambiente caminham de forma integrada, relata estudo de pesquisadores(as) da Unifesp

Pesquisadores(as) do Brasil e do Reino Unido publicaram artigo sobre como ações podem influenciar na qualidade de vida da sociedade

Por Alexandre Milanetti

Mãos de duas pessoas segurando uma muda de árvore
(Imagem ilustrativa)

Um grupo de 12 pesquisadores(as) do Brasil e do Reino Unido, incluindo professores(as) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - Campus Baixada Santista, publicou um artigo no periódico Frontiers in Psychology. A publicação traz contribuições para as discussões sobre as ações e pesquisas locais alinhadas às demandas globais e como elas podem influenciar na qualidade de vida da sociedade e nas políticas públicas. A publicação foi um importante passo de integração entre profissionais das mais diversas áreas, que irá embasar novas pesquisas dessa parceria multissetorial e multinacional.

O artigo, que tem entre os(as) autores(as) pesquisadores(as) e profissionais de organizações da sociedade civil brasileira (Fundação SOS Mata Atlântica, Fundação Grupo Boticário e Hospital Israelita Albert Einstein) e de instituições públicas de ensino superior do Brasil (Unifesp e Universidade de São Paulo - USP) e do Reino Unido (Bangor University, do País de Gales), apresenta as perspectivas para a produção científica que responda às demandas assumidas em agendas internacionais, nacionais e locais.

“Esta publicação é resultado da soma de vários caminhos e prioridades institucionais e globais. Os temas - a escolha da integração das agendas de Década do Oceano e Saúde Única -surgiram da parceria entre Unifesp e Bangor University, em uma visita técnica que recebemos da doutora Patricia Masterson [primeira autora], que veio visitar a Unifesp em 2018. Ou seja, de uma ação de internacionalização, neste caso de uma parceria sustentável de dez anos entre Unifesp e Bangor University, surgiu a ideia do artigo”, explica Ronaldo Christofoletti, pesquisador do Instituto do Mar (IMar/Unifesp) - Campus Baixada Santista e membro do Comitê Brasileiro de Assessoramento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) para a Década do Oceano.

Emanuela Mattos, terapeuta ocupacional e coordenadora do Observatório Temático de Envelhecimento do Instituto Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) - Campus Baixada Santista, que também assina o artigo, destaca que, para melhorarmos a qualidade de vida da sociedade brasileira, este artigo aborda a integração de diferentes desafios. A pesquisadora e Christofoletti citam quatro destes desafios em forma de questionamentos: “Como a saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente estão conectadas?; “Como o oceano, que cobre 70% do nosso planeta, se relaciona com o bem-estar humano?; Como pesquisadores e profissionais de outros setores da sociedade das áreas da saúde, meio ambiente, ciências sociais e comunicação podem atuar juntos para esta construção?; e Como estas oportunidades de integração ocorrem de forma sinérgica em países que vivem diferentes realidades socioeconômicas e culturais?”.

Após as perguntas, ambos(as) docentes da Unifesp convergem para uma resposta, em que o resultado de seu estudo enquanto pesquisadores(as) do Instituto do Mar e do Instituto Saúde e Sociedade mostra como o bem-estar humano e o do meio ambiente caminham de forma integrada.

Em relação à construção do artigo, o professor Christofoletti lembra que, no caso da Unifesp, trabalhar essas agendas de forma integrada trouxe a oportunidade de que colegas do ISS e IMar atuassem juntos. “Tivemos também discussões iniciais com colegas da EPE [Escola Paulista de Enfermagem], com os passos seguintes do paper sendo construídos também em parceria com a Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp). Após pensar a ideia, trabalhamos o desenho da transdisciplinaridade, convidando colegas e também expandindo para outras instituições brasileiras. Quanto maior a diversidade de profissionais, melhor seria o resultado”, analisa o pesquisador.

Quando questionado sobre o que o artigo publicado na Frontiers sugere tanto para os indivíduos como para o poder público e governos, em termos de incentivo a essas práticas integrativas com o meio ambiente, o professor do IMar opina: “mudar comportamentos é um desafio. A pandemia nos mostrou isso, e até o uso das máscaras foi desafiador. Nas últimas décadas, o modelo de desenvolvimento econômico priorizou um entendimento do meio ambiente 'a serviço do homem' e, por isso, exploramos de forma não sustentável. Basta ver a quantidade de impactos existentes em ambientes terrestres, de água doce e marinho. Agora, cresce o conhecimento sobre a nossa associação direta com o ambiente e sobre como podemos nos beneficiar economicamente, culturalmente, socialmente e em termos de saúde com ambientes saudáveis. Caminhamos e nos fortalecemos para o desenvolvimento sustentável. Para que essa mudança de comportamento ocorra, precisamos trabalhar mais a relação com a sociedade, a comunicação, a sensibilização e o convite para que as pessoas compreendam, na prática, esses benefícios e ações e se envolvam em processos de ciência cidadã, contribuindo com a ciência”.

Em relação à mesma pergunta, Emanuela diz que, em sua leitura, “falta investimento em educação no sentido de conhecimento a respeito dos desdobramentos das ações e escolhas coletivas”. A professora do ISS acredita que a publicação traz também uma perspectiva ampliada do que é saúde a partir da Agenda 2030 e convida para as parcerias interssetoriais e transdisciplinares para que se possa chegar a uma proposta plausível de ser aplicada nos diversos contextos e culturas.

Sobre o processo de desconexão da humanidade com o meio ambiente, ela acredita que teve início com o capitalismo. “Os dados são imensos e têm impactos diretos, mais perceptíveis na saúde física, emocional e fisiológica, na forma como as relações vão se construindo, e impactos indiretos, que são mais invisíveis e difíceis para a população em geral conseguir compreender e que também afetam a saúde individual, coletiva, a qualidade de vida e bem-estar de todos os seres vivos e sua interrelação”, completa Emanuela.

Sobre o mesmo aspecto, Christofoletti atribui que esse processo ocorreu “no momento em que se passou a entender o meio ambiente como um produto que está aí para nos servir e, especificamente sobre o oceano, com a falta de ensino sobre este tema, com o pensamento que, por ele ser tão grande, sozinho se regenera”. O pesquisador destaca ainda que “o tempo provou que estávamos errados. O meio ambiente não está aqui para nos servir e nem mesmo é autossuficiente. Ele consegue se autorregular com um uso consciente e sustentável. E ele não está e nem nunca esteve como uma fonte para a sociedade humana. Nós, como seres humanos, somos mais uma espécie neste ambiente. Temos que compreender nossa relação com as demais espécies e ambientes e respeitar. Não somos melhores para explorar da forma que quisermos. Os impactos ambientais se revertem em problemas de saúde, econômicos e sociais, o que é um resultado desta leitura errada de uso dos recursos naturais”.

O professor da Unifesp informa que o estudo publicado no último mês de abril na Frontiers in Psychology é alinhado com uma demanda clara e iminente da sociedade para pesquisas socialmente referenciadas e que respondam às demandas sociais atuais, tema inclusive de um evento realizado pela Fundação de Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e outras agências no último mês de março (veja neste link).

Sobre os desdobramentos do artigo internacional, a terapeuta ocupacional Emanuela aponta para uma importante linha de pesquisa: “o impacto do ambiente na qualidade de vida e no bem-estar das pessoas com demência, seus cuidadores e família”. Já Christofoletti pensa que “esta é uma primeira contribuição, mas certamente, desta publicação, outras pesquisas nas áreas sociais, ambientais, da saúde e interdisciplinares vão emergir em breve”.

 

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