Por Denis Dana e Marcos Zeitoune
Fruto de uma dissertação de mestrado da aluna Mônica Oscalices, um estudo realizado pelas professoras da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EPE – Unifesp) Ruth Ester A .Batista, Cassia R. V. Campanharo, Maria Carolina B.T. Lopes e Meiry F. P. Okuno, em parceria com o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, revelou que a dupla intervenção educativa, no momento da alta, e o acompanhamento telefônico após a alta de pacientes com insuficiência cardíaca (IC) em um serviço de emergência é efetiva, e resultou em maior adesão terapêutica e diminuição das barreiras à adesão, do número de reinternações hospitalares e de óbitos.
Para chegar a essa conclusão, o estudo avaliou 201 pacientes internados em pronto socorro e com o diagnóstico de IC. Estes pacientes foram divididos, aleatoriamente e por sorteio, em dois grupos: 101 pacientes no Grupo Controle (GC) e 100 no Grupo Intervenção (GI), com média de idade de 63 anos.
Metodologia
O GC recebeu orientações de alta usuais, pela equipe de enfermagem do setor, por meio de folder explicativo padronizado pela instituição, com informações sobre restrições alimentares, exercícios recomendados, importância da adesão medicamentosa e retorno ao serviço de emergência em caso de piora dos sinais e sintomas. “Após três meses da alta hospitalar, o GC foi contatado, por meio telefônico, pela pesquisadora, e foram avaliadas a adesão e as barreiras para a não adesão às medidas farmacológicas, a adesão às medidas não farmacológicas, a ocorrência de reinternação hospitalar e óbito no período. A ligação teve em média 15 minutos de duração”, explica Ruth, orientadora do estudo.
Já o GI recebeu orientações de alta da pesquisadora, no leito em que o paciente estava internado. Porém, antes do início da orientação, a pesquisadora avaliou o conhecimento prévio do paciente em relação à doença e tratamento. A orientação iniciou-se com a apresentação ao paciente de um vídeo ilustrativo, da Associação Brasileira de Insuficiência Cardíaca, sobre a definição de IC. “Após essa etapa foi realizada orientação de alta individualizada, de acordo com as necessidades de cada paciente, por meio de leitura de folders explicativos. Durante a orientação a pesquisadora tinha em mãos a prescrição médica para esclarecimento de dúvidas dos pacientes e familiares em relação ao uso dos medicamentos e possíveis efeitos colaterais. As orientações duraram em média 20 minutos”, detalha a responsável pelo estudo, Mônica.
O estudo foi realizado durante o ano de 2016, entre janeiro e dezembro, no pronto socorro de uma instituição pública especializada em cardiologia, com seis leitos de emergência, 21 de observação e 40 de retaguarda. O artigo “Orientação de alta e acompanhamento telefônico na adesão terapêutica da insuficiência cardíaca: ensaio clínico randomizado” foi publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem.
Uma questão de saúde pública
A Insuficiência Cardíaca (IC) representa um problema de grande magnitude, pois é a segunda causa de morte por doenças cardiovasculares no Brasil. É frequente a procura dos serviços de emergência por esta população e são elevadas as taxas de hospitalizações devido às complicações clínicas, o que configura um problema recorrente de saúde pública há quase 20 anos.
O elevado número de admissões hospitalares por IC, quase um milhão de internações anuais, deve-se comumente à descompensação da doença que pode ser desencadeada por fatores cardiovasculares, como isquemia e arritmias, e não cardiovasculares, como infecções variadas. Outro fator importante na descompensação clínica desses pacientes é a não adesão ao tratamento indicado para a doença.
Estima-se que 50% dos pacientes com doenças crônicas não são aderentes ao tratamento e, de forma voluntária ou involuntária, a não adesão ao tratamento se deve a fatores como desconhecimento das medicações, não entendimento da prescrição médica, falta de crença no tratamento e condições psicossociais dos pacientes.
A orientação de alta é fator importante na melhora da compreensão do paciente referente à doença e à adesão ao tratamento. Para uma orientação de alta eficaz, é importante que ela seja realizada de forma individualizada e de acordo com o entendimento do paciente a respeito de sua doença.
Estudos reforçam a associação da educação em saúde com a melhora do conhecimento sobre IC pelos pacientes, sendo que o enfermeiro desempenha um importante papel na educação do paciente e adesão ao tratamento.
“O resultado desse estudo demonstra a importância da orientação de alta individualizada e acompanhamento telefônico, realizada pelo enfermeiro, para aumentar a adesão ao tratamento nos pacientes com IC”, alerta Ruth. Ela conclui: “Recomenda-se aos serviços que implantem estratégias de orientação de ata individualizada, que estejam focados nas particularidades de cada paciente e suas condições clínicas e sociais, além do acompanhamento pós alta, que pode ser telefônico e que certamente fará toda diferença para manutenção da saúde.”