Por Denis Dana
(Imagem ilustrativa)
A redução de danos sobre o bem-estar dos estudantes, principalmente os de baixa renda, é o principal problema para o qual o setor de educação deve se preparar diante do atual cenário da pandemia de covid-19. Quem faz o alerta são as professoras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Sabine Pompéia, do Departamento de Psicobiologia, e Marina Puglisi, do Departamento de Fonoaudiologia.
“Além da desigualdade no acesso à educação remota e a falta de um acompanhamento escolar qualificado dos pais - os adultos com quem esses jovens em geral convivem são pouco e/ou mal escolarizados – são jovens que vivem aglomerados com suas famílias, com pouco espaço físico e em condições incompatíveis com o trabalho escolar”, descreve Pompéia.
De acordo com a professora, “ao isolamento social, soma-se à situação todos os problemas vividos por essas famílias que estão sem renda, como fome, desamparo, negligência, doenças, além da violência doméstica, observada como mais uma consequência desses fatores. Nesse cenário caótico e no âmbito da educação, deve-se primeiramente almejar a mitigação dos prejuízos à saúde mental e física das crianças, uma vez que, como revelam estudos em neurociência, tais estressores até o final da adolescência geram graves prejuízos futuros.”
A importância da escola
Especialmente nas comunidades marginalizadas, escolas são essenciais não somente para prover a educação formal, mas também porque fornecem alimentos na forma de merenda, reduzem o fardo econômico das famílias e supervisionam os jovens enquanto seus responsáveis estão trabalhando. Para alguns jovens, a escola representa a possibilidade de almejar uma vida melhor.
Dada a importância, é fundamental que professores e profissionais das escolas sejam treinados para que, na volta às aulas, estejam preparados para identificar e saber como atuar diante de evidências de possível abuso, negligência, deficiência nutricional e falta de atividade física durante o isolamento social. “Os educadores precisarão estar preparados para acolher os estudantes e estar cientes de que esses jovens não voltarão às aulas como eram antes. Eles estarão inseguros e provavelmente mais desatentos, agressivos e/ou apáticos, sem condições de absorver de imediato o conteúdo pedagógico. Para tamanho desafio, esses profissionais deverão igualmente contar com muito apoio”, destaca Puglisi.
As docentes ressaltam que as autoridades competentes já deveriam estar planejando estratégias de mitigação dos prejuízos, a curto e longo prazo, do aprofundamento das desigualdades socioeconômicas e da piora da saúde das crianças desassistidas durante a pandemia, prioritariamente com um olhar mais voltado aos menos favorecidos e que considere os riscos diferenciais sofridos por meninos e meninas.
“Em outras palavras, é preciso discutir com os estudantes e as comunidades nos entornos das escolas o que aprendemos com essa experiência e como podemos atuar para promover resiliência e maior suporte social e econômico. Experiências anteriores e planos de atuação já propostos precisam ser discutidos, adequados à nossa realidade e acompanhados para determinar os programas de maior sucesso que poderão ser usados futuramente. A Unesco, por exemplo, se propõe a dar suporte aos Ministérios da Educação ao redor do mundo. Parcerias internacionais, baseadas em evidências científicas e em experiências passadas, precisam ser instituídas para compartilhar as estratégias de maior sucesso, como proposto pela Rede para Políticas e Cooperação Internacional para Educação e Treinamento. É preciso também redobrar o apoio a iniciativas de aumento do financiamento público para melhorar as oportunidades educacionais no Brasil”, afirma Pompéia.
Puglisi conclui: “temos que pensar (e agir) melhor. É urgente organizar iniciativas no intuito de diminuir as ameaças à saúde dos jovens e as disparidades socioeconômicas e educacionais após a pandemia, de modo a honrar os compromissos da Convenção das Nações Unidas sobre Direitos da Criança e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”.