Por Alexandre Milanetti
(Imagem ilustrativa)
Velhas e conhecidas doenças infectocontagiosas podem complicar ainda mais a já caótica situação da população afetada pelas intensas chuvas que atingiram o sul da Bahia no final de dezembro e mais recentemente boa parte do território do estado de Minas Gerais. Não bastassem as consequências mais visíveis de todo desastre natural, como perdas de vidas humanas, animais, bens materiais e infraestrutura, outros inimigos quase invisíveis podem dar as caras neste início de ano.
O professor Eduardo Medeiros, pesquisador e infectologista da Universidade Federal de São Paulo e do Hospital São Paulo, hospital universitário (HSP/HU Unifesp), alerta que as enchentes favorecem o aumento de casos de leptospirose (doença causada por uma bactéria que está presente na urina do rato), hepatite tipo A, diarreias infecciosas e doenças transmitidas por mosquitos como dengue, Chikungunya e Zica vírus, pois aumentam os criadouros de mosquitos nas coleções de água. E ele ainda completa: “A perda dos pertences, a destruição da moradia, ter que alterar a sua vida e a rotina de forma brusca, podem determinar quadros de depressão, ansiedade grave com importante impacto psicológico”.
Com a pandemia de covid-19 ainda em curso e a explosão de casos gerada pela alta transmissibilidade da variante Ômicron, somada ao crescimento dos casos de gripe causada pelo subtipo da influenza H3N2 (variante Darwin), a ajuda aos milhares de desabrigados pelas chuvas torna-se ainda mais fundamental e requer atenção a certos cuidados. “Situações de desastres naturais como estas desestruturam o atendimento médico e dificultam a implantação de medidas de prevenção contra doenças respiratórias. Muitas pessoas perdem suas casas e são transferidas para locais com aglomeração e, muitas vezes, sem ventilação adequada, favorecendo a transmissão de doenças respiratórias como a influenza e a covid-19. É importante garantir as medidas preventivas para estas doenças como uso de máscara, álcool-gel, distanciamento e manter os locais bem arejados”, indica Medeiros.
O infectologista da Unifesp ainda diz que são fundamentais campanhas de esclarecimento sobre a transmissão de doenças, especialmente a leptospirose e as doenças já citadas transmitidas por mosquitos. “É importante que seja montado um serviço médico para o acompanhamento dos primeiros sintomas e o diagnóstico rápido para o tratamento adequado”, completa o pesquisador.
Somente em Minas Gerais, segundo dados divulgados pela Defesa Civil do estado no último sábado (15), 44% dos municípios mineiros (377) decretaram situação de emergência. O número de pessoas desalojadas já chega a 45.815. Na Bahia, a população afetada chegou a quase meio milhão de pessoas segundo avaliação do governo estadual.