Por Pedro Di Biase e José Luiz Guerra

Terminou na última sexta-feira (24/11) a Semana da Consciência Negra 2023. Com o tema Os 20 anos da Lei 10.639 e os Desafios da Educação Antirracista, a semana reuniu a comunidade acadêmica e externa da Unifesp em torno de temáticas como religião, moda, política, artes e culturas africanas e afro-brasileiras para que possam ser cada vez mais reconhecidas e incorporadas ao cotidiano da instituição. Além disso, o evento buscou promover ações que incidam em políticas públicas comprometidas com a equidade racial e com o antirracismo.

Ao longo de quatro dias, foram realizadas em todos os campi da Unifesp diversas atividades culturais, oficinas, mesas de debates e apresentação de trabalhos, nas modalidades presencial, híbrida e remota. O evento contou com apoio da Fundação Cultural Palmares, de Núcleos de estudos africanos e afro-brasileiros (Neabs) e de docentes das universidades públicas de São Paulo (UFSCar, UFABC, Unesp, Unicamp e USP). 

Mesmo com o fim da Semana da Consciência Negra 2023, no entanto, ainda foram realizadas atividades abertas à comunidade. As informações estão disponíveis neste link.  

Abertura do evento

abertura foi realizada no Teatro Marcos Lindenberg no dia 21/11 e contou com presenças ilustres, troca de saberes e apresentações musicais. Participaram da mesa de abertura a reitora, Raiane Assumpção, a pró-reitora de Extensão e Cultura, Debora Galvani, a coordenadora da Semana de Consciência Negra 2023, Diana Mendes, a pró-reitora adjunta de Assuntos Estudantis e Ações Afirmativas, Luciana Alves, e o presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues.

O presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues
O presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues

Com uma apresentação de bateria e dizeres do movimento negro, o Núcleo Negro da Unifesp Guarulhos foi ao palco. “A nossa luta também reeduca a população, reeduca a nós que somos negros e estamos dentro do movimento, reeduca a população branca, amarela e indígena”, declarou o estudante Maurício Monteiro, do curso de História. “E é por fazer parte desse núcleo negro que hoje nós conseguimos encontrar um espaço de acolhimento, um espaço de identidade, um espaço onde a gente possa colocar nossas dores dentro da universidade, onde a gente possa, em grupo, reivindicar nossas acolhidas.”

Na mesa de abertura, relatando a história da segregação no Brasil, João Rodrigues destacou: “A educação no Brasil era e é um sistema de exclusão, de privilégio, de perpetuação de uma profunda desigualdade, que nos afeta em 2023.” Focando na importância da Consciência Negra, ele apontou que “os 102 milhões de afro-brasileiros vivos e os milhões que vieram antes merecem um dia para refletir, para esse país pensar o que é o trabalho, o que foi o trabalho no Brasil, quem fez o trabalho no Brasil, quem construiu as riquezas no Brasil, e quem construiu esse sistema de saber que está nas universidades e na educação.”

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A coordenadora da Semana de Consciência Negra 2023, Diana Mendes

Ao lado de Rodrigues, Diana Mendes, coordenadora da Semana de Consciência Negra 2023, agradeceu o apoio das universidades públicas de São Paulo ao evento e homenageou as pessoas negras que trabalham pela existência da Unifesp. Sobre a SCN, ela acrescentou: “É uma Semana de Consciência Negra feita de forma colegiada, descentralizada. A gente entendeu que essa era a única forma possível de se aproximar, de acolher, de dar protagonismo para as personalidades negras da universidade, desde estudantes, passando por técnicos e chegando aos docentes.”

Luciana Alves, pró-reitora adjunta de Assuntos Estudantis e Ações Afirmativas, lembrou que as primeiras atividades da SCN 2023 se deram ainda entre maio e junho deste ano. “É uma Semana que permeou todo o ano de 2023 e eu espero que essa aprendizagem fique para a nossa instituição pelos próximos anos e pelas próximas Semanas, que seja uma Semana estendida, não no sentido de só comemorar, mas no sentido de fazer balanços institucionais e epistêmicos de como estamos construindo conhecimento neste espaço”, pontuou a pró-reitora adjunta.

A pró-reitora adjunta de Assuntos Estudantis e Ações Afirmativas, Luciana Alves
A pró-reitora adjunta de Assuntos Estudantis e Ações Afirmativas, Luciana Alves

Após a fala da professora, a organização do evento fez uma homenagem ao dirigente espiritual de Candomblé Tata Katuvanjesi, que estava no local prestigiando a atividade. Reconhecido como embaixador e guardião dos saberes africanos, o líder religioso em breve receberá o título de Doutor Honoris Causa pela Unifesp.

Já Débora Galvani reafirmou a importância de diversificar as aprendizagens e defender as cotas epistêmicas. Ela também destacou o papel da SCN: “A nossa Semana da Consciência Negra da Unifesp vem se constituindo como um movimento crucial de reflexão, celebração e conscientização sobre a pluralidade das culturas afro-brasileiras, africanas e para a educação antirracista.”

A pró-reitora de Extensão e Cultura, Débora Galvani
A pró-reitora de Extensão e Cultura, Débora Galvani

Encerrando a mesa de abertura, Raiane Assumpção, reitora da Unifesp, agradeceu aos presentes e todos que apoiam e trabalham na Semana da Consciência Negra da Unifesp. “A Semana da Consciência Negra para nós é um momento de celebração, mas não só isso, é muito mais um momento de reflexão, de aprofundar processos”, acrescentou a reitora, mencionando em seguida as ações afirmativas: “Temos um caminho trilhado nas ações afirmativas, mas a questão da permanência diz respeito a quais são os significados, quais são os sentidos, porque é isso que transforma a cultura institucional, e acho que esse é o passo importante que temos que dar agora na nossa universidade.”

Em seguida, iniciou-se uma palestra sobre a lei 10.639 e a educação antirracista. A primeira convidada foi Petronilha Gonçalves, que gravou um vídeo relatando suas experiências como professora e participante do processo de criação da lei, que incluiu História e cultura Afro-Brasileiras no currículo da educação brasileira. “Eu costumo dizer que o processo que culminou na lei e no parecer [que regulamenta a lei] era um processo antigo que se desenvolveu ao longo do século anterior e era conduzido notadamente pelas professoras dos anos iniciais”, relatou a docente.

A reitora da Unifesp, Raiane Assumpção
A reitora da Unifesp, Raiane Assumpção

A palestra continuou com a Ellen de Lima Souza, que fez uma homenagem à Profa. Petronilha, a quem credita sua trajetória na vida acadêmica, e destacou a importância da criação da lei 10.639. "Esse marco histórico revelou uma luta constante do movimento negro, que sempre teve a educação como uma de suas bandeiras, aliás, como sua principal bandeira”, afirmou. “Não é à toa que a maioria da produção acadêmica brasileira que discute raça, racismo, desigualdade, cultura africana e afro-brasileira está no campo da educação."

Por fim, Andreia Kelly Marques trouxe relatos e imagens de sua experiência como docente, mostrando aplicações práticas viabilizadas pela lei 10.639. “Eu acredito na educação”, disse a docente. “Se a gente sempre vai para o lado punitivo, não conseguimos desenvolver de fato essa consciência. Temos que empoderar os alunos, para eles aprenderem a se defender e levar a reflexão aos outros.”

O dirigente espiritual de Candomblé e presidente do Ilabantu, Tata Katuvanjesi
O dirigente espiritual de Candomblé e presidente do Ilabantu, Tata Katuvanjesi (ao centro)

A atividade se encerrou com apresentações musicais carregadas das heranças culturais africanas. O Coral Unifesp cantou versões de “Siyahamba”, uma canção sul-africana usada como hino espiritual e de protesto durante o apartheid, e “Banho de Folhas”, da baiana Luedji Luna. Na sequência, a cantora Thulla Melo emprestou sua voz a dois clássicos: “Primavera”, de Tim Maia, e “Killing Me Softly With His Song”, tornada famosa nas gravações com Roberta Flack e Lauryn Hill, ícones da música negra dos EUA. Thulla também chamou o Coral Unifesp de volta ao palco para todos cantarem “Olhos Coloridos”, composição do carioca Macau. A performance incluiu um relato do caso de racismo que o compositor sofreu em 1971 e o inspirou a escrever a canção.

Palestra de encerramento

O encerramento contou com a palestra História e Cultura Africana e Afro-brasileira, quilombos urbanos e o direito à imaginação, promovida pela ex-deputada estadual Érica Malunguinho e pela diretora do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-brasileiro Flávia de Jesus Costa, com mediação de José Carlos Gomes da Silva, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros na Universidade Federal de São Paulo (NEAB/Unifesp). O encerramento da SCN contou também com as apresentações culturais da Cia Cambona de dança e do cantor Mumu Oliveira, realizado presencialmente no campus Guarulhos, no Teatro William Silva de Moraes.

A mesa de encerramento foi composta composta por Gabriela Wagner, da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, Fábia Ribeiro, vice-coordenadora do NEAB Unifesp, Diana Mendes, coordenadora da Semana da Consciência Negra 2023, e por Leidiane de Souza Cruz, estudante de Ciências Sociais na Unifesp e representante da União Estadual dos Estudantes de São Paulo.

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Fotos: Alex Reipert