Com uma abordagem inovadora e integrativa, ela é uma ferramenta poderosa para a promoção da saúde e bem-estar de profissionais e pacientes
Por Ligia Gabrielli
(Imagem ilustrativa)
A Medicina Culinária é uma nova e promissora abordagem educacional que está ganhando destaque na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Esta disciplina inovadora combina a arte de cozinhar com a ciência médica, proporcionando benefícios tanto para os(as) graduandos(as), quanto para os(as) futuros(as) pacientes, através da promoção de bons hábitos alimentares. Sob a coordenação da professora Samira Yarak, da Escola Paulista de Medicina (EPM), a disciplina tem demonstrado impactos significativos na formação dos(as) futuros(as) médicos(as), capacitando-os(as) a promover a saúde de maneira mais integrada e efetiva.
A disciplina de Medicina Culinária foi lançada em 2021, no auge da pandemia de covid-19, pela Escola Paulista de Medicina da Unifesp. Sob a liderança do professor Aécio Gois e com a colaboração do grupo Médicos na Cozinha — uma equipe multidisciplinar composta por médicos, nutricionistas, chefs de cozinha e uma psicóloga —, o curso teve início em um formato totalmente on-line. Utilizando a plataforma Zoom, os encontros semanais ao longo de cinco semanas incluíram 12 horas de aulas teóricas e 6 horas de aulas práticas realizadas remotamente nas próprias cozinhas dos(as) alunos(as).
Devido ao sucesso dessa experiência inicial, a disciplina foi repetida em 2023, desta vez com aulas presenciais para 13 alunos(as). Em 2024, a oferta da disciplina foi ampliada, com 27 alunos(as) no primeiro semestre e 30 no segundo semestre. A crescente popularidade do curso reflete o reconhecimento da importância de integrar conhecimentos culinários na prática médica.
“A Medicina Culinária é um campo emergente que se baseia em evidências científicas para mostrar o poder da alimentação na saúde e na doença. Ao focar na linguagem da cozinha e nas habilidades culinárias, a disciplina visa melhorar os comportamentos alimentares tanto dos profissionais de saúde quanto de seus pacientes”, explica a professora Samira Yarak.
A abordagem, segundo a docente, inclui ensinar aos(às) médicos(as) as técnicas necessárias para preparar refeições saudáveis e superar as barreiras comuns à alimentação saudável. Além disso, a disciplina desenvolve habilidades de comunicação e coaching em saúde, essenciais para a prática médica moderna. Mais que isso, a disciplina também objetiva realizar pesquisas relacionadas à educação do(a) profissional de saúde, com a participação ativa da nutricionista Marina Galvão Bueno.
As aulas teóricas e práticas são realizadas em um anfiteatro da Escola Paulista de Medicina, com capacidade para 32 alunos(as). A prática hands-on ocorre em uma cozinha experimental adaptada na casa da própria professora Samira Yarak, proporcionando aos(às) alunos(as) a oportunidade de aplicar seus conhecimentos em um ambiente real. A equipe docente inclui profissionais de diversas áreas, como chefs, nutricionistas, endocrinologistas, psiquiatras e psicólogos, além da coordenação direta da professora Samira Yarak e da Marina Galvão Bueno.
“As receitas ensinadas no curso são simples e baseadas nos preceitos do Guia Alimentar da População Brasileira de 2014, focando em alimentos in natura e minimamente processados. Os alunos aprendem a preparar refeições básicas como feijão, arroz com variações, frango grelhado e diversas saladas”, detalha a professora Samira. A metodologia inclui o uso de metas SMART (específicas, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e temporais) para planejamento e execução das atividades culinárias.
“Um aspecto notável da disciplina é a sua contribuição para a autoconfiança dos(as) alunos(as) em suas habilidades culinárias e a melhora nos hábitos alimentares pessoais. Muitos(as) alunos(as) relataram uma redução no consumo de alimentos ultraprocessados e um aumento no consumo de alimentos in natura, preparados em casa”, aponta a professora Samira. Além de melhorar a saúde de seus futuros pacientes, a disciplina também serve como um estímulo para o bem-estar pessoal dos(as) estudantes, ajudando a combater o estresse e o burnout, comuns na profissão médica.
A Medicina Culinária oferece aos(às) futuros(as) médicos(as) a oportunidade de adotar a culinária como um hobby. “Acima de tudo, a participação promove um estilo de vida mais saudável e equilibrado, tornando um hábito comum aos alunos a aplicação de dicas práticas de integração da culinária no dia a dia - tais como a escolha de receitas saudáveis, o planejamento de refeições, o preparo em companhia, o contato com novas técnicas e a prática do mindfulness durante o preparo dos alimentos”, pontua a professora.