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Quinta, 30 Janeiro 2020 16:21

Troca de saberes

Publicado em Edição 12
Quinta, 30 Janeiro 2020 15:59

O que você alimenta quando se alimenta?

Atividades integradas de extensão, ensino e pesquisa promovem a conscientização sobre os hábitos de consumo e de alimentação e a difusão da metodologia social emergente dos grupos de consumo responsável

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Texto: Paula Garcia

O programa Agroecologia e Consciência Alimentar, coordenado por Leda Lorenzo Montero, docente do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) - Campus Diadema, surgiu quando o tema agricultura passou a ser discutido em aulas ministradas na graduação em Ciências Ambientais. Questões como o uso dos recursos naturais, manejo do solo, relações com a terra e os alimentos e fatores socioeconômicos implicados, ainda que considerados essenciais à formação universitária, ainda não constavam na grade curricular do curso.

Montero e sua colega de departamento, Rosangela Calado da Costa, propuseram, então, uma disciplina eletiva com carga horária de 72h que focasse na agroecologia, meta alcançada em 2018. Uma vez constatada a aceitação dos estudantes (21 concluintes na primeira turma), a disciplina foi ofertada novamente no ano seguinte, já vinculada ao programa de extensão como se tem hoje (33 concluintes na segunda turma, em 2019). A disciplina atende à curricularização da extensão e 40% da carga horária consiste em atividades práticas - o mínimo de 20h de atividades de extensão inclui trabalho de campo. 

Uma das ações do programa consiste na realização de visitas técnicas a plantações de produtos orgânicos, trabalhando com estudantes da Unifesp e agricultores conceitos da disciplina na prática, como produção no campo, adubação verde, policultivos, tipos de consórcio, geração de renda e formas de escoamento. Esse trabalho de conscientização sobre hábitos de consumo e produção levou as docentes a proporem aos estudantes a criação do Grupo de Consumo Responsável (GCR), visando fortalecer o uso consciente a partir da formação de uma rede de parcerias com produtores orgânicos. O processo evoluiu de forma rápida na instituição em razão do contato de Montero com alguns produtores, já que participa de GCRs desde 2010. 

“O GCR se consolidou por meio de coletivos que elevam o alimento a um patamar político. Ele é responsável por trazer reflexões como: ‘O que você alimenta quando se alimenta?’, ‘Você está promovendo a sua saúde e de sua família?’, ‘Que tipo de agricultura e de manejo de recursos você está promovendo?’, ‘Que tipo de relações de trabalho têm por trás do seu consumo de alimentos?’ e ‘Por que comemos três vezes por dia mecanicamente?’. Com intermédio da disciplina e do grupo, estas questões passam a ser discutidas dentro da universidade”, explica a coordenadora. 

Por ter uma gestão voluntária, aberta e sem fins lucrativos, a consolidação e a manutenção do grupo dependem do ingresso de novas pessoas, inclusive as parcerias com agricultores estão atreladas ao número de estudantes que atuam ativamente gerindo essa relação. Em 2019, o GCR da Unifesp começou a se articular com outros grupos de consumo responsável na região metropolitana de São Paulo, a fim de aumentar a escala de escoamento do que é produzido pelos pequenos produtores.

Agroecologia e economia solidária

Uma ação conjunta de dois programas de extensão, o Agroecologia e Consciência Alimentar e o Fusões (coordenado por Classius Ferreira da Silva), levou à concretização da Feirinha de Agroecologia e Economia Solidária da Unifesp. O evento, mensal, oferece à comunidade acadêmica e externa à universidade um espaço de convivência e promoção do debate acerca de consumo responsável, cidadania, arte e cultura dentro da universidade. Participam desse evento, além de coletivos de empreendedores de Economia Solidária, pequenos produtores de Diadema e região, que encontram na feira a possibilidade de escoamento dos seus alimentos.

Além da economia solidária, tem-se a ideia da promoção de ações culturais como oficinas, apresentações e performances, em um momento para a convivência fora da sala de aula. “Trabalhamos com seis comunidades tradicionais e quilombolas em uma relação bastante direta com essas mulheres. Elas têm muita necessidade de escoamento, porque são produtoras com pouca inserção no mercado, a maioria não tem eletricidade em casa”, comenta Montero.

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Participantes do Grupo de Consumo Responsável da Unifesp

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Feirinha de Agroecologia e Economia Solidária / Fotografia: Daiana Rodrigues

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Discentes da Unifesp em pesquisa experimental no Instituto de Botânica

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Trabalho de consciência alimentar e alimentação saudável com estudantes da Escola Estadual Simon Bolívar

Extensão e pesquisa

  • O programa Agroecologia e Consciência Alimentar, em parceria com o Instituto de Botânica, também executa atividades de extensão rural em assentamentos da região metropolitana de São Paulo, tendo dentro do próprio instituto uma área experimental para pesquisa destinada aos estudantes da Unifesp, com a colaboração direta do agrônomo, professor e pesquisador Clóvis José Fernandes de Oliveira Jr.
  • No VII Encontro Nacional dos Estudantes de Ciências Ambientais (Enecamb), que tem sua edição de 2019 sediada no Campus Diadema, a Unidade José de Filippi receberá o suporte para a instalação de uma pequena agrofloresta, demanda dos estudantes que desejam usar o espaço para observar conceitos de sala de aula sem sair do ambiente acadêmico. Para a extensão, a área servirá também de base para outros projetos do próprio ICAQF/Unifesp, como a horta-escola.
  • Outra ação de extensão que se iniciou em 2019 envolve atividades em escolas públicas municipais de Diadema, coordenadas por Rosangela Calado da Costa, com aproximadamente 150 estudantes participantes no primeiro ano, na faixa etária de 13 a 14 anos. Nas atividades propostas, são trabalhados os conceitos de consciência alimentar e alimentação saudável.
 
Publicado em Edição 12
Quinta, 30 Janeiro 2020 15:21

Cientistas por um dia

Desde 2017, o Centro Aprendiz de Pesquisador da Unifesp permite que estudantes de licenciatura se encontrem com os do ensino básico por meio de um espaço não formal de ensino

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Texto: Valquíria Carnaúba

Na época em que atuava no Centro de Pesquisa em Meio Ambiente da Universidade de São Paulo (Cepema/USP), Ana Maria Santos Gouw colaborou com uma ação bem parecida com a oferecida no programa de extensão que introduziu no Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) - Campus Diadema, em 2017, o Centro Aprendiz de Pesquisador (CAP – Diadema). Com a finalidade de difundir o conhecimento gerado em universidades, centros de pesquisa e setor industrial à comunidade de modo geral, o Cepema/USP passou a organizar visitas monitoradas de estudantes às suas dependências, em Cubatão (litoral de São Paulo). Com base nessa vivência, a ação extensionista da Unifesp já submeteu mais de 1.500 estudantes da rede pública a atividades experimentais no Campus Diadema, aproximando estudantes da educação básica do município de Diadema e região do ICAQF/Unifesp por meio da promoção de um espaço não formal de educação.

Conforme explica Gouw, é necessário que as escolas interessadas agendem a visita e aguardem a confirmação de disponibilidade dos laboratórios destinados à recepção dos estudantes para que possam acompanhar as pesquisas e vivenciar na prática a rotina científica. Já durante a excursão, os próprios estudantes dos cursos de graduação (bacharelado e licenciatura) do ICAQF/Unifesp monitoram os participantes, propõem atividades investigativas e convidam à reflexão teórica sobre os temas abordados, tornando essas imersões espaços onde a observação, a experimentação e o levantamento de hipóteses sejam vivenciados de forma alegre e significativa, e acompanhem, se possível, o currículo pedagógico das escolas envolvidas.

As experiências são previamente acertadas com as escolas. Figuram no topo das solicitações: a microscopia ótica, fermentação, pH e saúde, estudo do DNA, física e corpo humano, abarcando as três principais áreas das ciências naturais (Física, Química e Biologia). “Apresentamos a universidade e exibimos o vídeo institucional, abordamos os cursos oferecidos no ICAQF/Unifesp e explicamos como funciona o sistema de ingresso. Depois disso, organizamos os visitantes em pequenos grupos, já que o laboratório tem uma disposição arquitetônica que suporta de 10 a 12 pessoas por bancada”, explica a docente da Unifesp. 

A docente comenta que, no momento, a Diretoria do campus atua para firmar um termo de cooperação com a prefeitura municipal de Diadema e o Governo do Estado, por meio das suas respectivas diretorias de ensino, o que facilitará bastante a comunicação com as escolas e o convite dos estudantes para outras visitas ao laboratório.

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Centro Educacional de Diadema

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Colégio Camp

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Escola Estadual Diadema

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Escola Estadual José Marcato

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Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Rosalvito Cobra

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Escola Municipal de Educação Básica Olga Benário Prestes (EJA)

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O trabalho desenvolvido por Ana Maria Gouw e Paloma Marques atendeu, até o momento, mais de 1.500 estudantes da rede pública no município de Diadema

Com a mão na massa

Paloma Marques, que concluiu seu mestrado em Ensino de Ciências e Matemática em agosto deste ano, acompanhou a introdução do CAP - Diadema e foi a principal voluntária da ação. “O piloto do projeto ocorreu em 2017, com estudantes da modalidade Ensino de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal de Ensino Básico (Emeb) Cora Coralina, bem próxima do campus. “Na ocasião, desenvolvemos atividades que envolviam temas da área da saúde e atividades de observação celular. Como eram pessoas mais velhas, foi desafiador em razão da linguagem que precisamos adotar na comunicação com esses estudantes, acostumados às formalidades da sala de aula”, conta. 

O aprender na prática, quando se fala desse programa de extensão, é outro aspecto positivo, possibilitando uma intensa troca entre a licenciatura e o ensino básico público. Marques cita a satisfação dos graduandos ao receberem os estudantes de educação básica; a experiência apresenta a oportunidade de dar aulas de verdade sem ter concluído a graduação, especialmente para quem ainda não conquistou uma vaga de estágio. Já a percepção da ex-mestranda sobre o outro baseia-se em sua vivência de 2017, com estudantes de EJA, quando notou a facilidade com que essas pessoas interagiram durante a atividade sobre fermentação. 

“Por serem adultos, costumam cozinhar e fazer massas de pão em suas casas. Aproveitamos a experiência pessoal deles para abordar a fermentação alcóolica, oferecendo os materiais que são necessários para propiciar uma investigação sobre o tema (água morna e em temperatura ambiente, açúcar, sal, farinha de trigo, amido e fermento biológico). Cada grupo recebeu um Erlenmeyer (frasco em forma cônica usado para manuseio de substâncias) e uma bexiga e foi solicitado às pessoas que, a partir de suas experiências, escolhessem três ingredientes para realizar o processo de fermentação. A discussão das escolhas permitiu que os estudantes compreendessem as vivências pessoais em relação à produção de pães e outros produtos. Com isso, explicamos a importância da farinha e do açúcar para o fornecimento de energia ao fermento (um tipo de fungo), de como a água morna auxilia na ativação e aceleração do processo e das reações químicas que participam da fermentação alcóolica”, finaliza.

De acordo com Gouw, o vínculo do programa CAP - Diadema ao curso de Ciências - Licenciatura, mediante a política de curricularização da extensão da Unifesp, tem trazido experiências positivas na formação de professores. “Ficamos, por algum tempo, dependentes de estudantes voluntários que se interessassem em monitorar as visitas ao laboratório. Hoje contamos com a atuação permanente dos cursos de graduação do ICAQF/Unifesp, e essa integração tem fortalecido suas experiências como futuros docentes e a técnica da prática pedagógica a partir da interação com o público escolar”, finaliza Gouw.

 
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Quinta, 30 Janeiro 2020 15:00

Medindo as emoções

Projeto de extensão, executado em parceria com o Instituto Abihpec, avaliou oscilações emocionais em mulheres acometidas por câncer de mama após aplicação de cosméticos faciais

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Equipe formada por Vera Bifulco, psicóloga do Instituto Paulista de Cancerologia; Airton Rodrigues, docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec); Vânia Leite e Silva, coordenadora do projeto; e maquiadoras profissionais voluntárias, convocadas pelo Instituto Abihpec


Texto: Valquíria Carnaúba

Como intervir no cotidiano de pacientes acometidas pelo câncer, de forma a que reajam melhor ao tratamento e superem essa etapa com maior autoestima? Vânia Rodrigues Leite e Silva, docente do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) - Campus Diadema, encontrou respostas para essa delicada questão a partir da Psicologia e da cosmetologia (ramo da ciência farmacêutica). Por meio do projeto de extensão que coordenou entre os anos de 2016 e 2017, denominado Avaliação do Bem-Estar de Pacientes que Fazem Uso de Tratamento Oncológico antes e após o Uso de Cosméticos, a pesquisadora e sua equipe recrutaram 80 voluntárias com câncer de mama a fim de mensurar a melhora do estado psicológico após workshops de beleza. Os resultados, publicados em artigo um ano após a conclusão do projeto, mostraram que, entre as participantes, houve um decréscimo da tristeza após as intervenções. 

Silva explica que a ação foi proposta pelo Instituto Abihpec, ramo social da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). “O instituto é o único que detém a licença no Brasil para aplicar o programa internacional Look Good Feel Better, que ajudou mais de 10 mil mulheres a minimizar os efeitos colaterais do tratamento oncológico por meio do cultivo da boa aparência. Apoia-se em um conceito que tem sido bastante explorado desde a década de 1960, o bem-estar subjetivo, que envolve a compreensão de estados emocionais, sentimentos, afetos e satisfação em relação a diferentes aspectos da vida. Seu presidente, Claudio Viggiani, sugeriu que aderíssemos à ação, de modo a medir as emoções e comprovar os benefícios desse programa maravilhoso”, conta. 

Além da parceria com a Abihpec, que convocou bolsistas e encaminhou os produtos doados por indústrias do setor – itens de maquilagem, higiene pessoal e perfumaria, além de lenços de tecido para amarração em torno da cabeça –, a docente recebeu o apoio do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC), que permitiu o acesso às pacientes cadastradas. Coube aos pesquisadores da Unifesp aferir o efeito das intervenções de beleza sobre as voluntárias. Nessa avaliação, foram utilizados dois métodos famosos na Psicologia e Psiquiatria: a escala de autoestima de Rosenberg (EAR) e a Facial Action Coding System (Facs). O primeiro baseia-se na pontuação obtida em um questionário composto por dez questões fechadas. O segundo, ao qual aderiram apenas 12 voluntárias, capta e codifica os movimentos de músculos faciais individuais a partir de mudanças momentâneas distintas na aparência facial. 

As respostas ao questionário, por si sós, foram consideradas insuficientes para avaliar com precisão as alterações no nível de bem-estar das voluntárias. Por meio do software instalado em um tablet e acoplado a um espelho, foi possível, entretanto, detectar as expressões faciais enquanto se maquilavam. As observações foram divididas em etapas – como receber o presente, higienizar a pele, passar o filtro solar e aplicar o lápis delineador, o rímel e o blush –, registrando-se os aspectos fisionômicos a cada milissegundo. “Percebemos que o uso do batom inspirou mais confiança. Por outro lado, colocar o lenço na cabeça gerou expressões de raiva e aversão – provavelmente porque lembravam a perda de cabelos devido à quimioterapia”, relata. 

A coordenadora do projeto afirma que, a partir dos resultados, busca expandir a metodologia do sistema facial para o estudo de doenças como a depressão. Essa meta inclui obter o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) na aquisição de equipamentos. “Queremos comprovar que um programa de beleza pode evitar ou amenizar casos depressivos, uma disfunção bastante comum hoje em dia e que implica enormes impactos na saúde pública – como a provisão de medicamentos e a falta de produtividade no trabalho”, complementa. 

Para Silva e sua equipe, a maior recompensa foi vencer o desafio de atuar com mulheres em situação de vulnerabilidade. “Escutávamos declarações como: ‘Hoje não vou precisar de terapia, pois já ganhei minha dose diária de felicidade’, que nos motivavam constantemente. Sou uma defensora dos programas e projetos de extensão, pois aproximam professores, alunos e sociedade, incentivam a pesquisa e voltam os olhares de discentes e docentes para os aspectos sociais da missão acadêmica”, finaliza.

Câncer de mama é o que mais afeta mulheres no país 

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), divulgados em 2019, o câncer de mama é o tipo que mais afeta mulheres acometidas por essa doença, alcançando 60% dos casos registrados no país. Esse percentual coloca em foco a importância de amenizar os sintomas decorrentes do tratamento, pois os efeitos colaterais da quimioterapia incluem distúrbios no sistema digestivo, infecções, perda de cabelo, alterações na pele e trauma emocional.

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Vânia Rodrigues Leite e Silva, que coordenou por dois anos a avaliação do bem-estar de pacientes sob tratamento oncológico, após o uso de cosméticos fornecidos pela Abihpec, afirma que os resultados servirão de base à tese de doutorado que desenvolve sobre o tema

Software analisa automaticamente seis expressões faciais

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Captura de tela do software usado no projeto

O cálculo adotado pelos pesquisadores para determinar as alterações emocionais consistiu no equilíbrio afetivo: alegria e surpresa foram consideradas emoções positivas; raiva, medo, rejeição e tristeza, por sua vez, foram tratadas como emoções negativas. Foi identificada uma diferença significativa entre o início da oficina, quando as pacientes receberam as instruções, e seu término. O resultado dos testes não revelou pessoas mais positivas, mas menos negativas.

 
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Quinta, 30 Janeiro 2020 14:30

Educação e meio ambiente em evidência

Com exceção das áreas temáticas de Comunicação e de Direitos Humanos e Justiça, o Campus Diadema apresenta projeto em todas as áreas no quadriênio 2015 - 2018

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Fotografia: Alex Reipert

 

Classius Ferreira da Silva
Coordenador da Câmara de Extensão e Cultura (Caec) – Campus Diadema

As ações de extensão em Diadema têm aumentado nos últimos anos. No quadriênio de 2015 a 2018 foram cadastrados 38 projetos e 14 programas de extensão. Do total de projetos, aproximadamente 60% encontram-se vinculados à área temática da Educação, mas, se considerarmos também os programas de extensão, este número é ainda maior - cerca de 70%.

Com relação às áreas temáticas estabelecidas pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão (Forproex), o Campus Diadema se destaca na área de Educação, em decorrência das parcerias estabelecidas entre docentes do curso de Licenciatura em Ciência com instituições locais, como a firmada entre a Diretoria de Ensino de Diadema e a Secretaria Municipal de Diadema. Um desses exemplos é o programa Articul@ções, um conjunto articulado de projetos e ações de extensão, de caráter multidisciplinar (como cursinhos populares preparatórios para os vestibulares) e interdisciplinar (eventos de divulgação dos cursos superiores na rede pública).

A área de Meio Ambiente é outro foco de boa parte dos projetos (10,5%) e programas (21,4%) de extensão, confirmando a vocação ambiental do campus desde sua concepção e criação. Não menos importante, a área temática de Saúde ocupa a segunda posição no número de projetos (13,2%). Com exceção das áreas temáticas de Comunicação e de Direitos Humanos e Justiça, o Campus Diadema apresenta projeto em todas as áreas neste quadriênio.

Em 2019, o Campus Diadema iniciou a Universidade Aberta para as Pessoas Idosas (Uapi), que conta hoje com 50 matriculados. É um projeto muito jovem, mas com perspectivas de grande impacto na qualidade de vida dos idosos do município. O número de eventos de extensão também tem aumentado nos últimos anos, não somente pelos eventos científicos, como eventos voltados para comunidade local, como é o caso do Encontro dos Surdos com as Ciências (ESC) e do Diadema Visita Unifesp Diadema (Universidade de Portas Abertas).

Alguns projetos de extensão ultrapassam as fronteiras do município de Diadema, como o projeto Picinguaba, que realiza atividades de extensão voltadas para questões ambientais junto às comunidades tradicionais que ocupam o referido parque. Tais ações aumentam a percepção de inclusão social no ambiente. Quem não sabia da existência da Unifesp fica orgulhosa ao descobrir uma universidade federal em sua própria cidade; quem se beneficia das ações, por sua vez, se sente incluído. Esse é o desafio da extensão no Campus Diadema do momento: melhorar a visibilidade das ações de extensão pela comunidade regional e aumentar ainda mais as ações para áreas temáticas ainda não contempladas.

 

Campus Diadema • extensão em números:
33 programas e projetos de extensão
2 cursos de aperfeiçoamento e especialização
36 cursos de extensão e eventos
Dados de 2018
 
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 Programa de extensão promove estratégias inovadoras para que os estudantes aprendam Matemática brincando

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Texto: Tamires Tavares

Lápis e papel, lousa e giz, régua e compasso. Objetos que são associados ao ensino tradicional de Matemática cedem espaço, ocasionalmente, a jogos de tabuleiro e outros materiais recreativos, em salas de aula da rede pública. Desde 2011, estudantes do ensino básico e do segmento de educação de jovens e adultos (EJA) da cidade de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, e da capital paulista, aprendem Matemática de forma lúdica e criativa, com brincadeiras e desafios propostos pelo Clube de Matemática, projeto de extensão da Unifesp.

Iniciado na Unifesp por Vanessa Moretti, docente do Departamento de Educação da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH/Unifesp) - Campus Guarulhos, o projeto desenvolveu-se até tornar-se o Educação Matemática em Atividade, criado em 2015. Esse programa de extensão tem por objetivo articular a formação inicial dos alunos do curso de Pedagogia e o aprendizado de crianças da rede pública de ensino por meio da ludicidade e criatividade.

“Há uma ação importante ao possibilitar que se olhe para a Matemática como algo prazeroso e ao mostrar que é possível aprender por metodologias não tradicionais. Isso é válido tanto para o professor quanto para os alunos. A proposta é que eles se relacionem com a Matemática para além da maneira tradicional, com listas de exercícios – por exemplo, por meio de jogos e desafios, interagindo com os colegas”, explica a docente.

Além do Clube de Matemática, o programa abrange outros projetos de extensão que têm como foco a formação de professores e a aprendizagem por meio de estratégias inovadoras. Dentre alguns dos objetivos dessas ações, estão o ensino de frações, o desenvolvimento do pensamento algébrico nos primeiros anos do ensino fundamental e a compreensão do conceito de número como uma construção humana. São também programados eventos sobre jogos africanos e noções geométricas. As atividades são realizadas pelos estudantes de graduação e pós-graduandos da Unifesp, em parceria com as escolas municipais e estaduais no entorno do Campus Guarulhos – na periferia de Guarulhos – e em São Paulo, com a mediação dos professores desses estabelecimentos. 

“Temos o desafio de proporcionar estratégias de aprendizagem não tradicionais, de forma lúdica, considerando a atividade principal da criança. Quanto menos idade tem a criança, mais importante é que a aprendizagem seja desenvolvida com criatividade e mediada pela brincadeira. O professor deve ter a intencionalidade do que ensinar, mas, para a criança, é essencial que isso se dê por meio da brincadeira”, ressalta Moretti.

Os estudantes do Departamento de Educação participam do planejamento e execução das atividades como parte de sua formação. Os materiais recreativos são por eles elaborados e aplicados em suas experiências no estágio e residência pedagógica. Carolina da Cunha Leandro, aluna do 6º termo do curso e estagiária de Pedagogia, criou os jogos Jenga Matemático e Sopa de Decimais. Ao implementá-los no evento Clube de Matemática no Parque, que ocorreu em parceria com o Instituto Butantan, constatou que as tarefas envolveram não apenas as crianças presentes, mas também os adultos que as acompanhavam.

Para Priscila Aparecida Rodrigues, do curso de Pedagogia, por meio do brincar a criança passa a conhecer o mundo sociocultural no qual está inserida. “A criança tem, assim, a possibilidade de expandir seu conhecimento e, a partir daí, assimilar outras noções. Além do poder motivador do jogo, por meio dele a criança exercita a criatividade, a sociabilidade, os limites com base nas regras e as trocas que promovem seu desenvolvimento”, esclarece. A metodologia do programa – adaptada ao contexto da educação de jovens e adultos (EJA) – inspirou o tema de seu trabalho de conclusão de curso (TCC). Segundo a estudante, a experiência colaborou para o aumento do interesse dos participantes em atividades educativas e na aprendizagem.

O Clube de Matemática conta com um acervo de jogos e materiais didáticos para o ensino de Matemática, o qual pode ser utilizado em sala de aula tanto por alunos quanto por educadores. O acervo também fica disponível a qualquer professor da rede pública por meio de empréstimo.

 

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A equipe de estudantes e docentes do curso de Pedagogia desenvolve e adapta jogos matemáticos a partir de outros existentes, estimulando o raciocínio lógico entre crianças, jovens e adultos

Outros projetos

Oficina pedagógica de Matemática

Tem por objetivo propiciar aos professores um aprofundamento teórico sobre o significado do número, em sua dimensão conceitual e histórica, permitindo-lhes produzir situações desencadeadoras de aprendizagem, as quais contemplem o tema abordado. 

 

Números e operações: possibilidades pedagógicas do uso do ábaco

Neste curso, é analisado o uso do ábaco como instrumento pedagógico auxiliar para o ensino de números e operações aritméticas. A partir da compreensão do número como construção humana, serão trabalhados recursos didáticos para a abordagem dos algoritmos vinculados às operações e seu significado.

 
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Quarta, 29 Janeiro 2020 15:04

Música em benefício da vida

Projeto de extensão filiado a programa britânico busca combater transtornos, como ansiedade e depressão, por meio do canto coletivo

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Fotografia: Vinícius de Souza


Texto: Tamires Tavares

Ao passar pelo Teatro Adamastor Pimentas, no Campus Guarulhos, pode-se ouvir um conjunto de vozes entoando músicas populares e convidando o público a cantar (e se encantar). O envolvimento coletivo, proporcionado pelas canções e batizado de Encantamento, é parte do projeto de extensão Pimentas em Cantadas, cujo propósito é a promoção do bem-estar e o combate não apenas aos sintomas de transtorno mental, como a depressão e a ansiedade, mas também à reclusão social, por meio de encontros musicais entre a comunidade universitária e a externa.

Sob a coordenação de Marta Denise da Rosa Jardim, docente do Departamento de História da Arte da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH/Unifesp) - Campus Guarulhos, o projeto existe oficialmente há dois anos como um experimento artístico-antropológico que desenvolve o estudo do ser humano por meio da produção de arte, integrando pesquisa, ensino e extensão. Une pesquisadores das áreas de Ciências Sociais e Letras e artistas locais no desempenho de atividades musicais, além de constituir objeto de pesquisa para o grupo denominado Etnografia e História das Práticas Artísticas e das Línguas das Áfricas (EHPALA). 

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O Teatro Adamastor Pimentas é um bem valioso do Campus Guarulhos, segundo Marta Jardim. No local, o grupo Pimentas em Cantadas pretende também atuar na preparação vocal de atores da Cia. do Caminho Velho e do EHPALA / Fotografia: Vinícius de Souza

A inspiração para o Pimentas em Cantadas surgiu no primeiro semestre de 2016, durante a permanência da docente na School of Anthropology and Museum Ethnography, da Universidade de Oxford (Reino Unido). Nesse período, ela participou do grupo de cantores Ark T, que integra o Sound Resource – um programa governamental que existe há dez anos com o objetivo de reforçar políticas de fomento ao bem-estar mediante práticas musicais, visando ao combate do recolhimento, reclusão e isolamento. Jardim trouxe esse conceito ao Brasil, implementando-o na universidade e recebendo reconhecimento do programa original – ao qual é atualmente vinculado.

Iniciativa do governo britânico, o Sound Resource tem demonstrado impacto social relevante ao reunir pessoas para a produção de atividades coletivas, possibilitando conexões interpessoais em um contexto de solidão epidêmica e de casos – em número crescente – de transtorno mental. 

No Brasil, o número de pessoas que viviam sozinhas aumentou de 6 milhões, em 2005, para 10,4 milhões, em 2015, de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE (2015). A solidão afeta principalmente os idosos no país. Segundo pesquisa realizada em 2017 pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, em parceria com a Bayer, a maior preocupação de brasileiros com mais de 60 anos é o isolamento.

Para a coordenadora, tais práticas – cujo resultado observou no espaço europeu – são benéficas tanto psicológica quanto socialmente, viabilizando relacionamentos interpessoais em um ambiente harmonioso. “O objetivo é sentir-se bem, cantar para enunciar versos e poemas tocantes que fazem bem ao coração, à alma. Há quatro diferenças básicas entre o canto coletivo e o coral: flexibilidade, leveza, objetivos e repertório. Em ambos, a harmonia resulta do cantar em conjunto. Além disso, a proposta é convidar as pessoas a não ficarem solitárias em suas casas”, afirma.

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Entreteses069 Unifesp mostra sua arte

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Realizado nas edições de 2018 e 2019 do evento Unifesp Mostra sua Arte, no Campus Guarulhos, o Sarau de Arteiros do Subversom conectou os estudantes por meio da música e da poesia / Fotografia: Suevelin Cintia dos Santos

Atualmente, o Pimentas em Cantadas é composto por diferentes ações periódicas como o encontro semanal de canto coletivo (Encantamento), aberto à comunidade acadêmica e aos moradores da região dos Pimentas, na periferia de Guarulhos. Para essa atividade, o grupo conta com a presença da regente Myrian Portes e de professores e pesquisadores dos cursos de Ciências Sociais, Letras e Filosofia. É também desenvolvido o Encantamento Público para divulgação do projeto, no qual os componentes cantam juntos em locais públicos no entorno do campus e em eventos da universidade, convidando os espectadores a participarem.

Já o Encantamento Ameríndio é um encontro mensal, de caráter musical, que ocorre na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai), em São Paulo. Dele, participam indígenas que se hospedam no local e são oriundos de várias partes do país, além de estudantes e funcionários da Unifesp e da Casai. 

O Sarau de Arteiros do Subversom também ocorre todos os meses e nele se apresentam musicistas que pertencem à universidade ou moram no distrito dos Pimentas e em locais próximos. Os integrantes do projeto formam, então, uma banda que reproduz as canções ensaiadas e ficam à disposição para acompanhar as demais exibições poéticas e musicais. A preparação do sarau compreende aulas de iniciação musical, sessões de ensaio e ensinamentos sobre o cuidado com os instrumentos, além das rodas de conversa e estudo de literatura. 

Citando a canção Marcha da Quarta-Feira de Cinzas, com letra de Vinicius de Moraes e melodia de Carlos Lyra, a docente enfatiza a importância dessa iniciativa na atual conjuntura política e social. “Nestes tempos em que: ‘Pelas ruas o que se vê / É uma gente que nem se vê/ Que nem se sorri/ Se beija e se abraça/ E sai caminhando/ Dançando e cantando/ Cantigas de amor/ E, no entanto, é preciso cantar/ Mais que nunca é preciso cantar/ É preciso cantar e alegrar a cidade’ ”, recita.

 
Publicado em Edição 12

O grupo de teatro Cia. do Caminho Velho, sediado no Campus Guarulhos, nasceu em 2007 com o objetivo de promover a interação entre universidade e comunidade por meio de práticas artístico-culturais

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Ensaio aberto da peça Piche para estudantes da rede pública de Guarulhos, no Teatro Adamastor Pimentas / Fotografia: Rodrigo Baroni

 

Texto: Paula Garcia

Tudo começou há 12 anos, quando um grupo de estudantes que ingressara na recém-inaugurada Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH/Unifesp) - Campus Guarulhos deparou com um campus universitário em formação, que incorporava o Teatro Adamastor Pimentas, com capacidade para 500 pessoas, e que representava uma promessa de espaço para manifestações artísticas emergentes. Mesmo sem experiência nos palcos, esses jovens lançaram-se à prática teatral e às pesquisas nessa área. Pouco tempo depois, decidiram fundar o coletivo Cia. do Caminho Velho, que se consolidaria como um verdadeiro núcleo de criação artística e reflexão teórica sobre as artes cênicas. Algumas das atividades realizadas pela companhia foram posteriormente sistematizadas sob a forma de projeto de extensão, denominado Grupo de Estudos e Práticas Artísticas da Cia. do Caminho Velho (Gepa).

A trajetória da Cia. do Caminho Velho se entrelaça naturalmente à do Gepa, responsável pela formação de 411 pessoas em oficinas semestrais de iniciação teatral. Foi, entretanto, a relevância do coletivo que propiciou a incorporação do grupo de estudos ao rol de projetos extensionistas da universidade.

No início, os encontros eram liderados por aqueles que possuíam alguma experiência – no caso, Alex Araújo e Alexandre Kerestes, que eram estudantes respectivamente dos cursos de Filosofia e História. Os contornos do coletivo passaram a ser mais definidos quando parte de seus integrantes começou a buscar formação em centros referenciados nas artes cênicas, multiplicando os ensinamentos entre os demais. Em locais como o Centro de Pesquisa Teatral (CPT/Sesc), a SP Escola de Teatro, a Escola Livre de Teatro de Santo André e o Núcleo de Artes Cênicas (NAC), entraram em contato com figuras importantes da cena brasileira – entre elas, Antunes Filho, Lee Taylor, Francesca Della Monica, Cida Moreira, Luiz Päetow, Marici Salomão e Luiz Fernando Marques. Atualmente, o grupo de teatro desenvolve um trabalho contínuo a partir de três frentes: apresentação de peças, organização de mostras e eventos culturais e formação artística.

Coordenado por Janes Jorge, docente do Departamento de História e vice-diretor do Campus Guarulhos, o Gepa, por sua vez, é responsável pela realização dos cursos de iniciação teatral, dramaturgia e cenografia, bem como pela pesquisa avançada em artes cênicas. Semestralmente, são oferecidos dois cursos de iniciação teatral, um no período diurno e outro no noturno, ambos com um encontro semanal, que ocorre no Teatro Adamastor Pimentas ou em sala cedida pela EFLCH/Unifesp. Além de intervenções artísticas nos campi da Unifesp, o grupo de estudos propicia a formação continuada aos atores que concluíram o treinamento inicial.

O diretor e professor de teatro da Cia. do Caminho Velho, Araújo – que é também dramaturgo – ressalta que o Gepa contribui para a expansão do horizonte cultural do campus e seu entorno. Possibilita, ainda, a preparação de bolsistas e voluntários que integram o projeto, uma vez que são incentivados a relacionar o conhecimento adquirido ao longo da formação acadêmica ao planejamento de programas culturais e cursos ministrados.

Do coletivo à extensão universitária

O primeiro grupo de teatro da Unifesp carrega no nome o local de origem: a Estrada do Caminho Velho, localizada no bairro dos Pimentas – região periférica do município de Guarulhos, em São Paulo. Seu trabalho inaugural, no âmbito da universidade, foi o ensaio aberto para a Semana de Orientação Filosófica e Acadêmica, em 2007, que despertou o interesse da comunidade interna pela apresentação de peças e por cursos de teatro. Com isso, no ano seguinte, a companhia resolveu abrir as primeiras turmas do curso de iniciação teatral.

Em 2012, quando as inscrições passaram a ser feitas por formulário eletrônico, encaminhado pelas redes sociais, houve o aumento significativo da participação do público externo. Desde então, o diálogo com a sociedade, principalmente com os segmentos socioeconômicos de maior vulnerabilidade e que se fixam no entorno do Campus Guarulhos, tem contribuído para a difusão da cultura e a divulgação da Unifesp como um espaço público, aberto a todos e não somente à comunidade acadêmica.

“Hoje, 50% dos participantes, em média, provêm da universidade e os outros 50% pertencem à comunidade externa. Em um campus de Ciências Humanas é muito comum discutir questões como as de gênero. Entretanto, quando recebemos pessoas de fora, elas nos fazem perceber os preconceitos que existem dentro de nós, dentro da academia, e isso gera um ‘caldo’ interessante”, argumenta Araújo.

Ao término da iniciação teatral, grande parte dos formados sente necessidade de intensificar suas pesquisas na área artística, como foi o caso de Daiane Sousa, atriz que atualmente ensaia uma das montagens profissionais do grupo. “O Gepa supre essa necessidade, pois é o local onde os concluintes do curso básico vislumbram a oportunidade de continuar o aprimoramento da prática teatral”, assegura o diretor da companhia. 

Carolina Erschfeld, atriz, diretora e uma das fundadoras do coletivo, aponta a parceria com a direção acadêmica da EFLCH/Unifesp como fundamental para a transformação das ações desenvolvidas em projeto de extensão: “Desde o início buscávamos a oficialização de nosso trabalho mediante entendimento com os dirigentes do campus. Percebemos que é importantíssimo esse espaço para os alunos, como o foi para nós no início”, ressalta a atriz.

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Atividade-aula do curso de iniciação teatral / Fotografia: Rodrigo Baroni

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Oficina de sensibilidade artística, parceria com o Departamento de Letras da EFLCH/Unifesp / Imagem de arquivo

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Os fundadores da companhia, Carolina Erschfeld e Alex Araújo / Fotografia: Alex Reipert

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Roda de conversa após apresentação da peça Piche, na SP Escola de Teatro / Fotografia: Rodrigo Baroni

Intervenções artísticas

Além da formação continuada, o Gepa elabora o planejamento de várias atividades culturais da Unifesp, como o Dia Aberto e a Festa das Artes. O objetivo do primeiro evento é apresentar os cursos acadêmicos ministrados pela instituição aos alunos de escolas públicas da periferia de São Paulo. A edição de 2017 contou com um público de mais de 650 pessoas, que ocupou o Teatro Adamastor Pimentas e pôde assistir ao ensaio aberto da peça Piche, encenada pelo coletivo.

O segundo evento, idealizado em conjunto com a direção acadêmica do Campus Guarulhos, possibilita que alunos e servidores possam exibir seus talentos, o que incentiva – por meio de diferentes expressões artísticas – outra vivência afetiva do ambiente universitário e maior integração entre os membros da comunidade. A mostra promove, assim, uma “quebra” do cotidiano, ressignificando os espaços e as relações humanas. 

A companhia já esteve presente em todos os campi da Unifesp, durante eventos acadêmicos como a recepção aos calouros e a exibição de peças e performances de seu repertório.

 

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Publicado em Edição 12

A EFLCH/Unifesp busca estabelecer um diálogo com seu entorno e com a realidade complexa da comunidade local

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(Fotografia: Alex Reipert)

 

Rosângela Dantas de Oliveira
Coordenadora da Câmara de Extensão e Cultura do Campus Guarulhos

Andrea Barbosa
Docente do Departamento de Ciências Sociais da EFLCH/Unifesp

O trabalho de extensão da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH/Unifesp) – Campus Guarulhos, teve início em 2007, fruto do processo de expansão das universidades e dos institutos federais. Vários professores que ingressaram na Unifesp para dar vida ao campus trouxeram também, desde o início, ideias para desenvolver a pesquisa e extensão em humanidades pela instituição - até então conhecida por sua atuação na área da saúde. Paralelamente, mesmo de forma não institucionalizada - sem registro no Sistema de Informações da Extensão (Siex), muitos projetos foram desenvolvidos localmente. Alguns estão em atividade até hoje, como o Projeto Pimentas nos Olhos, o Grupo de Estudos e Práticas Artísticas (Gepa) e o Cursinho Popular Pimentas, explorados na atual Entreteses.

Com a consolidação da expansão e a criação do Centro Acadêmico de Extensão e Cultura (Caec), em 2011, o número de projetos e programas submetidos e aprovados no Siex se diversificou e ampliou. A título de exemplo, foram quatro ações aprovadas no ano de 2016, 26 no ano de 2017, 16 no ano de 2018, e 12 até junho de 2019 – números que aumentam exponencialmente se considerarmos eventos e cursos. Esse aumento ao longo de dez anos é caracterizado por um maior foco em determinadas áreas: formação de professores para a rede pública da educação básica, arte e cultura, história e cultura afro-brasileira e, mais recentemente, direitos humanos. 

É possível identificar a maneira que esse adensamento se configurou ao longo do tempo, bem como a relação dos programas e projetos com o contexto sociopolítico. Nos anos iniciais do campus, encontramos um maior número de ações direcionadas à formação continuada de professores nos mais diferentes âmbitos, desde o ensino de Ciências, Matemática, História, Filosofia e Línguas, até inclusão e igualdade de gênero na educação infantil. Embora essa área continue bastante contemplada, nos últimos três anos cresceu o número de ações envolvendo a formação cidadã e direitos humanos. Podemos citar o Memoref, que oferece aulas de língua portuguesa para imigrantes e refugiados e o curso de formação de Promotoras Legais Populares dos Pimentas. 

A EFLCH/Unifesp busca estabelecer um diálogo com seu entorno e com a realidade complexa da comunidade local, incluindo o bairro dos Pimentas - em que se localiza. Entendemos que consolidar esse processo talvez seja hoje o maior desafio, pois as demandas nascidas desse encontro (e às vezes confronto) muitas vezes se apresentam com uma urgência que as diversas limitações de nosso trabalho impede de atender.

 

Campus Guarulhos • extensão em números:
43 programas e projetos de extensão
1 curso de aperfeiçoamento e especialização
148 cursos de extensão e eventos
Dados de 2018
 
Publicado em Edição 12