Fazer “igual aos Estados Unidos”? Já estamos fazendo. Uma pesquisa do diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz, revelou que a Unifesp cultiva uma relação com empresas tão intensa quanto as maiores universidades do vizinho norte-americano. Em artigo publicado no livro Repensar a Universidade - Desempenho Acadêmico e Comparações Internacionais (2018), Cruz mostra que a Unifesp é a segunda instituição de ensino superior no estado de São Paulo em quantidade de artigos científicos publicados (3,1%), entre 2015 e 2017, em coautoria com a iniciativa privada, atrás somente do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), com aproximadamente 4,5%.
Cruz utilizou o serviço de indexação de citações científicas online Web of Science, considerando a produção acadêmica das universidades em São Paulo e as norte-americanas Texas Tech University (TTU), Universidade de Nebraska (UN Lincoln), Universidade da Califórnia em Davis (UC Davis), Universidade da Califórnia em Berkeley (UC Berkeley) e Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), entre os anos de 1970 e 2017. Posteriormente, efetuou um comparativo entre todas elas.
Em números, o percentual de 3,1% significa 236 artigos, produzidos junto a empresas como Bayer, Pfizer e Roche, que colocam a Unifesp à frente de outras grandes instituições públicas de ensino em São Paulo, a saber Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Outro dado interessante revelado pelo diretor científico da Fapesp mostra a intensificação da relação entre universidades e empresas entre os anos 2000 e 2016, quando a coautoria universidade-empresa decuplicou (cresceu 10 vezes). Cruz ressalta, entretanto, que percentuais comparáveis não devem ser entendidos como efeitos comparáveis. Enquanto a Unifesp publica em média 78 artigos em coautoria com as empresas, em um total de 2.500 trabalhos (em média) por ano, as universidades dos EUA mostradas publicam milhares de artigos no mesmo intervalo de tempo. Porém, reforça em seu artigo que mesmo lá fora, onde se supõe intensa interação entre universidades e empresas em pesquisa, os percentuais de coautoria variam entre 1% e 5%. Já para as sete universidades no estado de São Paulo mostradas, o percentual fica entre 1,8% e 4,3%.
Para o pró-reitor adjunto de Pós-Graduação e Pesquisa, Ruy Campos, a pesquisa divulgada pela Fapesp mostra que a Unifesp, assim como as outras públicas, não está fechada para o mercado. “Quase metade dos nossos pesquisadores estão trabalhando no setor privado, com tecnologia e inovação, e pretendemos aumentar esse número dentro dos princípios que norteiam a instituição. Em 2017, em torno de R$ 25 bilhões foram aplicados em pesquisa e desenvolvimento no Estado de São Paulo, dos quais aproximadamente 50% advém de empresas. Isso é positivo, pois uma das limitações do Brasil, enquanto país em processo de industrialização, é a dependência de tecnologia. Quando você começa a ver que a universidade está formando pessoas para trabalhar para as empresas, todos saem ganhando. Os países já industrializados sempre investiram nessas parcerias, o que revela que estamos no caminho certo”, comemora.
Percentual médio entre 2015-2017 de artigos de cada universidade com coautores em empresas (Fonte: FAPESP).