Quarta, 29 Mai 2024 10:07

Estudo de professora da Unifesp aponta que 750 mil mortes ligadas a bactérias resistentes a antibióticos poderiam ser evitadas

Mão de cientista com luva transparente manipulando culturas de bactérias em laboratório em placas de Petri Mão de cientista com luva transparente manipulando culturas de bactérias em laboratório em placas de Petri

Pesquisa destaca medidas para reduzir mortes por resistência bacteriana a antibióticos

Por Ligia Gabrielli

Mão de cientista com luva transparente manipulando culturas de bactérias em laboratório em placas de Petri
(Imagem ilustrativa)

Um novo estudo divulgado pela revista científica The Lancet, um dos principais veículos científicos do meio médico, traz à luz soluções em resposta a uma preocupação crescente: o aumento da mortalidade humana associada à resistência de bactérias a antibióticos. A série de estudos, que contou com a participação de Ana Cristina Gales, professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, relaciona ações simples em resposta a um cenário no qual cerca de 7,7 milhões de vidas são perdidas anualmente devido a infecções bacterianas, das quais 1,27 milhão estão ligadas à resistência aos antibióticos.

Por Ligia GabrielliSegundo a professora coautora do estudo, a vacinação e o acesso a saneamento básico, entre outras medidas acessíveis à população geral, têm o potencial de evitar aproximadamente 750 mil dessas mortes. “Estratégias como a vacinação contra agentes infecciosos podem prevenir hospitalizações e, consequentemente, agravamentos que levam ao uso de antibióticos”, destaca a especialista.

As populações mais vulneráveis, incluindo crianças, idosos e imunocomprometidos, são as mais afetadas pela resistência bacteriana. A imunização contra doenças respiratórias, como a gripe, e contra bactérias pneumocócicas, entram como dispositivos eficazes no combate a esse tipo de infecção, em conjunto com melhorias no saneamento básico e acesso à água potável, potencialmente eficientes na redução da mortalidade por bactérias resistentes.

Expandindo soluções comprovadas e melhorando o acesso às necessidades básicas para evitar que as pessoas fiquem doentes, podemos salvar mais de 750 mil pessoas a cada ano de mortes relacionadas à resistência antimicrobiana. Estima-se que adesão às medidas de prevenção e controle de infecções em instituições de saúde reduziria 337 mil mortes, acesso à água e saneamento básico reduziria 247,8 mil mortes e aumento da cobertura vacinal 181,5 mil mortes.

O timing da publicação do estudo coincide com a discussão iminente do tema na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro. A professora ressalta a necessidade de um acordo internacional para enfrentar essa ameaça global, especialmente nos países mais pobres, onde os índices de mortalidade são mais alarmantes.

No Brasil, avanços recentes incluem sistemas de vigilância específicos e um plano de combate à resistência antimicrobiana. “A principal causa desse desafio, que é o uso inadequado de antibióticos, ainda persiste. O uso excessivo desses medicamentos favorece o surgimento de bactérias de difícil combate”, ressalta a professora da Unifesp.

Diante disso, a série de estudos recomenda que os países se comprometam a reduzir em 20% o uso inadequado de antimicrobianos em humanos e em 30% em animais nos próximos anos. Além disso, foi proposta a estipulação de uma meta ambiciosa de diminuir em 10% as mortes associadas a antibióticos, impulsionada não apenas pela redução do uso indiscriminado desses medicamentos, mas também por meio de medidas preventivas como vacinação, saneamento básico e diagnóstico preciso.

“O diagnóstico tardio ou inadequado, além de aumentar o risco de mortalidade, também contribui para o surgimento de bactérias resistentes. Por isso, é tão urgente a discussão dessa questão de forma abrangente e coordenada”, avalia Gales. A ação conjunta de governos, profissionais de saúde e comunidades é o caminho para enfrentar esse desafio e garantir um futuro no qual as infecções bacterianas não representem uma ameaça tão importante à vida, completa a professora, vice-coordenadora do Aries (Antimicrobial Resistance Institute of São Paulo), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Lido 437 vezes Última modificação em Terça, 25 Junho 2024 10:57

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