Por Maria Elisabeth Ferraz*
No dia 29 de outubro é celebrado o Dia Mundial de Combate ao AVC (Acidente Vascular Cerebral). Infelizmente, não é propriamente um dia de comemoração, já que o AVC é a segunda causa de mortalidade no Brasil, e até poucos anos atrás era a primeira causa. Se as mortes por doença cardíaca forem consideradas com aquelas por AVC, as doenças vasculares tornam-se a primeira causa de morte em nosso país. Mas nem tudo está perdido: são observados grandes avanços nos tratamentos da fase aguda do AVC e no tratamento desses doentes em unidades de terapia intensiva. É preciso, cada vez mais, difundir na população noções de causas e de como proceder diante de suspeita de AVC.
Há dois tipos de AVC: o AVC Isquêmico (AVCI) e o AVC Hemorrágico (AVCH). Os AVCI são cerca de 80–85% dos casos de AVC, enquanto o AVCH corresponde ao restante dos casos. No AVCI, há diminuição ou interrupção total do fluxo de sangue em uma artéria, levando a lesão frequentemente irreversível do tecido cerebral. No AVCH, o que ocorre é extravasamento de sangue para o tecido cerebral, devido à ruptura ou lesão da parede de uma artéria.
Os principais fatores de risco, ou seja, os fatores causadores da doença arterial que leva ao AVCI, podem ser divididos em fatores tratáveis e os não tratáveis. Dentre os não tratáveis, talvez o principal seja a idade, sendo que quanto mais ficamos idosos, maior é a chance de termos um AVC. Dentre os fatores tratáveis estão doenças muito frequentes na população: hipertensão arterial, diabete, colesterol e triglicérides elevados (dislipidemia) e obesidade. São elas que devem ser tratadas e controladas sempre com visitas frequentes ao clínico geral em um posto de saúde, bem como a realização periódica de exames de sangue. Isso evita que a parede da artéria fique lesada ou inflamada, o que vai causar deposição de gorduras e cálcio, levando à formação de placas nestas paredes, o que em última instância causa o entupimento ou a diminuição do calibre da artéria, com consequente interrupção ou diminuição extrema do fluxo de sangue, levando ao AVC. Há ainda outros fatores de risco, como o sedentarismo, tabagismo e abuso de bebidas alcoólicas, ou seja, hábitos de vida que podem ser modificados e até evitados.
Em relação ao AVCH, a principal causa é a hipertensão arterial mal controlada. Portanto, esse é mais um fator de risco tratável e que pode ser controlado com visitas periódicas ao médico e uso correto de medicação, além de consumo de pouco sal na alimentação.
E como eu posso desconfiar que estou tendo um AVC?
O AVC é uma situação que se instala de maneira súbita, bem aguda. Dessa forma, qualquer sintoma neurológico de instalação súbita deve fazer o doente ou seu familiar supor que possa se tratar de um AVC, e o paciente deve imediatamente ser levado a um pronto-socorro, para que sejam feitos exames e tomadas medidas de controle e de tratamento desta fase inicial do AVC.
E quais são os sintomas iniciais mais frequentes de AVC? São eles:
1) Alteração súbita da fala ou da compreensão do que é falado para o doente;
2) Perda súbita de força no braço ou na perna, dificuldade súbita para andar ou ficar em pé ou para segurar objetos na mão;
3) Quadro súbito de “entortamento” ou assimetria da boca, parecendo que ela está repuxando para um dos lados do rosto;
4) Tontura ou desequilíbrio súbitos;
5) Dor de cabeça muito forte, a pior que já teve na vida, que não melhora com analgésico;
6) Indivíduo que se sente mal e fica muito sonolento ou não mais responde aos chamados feitos a ele.
Se houver qualquer uma destas queixas que tenha se iniciado subitamente (“de repente”), o indivíduo deve ser encaminhado a um pronto-socorro, já que as terapêuticas disponíveis para diagnóstico e tratamento do AVC em sua fase aguda tem se modernizado muito. Outra ação muito importante para os doentes que tiveram AVC é a reabilitação física e apoio psicológico.
Quanto mais precoce for o início da fisioterapia, terapia fonoaudiológica, terapia ocupacional e apoio psicológico, maior é a chance de melhoria de qualidade de vida e recuperação de déficits que porventura tiverem permanecido após o evento isquêmico ou hemorrágico.
Concluindo, para evitar as doenças cerebrovasculares é importante manter hábitos de vida saudáveis, fazer exercício físico regularmente, não fumar e evitar bebida alcoólica em excesso. Além disso, é necessária avaliação clínica periódica, na tentativa de flagrar e tratar precocemente a hipertensão arterial, o diabete ou a dislipidemia. E, em caso de suspeita de AVC, o doente deve ser encaminhado o mais breve possível para um serviço hospitalar, para que o diagnóstico seja feito e o tratamento correto instituído o mais precocemente possível.
*Neurologista e coordenadora do pronto-socorro de Neurologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp)
As opiniões expressas no artigo não representam a posição oficial da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)