Terça, 02 Julho 2024 15:42

Disciplina de Medicina Culinária da Unifesp une arte de cozinhar e ciência médica

Com uma abordagem inovadora e integrativa, ela é uma ferramenta poderosa para a promoção da saúde e bem-estar de profissionais e pacientes

Por Ligia Gabrielli

A imagem mostra um chef de cozinha cortando uma cebola roxa em uma tábua de cortar verde. Ao redor da tábua, há vários vegetais frescos, incluindo uma cenoura, tomates cereja, um pepino e folhas de alface. Em segundo plano, uma frigideira no fogão contém o que parece ser uma mistura de vegetais cozidos. A cena parece se passar em uma cozinha profissional.
(Imagem ilustrativa)

A Medicina Culinária é uma nova e promissora abordagem educacional que está ganhando destaque na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Esta disciplina inovadora combina a arte de cozinhar com a ciência médica, proporcionando benefícios tanto para os(as) graduandos(as), quanto para os(as) futuros(as) pacientes, através da promoção de bons hábitos alimentares. Sob a coordenação da professora Samira Yarak, da Escola Paulista de Medicina (EPM), a disciplina tem demonstrado impactos significativos na formação dos(as) futuros(as) médicos(as), capacitando-os(as) a promover a saúde de maneira mais integrada e efetiva.

A disciplina de Medicina Culinária foi lançada em 2021, no auge da pandemia de covid-19, pela Escola Paulista de Medicina da Unifesp. Sob a liderança do professor Aécio Gois e com a colaboração do grupo Médicos na Cozinha — uma equipe multidisciplinar composta por médicos, nutricionistas, chefs de cozinha e uma psicóloga —, o curso teve início em um formato totalmente on-line. Utilizando a plataforma Zoom, os encontros semanais ao longo de cinco semanas incluíram 12 horas de aulas teóricas e 6 horas de aulas práticas realizadas remotamente nas próprias cozinhas dos(as) alunos(as).

Devido ao sucesso dessa experiência inicial, a disciplina foi repetida em 2023, desta vez com aulas presenciais para 13 alunos(as). Em 2024, a oferta da disciplina foi ampliada, com 27 alunos(as) no primeiro semestre e 30 no segundo semestre. A crescente popularidade do curso reflete o reconhecimento da importância de integrar conhecimentos culinários na prática médica.

“A Medicina Culinária é um campo emergente que se baseia em evidências científicas para mostrar o poder da alimentação na saúde e na doença. Ao focar na linguagem da cozinha e nas habilidades culinárias, a disciplina visa melhorar os comportamentos alimentares tanto dos profissionais de saúde quanto de seus pacientes”, explica a professora Samira Yarak.

A abordagem, segundo a docente, inclui ensinar aos(às) médicos(as) as técnicas necessárias para preparar refeições saudáveis e superar as barreiras comuns à alimentação saudável. Além disso, a disciplina desenvolve habilidades de comunicação e coaching em saúde, essenciais para a prática médica moderna. Mais que isso, a disciplina também objetiva realizar pesquisas relacionadas à educação do(a) profissional de saúde, com a participação ativa da nutricionista Marina Galvão Bueno.

As aulas teóricas e práticas são realizadas em um anfiteatro da Escola Paulista de Medicina, com capacidade para 32 alunos(as). A prática hands-on ocorre em uma cozinha experimental adaptada na casa da própria professora Samira Yarak, proporcionando aos(às) alunos(as) a oportunidade de aplicar seus conhecimentos em um ambiente real. A equipe docente inclui profissionais de diversas áreas, como chefs, nutricionistas, endocrinologistas, psiquiatras e psicólogos, além da coordenação direta da professora Samira Yarak e da Marina Galvão Bueno.

“As receitas ensinadas no curso são simples e baseadas nos preceitos do Guia Alimentar da População Brasileira de 2014, focando em alimentos in natura e minimamente processados. Os alunos aprendem a preparar refeições básicas como feijão, arroz com variações, frango grelhado e diversas saladas”, detalha a professora Samira. A metodologia inclui o uso de metas SMART (específicas, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e temporais) para planejamento e execução das atividades culinárias.

“Um aspecto notável da disciplina é a sua contribuição para a autoconfiança dos(as) alunos(as) em suas habilidades culinárias e a melhora nos hábitos alimentares pessoais. Muitos(as) alunos(as) relataram uma redução no consumo de alimentos ultraprocessados e um aumento no consumo de alimentos in natura, preparados em casa”, aponta a professora Samira. Além de melhorar a saúde de seus futuros pacientes, a disciplina também serve como um estímulo para o bem-estar pessoal dos(as) estudantes, ajudando a combater o estresse e o burnout, comuns na profissão médica.

A Medicina Culinária oferece aos(às) futuros(as) médicos(as) a oportunidade de adotar a culinária como um hobby. “Acima de tudo, a participação promove um estilo de vida mais saudável e equilibrado, tornando um hábito comum aos alunos a aplicação de dicas práticas de integração da culinária no dia a dia - tais como a escolha de receitas saudáveis, o planejamento de refeições, o preparo em companhia, o contato com novas técnicas e a prática do mindfulness durante o preparo dos alimentos”, pontua a professora.

 

Lido 856 vezes Última modificação em Quinta, 25 Julho 2024 09:55

Mídia