Sexta, 10 Fevereiro 2023 09:35

Desnutrição aguda segue fazendo vítimas na Terra Yanomami

Nutróloga da Unifesp explica gravidade da situação; mais de 50 crianças seguem internadas com quadro grave de desnutrição

Por Denis Dana

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No domingo, 5/2, a desnutrição fez mais uma vítima na comunidade Yanomami. Um bebê de um ano e cinco meses não resistiu ao quadro grave de desnutrição, desidratação e problemas respiratórios. No hospital infantil de Roraima, em Boa Vista, há 58 crianças internadas, quatro delas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com graves sequelas em razão do desequilíbrio nutricional.

“Quanto mais grave for o quadro de desnutrição, mais a criança fica sujeita às infecções por qualquer causa, elevando potencialmente o risco de morte, como essas que, infelizmente, temos acompanhado em Roraima, com o povo Yanomami”, destaca Maria Paula de Albuquerque, pediatra e nutróloga do Departamento de Fisiologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp).

De acordo com Maria Paula, “são casos de desnutrição aguda, que traz como sinais, além da magreza intensa e peso muito abaixo do ideal para aquela idade, importante alteração metabólica. O organismo entra na luta pela sobrevida, com redução da taxa de metabolismo, uma forma adaptativa de reduzir o gasto de energia. O fluxo sanguíneo passa a ser priorizado para os órgãos considerados nobres, como cérebro e coração, em detrimento da vascularização para tecidos como pele e intestino, o que a torna mais vulnerável para o surgimento de infecções paralelas que podem ser respiratórias, intestinais, cutâneas, todas extremamente graves pelo fato de a criança já estar com seu sistema imunológico comprometido”.

Ao comparar com a desnutrição crônica, outro problema que desafia o Brasil, sendo um forte marcador de pobreza e diretamente associada à carência de micronutrientes, com sequelas no desenvolvimento cognitivo, a médica da EPM/Unifesp destaca que, “apesar de ambas serem gravíssimas, a desnutrição aguda, que tem acometido as crianças yanomami, eleva até dez vezes o risco de morte por doenças evitáveis como diarreia ou pneumonia. Em caso de sobrevivência, ainda existe riscos de serem acometidas por doenças crônicas não transmissíveis na adolescência e, inclusive, na vida adulta”.

Em Roraima, o trabalho de resgate do povo Yanomami segue e, para as crianças resgatadas, Maria Paula de Albuquerque alerta sobre a necessidade de tratamento diferenciado. “É preciso manejo clínico específico. Não se pode abordar as crianças com desnutrição grave da mesma forma que se aborda uma criança não desnutrida com infecção. A alimentação deve ser cautelosa, junto com um trabalho de identificação e tratamento das infecções, muitas vezes ocultas. A recuperação nutricional também precisa acontecer de forma gradual e monitorada após a correção dos distúrbios metabólicos que essas crianças apresentam, o que deve acontecer inicialmente no ambiente hospitalar para as crianças em situação clínica mais grave, por equipe treinada e seguindo protocolos já estabelecidos pelo Ministério da Saúde”, conclui a especialista.

 

Lido 2318 vezes Última modificação em Terça, 02 Abril 2024 13:33

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