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Parceria entre Unifesp e USP alia as áreas da nutrição, engenharia e inteligência artificial

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Serão avaliados aspectos como segurança alimentar e nutricional, atividade física, ansiedade e comportamento alimentar

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O Campus Baixada Santista totalizava, em 2018, oito programas e 50 projetos de extensão ativos, um terço do total da instituição

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Fotografia: José Luiz Guerra

 

Luciana Togni de Lima e Silva Surjus 
Coordenadora da Câmara de Extensão e Cultura do Campus Baixada Santista

Liu Chiao Yi Inoue
Vice-coordenadora da Câmara de Extensão e Cultura do Campus Baixada Santista

Anthony Andrey Diniz
Representante da Câmara de Extensão e Cultura do Campus Baixada Santista

Marcella Santos
Secretária executiva da Câmara de Extensão e Cultura do Campus Baixada Santista

Gelson Ribeiro dos Santos
Estudante do curso de Engenharia Ambiental

O compromisso com uma formação cientificamente qualificada e socialmente referenciada faz o Campus Baixada Santista da Unifesp se destacar com um terço do total das ações extensionistas, finalizando 2018 com oito programas e 50 projetos de extensão ativos. Das 8 áreas temáticas propostas pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras (Forproex), os oito programas desenvolvidos em 2018 vincularam-se aos Direitos Humanos e Justiça (33,4%), Saúde (33,3%), Educação (22,2%) e Trabalho (11,1%). Sendo desenvolvidos pelos departamentos de Políticas Públicas e Saúde Coletiva (67%), de Biociências, de Ciências do Movimento Humano, e de Gestão e Cuidados em Saúde (respectivamente, cada um com 11% dos programas ativos).

Já os projetos contemplaram quase a totalidade das temáticas previstas, com exceção da Comunicação, tendo em sua distribuição a predominância nas áreas da Saúde (48%), seguidos de Cultura (13,5%), Educação (13,5%), Meio Ambiente (9,6%), Direitos Humanos e Justiça (7,7%), Trabalho (5,8%), Tecnologia e Produção (1,9%). Foram desenvolvidos em sua maioria pelos departamentos de Ciência do Movimento Humano (27,8%), de Políticas Públicas e Saúde Coletiva (14,8%), de Gestão e Cuidados em Saúde (13%), de Saúde, Clínicas e Instituições (11,1%) e 11,1% pelo Imar/Unifesp, ainda em 2018 enquanto departamento.

Comparando com o ano de 2014, podemos observar a ampliação das áreas de inserção, inicialmente com um predomínio dos projetos na área da Saúde (66,3%), com maior crescimento percebido nas áreas do Meio Ambiente e da Cultura atrelado à expansão da atuação do recente Imar/Unifesp que, naquele ano, realizava apenas 1,3% dos projetos de extensão do campus.

A inscrição comunitária segue se intensificando na Baixada Santista em 2019, tendo em curso 72 projetos com relevante potencial inovador e de transformação social. A Câmara de Extensão e Cultura vem engendrando esforços para realizar o georreferenciamento dos mesmos, visando aumentar sua visibilidade e acompanhar os impactos dessa inserção.

 

Campus Baixada Santista • Extensão em números:
58 programas e projetos de extensão
7 cursos de aperfeiçoamento e especialização
2 programas de residência multiprofissional
118 cursos de extensão e eventos
Dados de 2018
 
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Estudo inédito da Unifesp analisou as características nutricionais de crianças e adolescentes com até 18 anos

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Estudo inédito observa tendências comportamentais dos cães no país

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Sessão solene celebrou os 15 anos da criação do campus

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Inscrições abertas para mesa-redonda até o dia 10 de outubro

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Evento, que será realizado no dia 23 de outubro, traz uma mostra interativa sobre os seus cursos de graduação
Publicado em Eventos Arquivados
Quarta, 26 Junho 2019 15:27

Na mira da “agulha”

Vacina experimental, capaz de erradicar o parasita Trypanosoma cruzi em camundongos, será testada em animais de maior porte e posteriormente em humanos

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* As imagens acima são de autoria de Luiz Henrique Gagliani, docente do Centro Universitário Lusíada

 

Texto: Ana Cristina Cocolo

Pesquisadores do Instituto de Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) - Campus Baixada Santista obtiveram resultados promissores de uma vacina criada para combater o Trypanosoma cruzi, parasita causador da Doença de Chagas. Ela está entre uma das quatro principais causas de morte no país pelas chamadas doenças negligenciadas – que são aquelas causadas por agentes infecciosos ou parasitas e consideradas endêmicas em populações de baixa renda. 

Atualmente os indivíduos infectados contam apenas com dois medicamentos quimioterápicos, cuja ação é variável, mostrando-se mais eficazes na fase aguda da doença. “Os medicamentos atualmente disponíveis estão há 40 anos no mercado e uma nova abordagem terapêutica se faz urgentemente necessária e acredito que estamos no caminho certo para o desenvolvimento de um método vacinal eficaz que poderá beneficiar milhões de pessoas cronicamente infectadas em nosso país”, afirma Flávia Andressa Mazzuco Pidone, autora do estudo apresentado como tese de doutorado no Programa Interdisciplinar em Ciências do ISS/Unifesp.

A vacina, testada em camundongos, conseguiu erradicar a doença dos animais a partir do estresse oxidativo (excesso de radicais livres na célula do agente infeccioso), da genotoxicidade (efeitos tóxicos sobre o material genético do parasita) e do aumento da resposta inflamatória (quebra da barreira de defesa do microrganismo). Esse conjunto de ações gerou uma potente resposta imune celular, marcada presença de radicais livres, dano ao DNA e aumento da resposta inflamatória nas células hospedeiras. 

De acordo com Pidone, tanto a vacinação profilática (feita antes da infecção) quanto a vacinação terapêutica (feita após a infecção) foi capaz de promover uma resposta contra o parasita, impedindo a morte dos animais infectados. O trabalho foi orientado por Daniel Araki Ribeiro e José Ronnie Carvalho de Vasconcelos, docentes no Departamento de Biociências da Unifesp. 

Pidone explica que outros grupos de pesquisadores testaram vacinas com antígenos do parasita, sem muito sucesso. “Acreditamos que o sucesso obtido em nosso estudo se dá pelo fato de estarmos trabalhando com diversos protocolos vacinais que utilizam, principalmente, os antígenos TS (transialidase) e ASP-2 (proteína 2 da superfície de amastigota), cobrindo tanto a forma infectante do patógeno, como a forma replicativa, respectivamente”, diz. “Associado a isso, temos o diferencial de utilizarmos vacinas com o gene ASP-2 em camundongos extremamente susceptíveis à infecção do Trypanosoma cruzi, como é o caso da linhagem chamada A/Sn. 

Essa linhagem, segundo a pesquisadora, responde muito mal à infecção por esse parasita porque a resposta imunológica apresentada pelo animal ocorre muito depois do pico da parasitemia. Ou seja, quando a resposta imune surge, já houve uma grande colonização tecidual parasitária. 

Pidone afirma que uma das dificuldades em ainda não se ter descoberto uma vacina contra a doença é o fato de que o parasita utiliza-se de vários mecanismos de evasão da resposta imune do hospedeiro, que vão desde sua habilidade de diferenciação em formas intracelulares (amastigotas), que se utilizam dessa característica para escapar da ação dos anticorpos, até sua incrível capacidade de variação antigênica. “Outra estratégia adaptativa de sobrevivência do Trypanosoma cruzi encontra-se na colonização de tecidos alvos, como o tecido adiposo”, diz. “Lá o parasita persiste em estado latente, evitando as defesas do hospedeiro”. 

O próximo passo para testar a eficácia da vacina, antes de chegar a ser usada em seres humanos, já está em andamento. Para a execução da chamada fase pré-clínica, na qual são utilizados animais de maior porte, Pidone conta com a colaboração de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do aporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas (INCT-V).

Além dessa pesquisa, Pidone também teve aprovado um projeto pelo CNPq (MCTIC/CNPq nº28/2018) no qual busca identificar os genes que estão relacionados com o processo de morte do tecido cardíaco de animais infectados com Trypasoma cruzi.

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Flávia Andressa Mazzuco Pidone, autora do estudo (Imagem: Giovana Jamar)

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Ninhos de amastigota em tecido hepático de camundongos infectados com Trypanosoma cruzi e vacinados (Imagem: Arquivo pessoal)

 

Imunidade celular

A vacina foi testada em 16 camundongos, divididos em quarto grupos distintos: Grupo Controle (1): os animais não passaram por nenhum tratamento terapêutico ou foram infectados; Grupo Infectado (2): os animais foram infectados com o Trypanosoma cruzi; Grupo Imunizado (3): os animais foram imunizados com a vacina, por via intramuscular; Grupo Imunizado e Infectado (4): os animais foram imunizados com a vacina e infectados com o parasita no mesmo dia. 

A quantificação da presença de parasitas vivos no sangue dos animais foi realizada diariamente, a partir do nono até o 13º dia após a infecção. Durante esse período observou-se que houve uma diminuição significativa na quantidade de parasitas por mililitro de sangue no grupo que recebeu a vacina e foi infectado, quando comparados aos animais que foram apenas infectados. 

Nas análises histopatológicas do coração e do fígado, foi possível identificar considerável número de ninhos de amastigota (uma das formas de apresentação do Trypanosoma cruzi) em tecido cardíaco e no tecido do fígado no grupo dos animais que foram infectados (Grupo 2). Já no grupo dos animais (Grupo 4) que foram imunizados com a vacina e infectados no mesmo dia, notou-se drástica diminuição do número de ninhos presentes. Os animais do grupo controle (Grupo 1) e do grupo que foi apenas imunizado (Grupo 3) não apresentaram alterações morfológicas perceptíveis e não detectaram-se a presença de ninhos. 

Outras análises também revelaram danos no DNA em células sanguíneas dos camundongos infectados com Trypanosoma cruzi e imunizados, mostrando que a vacina potencializa a genotoxicidade – efeitos tóxicos sobre o material genético – sobre essas células, mecanismo esse importante para erradicar o parasita.

Quarta causa de morte entre todas as doenças negligenciadas

Chagas é uma doença tropical causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, cujo vetor (veículo de transmissão) é o inseto conhecido como barbeiro. Endêmica em 21 países da América Latina, pertence a uma vasta lista de doenças consideradas negligenciadas pela Organização Mundial da Saúde, já que menos de 1% das pessoas com o problema recebem o tratamento antiparasitário. 

Durante a fase crônica da infecção, 30% das pessoas desenvolvem problemas cardíacos, que podem levar à morte súbita, e 10% problemas digestivos e/ou neurológicos graves e incuráveis. 

De acordo com a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDI – sigla em inglês para Drugs for Neglected Diseases Iniciative), organização sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos para doenças negligenciadas, atualmente há entre seis e oito milhões de pessoas infectadas somente na América Latina e outras 70 milhões correm o risco de contrair a doença. Os dados apontam ainda que aproximadamente 14 mil pessoas perdem suas vidas todos os anos nessa região em razão da Doença de Chagas e que menos de 10% das pessoas com o problema são diagnosticadas. 

No Brasil, o Ministério da Saúde estima que haja cerca de um milhão de pessoas infectadas pelo parasita. No entanto, cita estudos recentes que apontam um número bem maior: entre 1,9 milhões e 4,6 milhões, devido à taxa de mortalidade por Doença de Chagas estar entre as quatro maiores causas de morte por doenças infecciosas e parasitárias no país.

Apesar das estratégias de controle e prevenção, ainda é grande o risco de transmissão pelo inseto. Entre 2008 e 2017, foram registrados casos da doença na sua forma aguda (quando não há presença de sintomas ou quando os mesmos – que podem incluir erupções na pele, febre, diarreia, entre outros – duram de dois a quatro meses) em quase todos os estados da federação. A região Norte, no entanto, concentra a maior parte deles (95%), sendo o Estado do Pará o responsável por 83% desses registros. 

Formas de transmissão da doença

Por vetor: por meio das fezes infectadas do inseto barbeiro que defeca ao lado de sua picada e, quando a pessoa coça o local, faz com que as fezes entrem na corrente sanguínea.

Transfusão de sangue ou transplante de órgãos: apesar do risco, houve queda significativa dessa forma de transmissão devido ao melhor controle de qualidade nos bancos de sangue. 

Oral: ingestão de alimentos contaminados com o inseto ou suas fezes (açaí, cana de açúcar, entre outros). Essa forma de transmissão, que ocorre principalmente na região Amazônica, pode ser uma das mais graves devido ao alto número de parasitas que entram no organismo. 

Materna: a mãe transmite ao filho durante a gestação.

Fonte: Ministério da Saúde e DNDI

Artigos relacionados:
RIBEIRO, Flávia Andressa Pidone; PONTES, Camila; GAZZINELLI, Ricardo T.; BRUNA-ROMERO, Oscar; LAZZARIN, Mariana Cruz; SANTOS, José Fontes dos; OLIVEIRA, Flávia de; PISANI, Luciana Pellegrini; VASCONCELOS, José Ronnie Carvalho de; RIBEIRO, Daniel Araki. Therapeutic effects of vaccine derived from amastigote surface protein-2 (ASP-2) against Chagas disease in mouse liver. Cytokine, v. 113, p. 285-290, jan. 2019. Disponível em: <https://doi.org/10.1016/j.cyto.2018.07.017 >. Acesso em: 27 fev. 2019.

RIBEIRO, Flávia Andressa Pidone; PONTES, Camila; MACHADO, Alexandre De M. V.; BRUNA-ROMERO, Oscar; QUINTANA, Hananiah T.; OLIVEIRA, Flávia de; VASCONCELOS, José Ronnie Carvalho de; RIBEIRO; Daniel Araki. Therapeutical effects of vaccine from Trypanosoma cruzi amastigote surface protein 2 by simultaneous inoculation with live parasites. Journal of Cellular Biochemistry, v. 120, n. 3, p. 3.373-3.383, mar. 2019. Disponível em: <https://doi.org/10.1002/jcb.27608 >. Acesso em: 27 fev. 2019.

Tese relacionada:
PIDONE, Flávia Andressa Mazzuco. Eficácia da vacina com o gene da ASP-2 de Trypanosoma cruzi em múltiplos órgãos contra a Doença De Chagas em camundongos: aspectos histopatológicos, inflamatórios e toxicogenômicos. 2018. Tese (Doutorado em Ciências da Saúde) – Instituto de Saúde e Sociedade, Universidade Federal de São Paulo, Santos.

 
Publicado em Edição 11

Pesquisadores do ISS/Unifesp que participam de projeto da ONU identificam nove frutos brasileiros que fornecem 84 compostos bioativos, incluindo fenóis, carotenoides, antocianinas e iridoides, mas são pouco consumidos no país

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Primeira linha: araçá, cagaita e cambuci; na segunda, jabuticaba, jatobá e jenipapo; na terceira, mangaba, pequi e pitanga

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Texto: Ana Cristina Cocolo

Das mais de 50 mil plantas comestíveis disponíveis em todo o mundo, apenas 15 delas, principalmente o arroz, o milho e o trigo, são responsáveis por 90% das demandas de energia dos seres humanos, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, sigla em inglês). E o Brasil, que é berço de 18% de toda a biodiversidade vegetal do planeta, ainda possui uma parcela considerável da população que sofre de sérias deficiências nutricionais, obesidade e doenças crônicas. 

Um grande projeto nomeado Biodiversidade para Alimentação e Nutrição (Biodiversity for Food and Nutrition), liderado pela ONU Meio Ambiente em parceria com a Biodiversity International, a FAO e os governos do Brasil, Quênia, Sri Lanka e Turquia, prevê, com uma iniciativa global inédita, desenvolver e testar uma abordagem multissetorial que envolva pesquisas, políticas, mercados, conscientização, uso sustentável e integrado da biodiversidade agrícola, entre outras práticas, para melhorar a nutrição mundial. 

Um dos vários estudos desenvolvidos pelos pesquisadores brasileiros que participam do projeto avaliou os compostos bioativos – que têm um efeito sobre organismos vivos, tecidos ou células – de nove frutos brasileiros pouco explorados no país: a pitanga (Eugenia uniflora), a cagaita (Eugenia dysenterica), o araçá (Psidium cattleianum), jenipapo (Genipa americana), cambuci (Campomanesia phaea), pequi (Caryocar brasiliense), jabuticaba (Plinia cauliflora), jatobá (Hymenaea courbaril) e mangaba (Hancornia speciosa).

No total, foram identificados 84 compostos bioativos, entre eles compostos fenólicos, carotenoides, antocianinas e iridoides. Os carotenoides e as antocianinas são pigmentos naturais não produzidos em nosso organismo e extremamente importantes na alimentação humana; apresentam diversas funções fisiológicas, atuando no fortalecimento do sistema imunológico; possuem atividade antioxidante e anti-inflamatória. 

Os carotenoides são pigmentos responsáveis pela cor amarela, laranja e vermelha de muitos alimentos. Quatro tipos deles (beta-caroteno, alfa-caroteno, gama-caroteno e beta-criptoxantina) são os precursores da vitamina A. Na natureza existem mais de 900 tipos de carotenoides. Já as antocianinas são pigmentos pertencentes ao grupo de flavonoides e responsáveis pelas cores de frutas, flores e folhas que abrangem o vermelho-alaranjado, o vermelho vivo, o roxo e o azul. Sua função na natureza é proteger as flores, frutas e folhas contra os raios ultravioletas (UV) e desativar radicais livres responsáveis pelo envelhecimento e desenvolvimento de doenças crônicas (substâncias tóxicas). 

A pesquisa também identificou no jenipapo e no jatobá novos iridoides, que são compostos orgânicos, com sabor amargo, que têm como principal função proteger as plantas contra seus predadores. Além disso, muitos iridoides têm propriedades antimicrobianas e antifúngicas. 

De acordo com Veridiana Vera De Rosso, uma das autoras do estudo e docente no Instituto de Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) – Campus Baixada Santista, nos últimos anos, evidências crescentes têm mostrado que o consumo de frutas e legumes reduz o risco de mortalidade por várias doenças, principalmente as cardiovasculares e os cânceres. “Os resultados das análises mostram o potencial tecnológico e econômico ainda inexplorado da nossa biodiversidade, principalmente para o setor alimentício e farmacêutico”, afirma. “Com políticas públicas adequadas para a agricultura sustentável, podemos melhorar a condição nutricional da população, prevenir doenças e, consequentemente, diminuir a mortalidade”.

Pequi: campeão em carotenoides

Dos 84 compostos encontrados nas nove frutas, 51 são fenólicos, entre flavonoides e ácidos fenólicos, oito são iridoides, 23 carotenoides e duas antocianinas.

O maior teor de carotenoides foi registrado no pequi (10.156,21 mg / 100 g), enquanto o principal conteúdo fenólico – composto estrutural e funcional da matéria orgânica do solo que age como protetor contra pragas e doenças nas plantas – foi encontrado no cambuci (221,70 mg / 100 g). A pitanga e a jabuticaba apresentaram mais antocianinas (respectivamente 81 mg e 45,5 mg / 100 g). 

De acordo com ela, o estudo também detectou que a mesma fruta pode ter um conteúdo variado de compostos bioativos quando submetidos a diferentes tipos de cultivo e condições ambientais. 

Neste caso, para o estudo, cada fruta foi colhida de três diferentes localizações de dois biomas brasileiros: Mata Atlântica e Cerrado. Como foram obtidas em áreas protegidas do Brasil ou em fazendas familiares, houve necessidade da autorização para coleta do material biológico a partir do Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (Sisbio) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). 

Cada amostra consistiu de 3 a 10 kg do fruto, de acordo com o processamento para a retirada da fração comestível para análise. Todas as frutas foram higienizadas para remover possíveis contaminantes e os procedimentos de extração foram realizados apenas com as partes comestíveis das frutas. 

Para a identificação dos compostos bioativos foram empregados métodos de espectrometria de massas para elucidação das estruturas após separação por cromatografia líquida de alta eficiência. 

Total de carotenoides detectado nas frutas

Fonte: Biodiversity Fruits: Discovering Bioactive Compounds from Underexplored Sources

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Araçá • quantidade de carotenoides

Uruama 1 - MG 61,44 mg/100g
Uruama 2 - MG 49,37 mg/100g
Coração de Jesus - MG 110,06 mg/100g

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Cagaita • quantidade de carotenoides

Montes Claros - MG 305,15 mg/100g
São João da Lagoa - MG 319,30 mg/100g
Arinos - MG 269,96 mg/100g

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Cambuci • quantidade de carotenoides

Ubatuba 1- SP 83,23 mg/100g
Paraibuna - SP 43,87 mg/100g
Ubatuba 2 - SP 81,69 mg/100g

Entreteses11 p061 fruta jabuticaba

Jabuticaba • quantidade de carotenoides

Paraibuna 1 - SP  152,40 mg/100g 
Paraibuna 2 - SP 154,74 mg/100g
Arinos - MG 326,70 mg/100g

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Jatobá • quantidade de carotenoides

Porto Ferreira 1 - SP  2.675,90 mg/100g 
Porto Ferreira 2 - SP 4.074,74 mg/100g
Montes Claros - MG 1.171,19 mg/100g

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Jenipapo • quantidade de carotenoides

Paraibuna – SP não detectado 
Montes Claros – MG não detectado
Coração de Jesus - MG não detectado

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Mangaba • quantidade de carotenoides

Montes Claros - SP  101,12 mg/100g 
Coração de Jesus - MG 80,76 mg/100g
Arinos - MG 160,11 mg/100g

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Pequi • quantidade de carotenoides

Coração de Jesus - MG  8.600,87 mg/100g 
Mirabela - MG  10.156,21 mg/100g 
Arinos - MG  6.090,66 mg/100g 

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Pitanga • quantidade de carotenoides

Paraibuna - SP  1.748,06 mg/100g 
Montes Claros -SP 1.902,32 mg/100g 
Arinos - MG  5.880,98 mg/100g 

Projeto Biodiversidade para Alimentação e Nutrição e a contribuição da Unifesp

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Veridiana Rosso

O Projeto Biodiversidade para Alimentação e Nutrição – Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade para Melhoria da Nutrição e do Bem-Estar Humano foi iniciado em 2012 durante a realização do Congresso World Nutrition, que ocorreu no Rio de Janeiro. O evento contou com a participação de quatro países – Brasil, Quênia, Sri-Lanka e Turquia – por meio do financiamento do Global Environmental Facility (GEF) e das agências implementadoras das Nações Unidas Food and Agriculture Organization (FAO) e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Cada país participante definiu objetivos de suas ações, sendo que para o Brasil foram definidos os seguintes:

• Valorizar a importância alimentícia e nutricional das espécies relacionadas com a biodiversidade agrícola;
• Resgatar o valor cultural dessas espécies;
• Ampliar o número de espécies nativas utilizadas atualmente em nossa alimentação;
• Mitigar dos problemas relacionados à dieta simplificada;
• Promover o fortalecimento da conservação e do manejo sustentável da sociobiodiversidade;
• Incorporar ações de transversalidade em programas e estratégias de segurança e soberania alimentar e nutricional.

Para alcançar os objetivos, foram estabelecidos seis eixos norteadores de ações intersetoriais:
• Análise da composição das espécies da biodiversidade (neste eixo estava incluída a organização dos resultados em um banco de dados digital);
• Avaliação do impacto de dietas diversificadas oferecidas por meio das políticas públicas relacionadas à segurança alimentar e nutricional na saúde das populações beneficiárias (PAA e Pnae);
• Desenvolvimento de ações de educação, com vistas à inclusão na dieta das escolas de produtos regionais com maior qualidade nutricional (desenvolvimento de receitas para inclusão na alimentação escolar);
• Desenvolvimento de estratégias para que a próxima POF produza dados de consumo dos alimentos regionais que são “minoritários” em termos de aquisição de alimentos no orçamento familiar (Pnan);
• Realização de levantamento de alimentos tradicionais (saberes e sabores), inclusive dados sobre as formas de preparo desses alimentos por parte dos povos e comunidades tradicionais;
• Implementação de ações institucionais que possam fortalecer e/ou implementar processos de integração/ transversalização de políticas públicas.

Para alcançar os objetivos propostos, a coordenação nacional do projeto, constituída pelo Ministério do Meio Ambiente, convidou pelo menos uma universidade federal por região do Brasil para auxiliar no desenvolvimento do projeto. A Unifesp foi convidada por meio do Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar (Cecane), sediado no Campus Baixada Santista.

A participação da Unifesp deu-se em várias frentes, uma das mais significativas se refere à avaliação da composição nutricional de 12 espécies da biodiversidade da Região Sudeste. Os dados de composição nutricional de todas as espécies estudadas nas cinco regiões do Brasil foram agrupados em um banco de dados digital denominado Biodiversidade & Nutrição. Esse banco é de acesso público e permite que sejam realizadas buscas empregando o nome comum da espécie, democratizando o uso da ferramenta.

Outra frente do projeto na Unifesp foi o desenvolvimento de 78 receitas que fazem parte do livro Biodiversidade Brasileira: sabores e aromas, que é uma compilação das receitas com alto índice de aceitabilidade que foram desenvolvidas empregando as espécies da biodiversidade provenientes das cinco regiões brasileiras. As espécies da Região Sudeste foram o foco do trabalho coordenado por Semíramis Martins Alvares Domene, docente no ISS/Unifesp,e Andrea Carvalheiro Guerra Matias, docente na Universidade Mackenzie. O e-book está disponível no acervo digital do Ministério do Meio Ambiente.

Biodiversidade & Nutriçãohttps://ferramentas.sibbr.gov.br/ficha/bin/view/FN/

Artigo relacionado: 
BIAZOTTO, Katia Regina; MESQUITA, Leonardo Mendes de Souza; NEVES, Bruna Vitoria; BRAGA, Anna Rafaela Cavalcante; TANGERINA, Marcelo Marucci Pereira; VILEGAS, Wagner; MERCADANTE, Adriana Zerlotti; ROSSO, Veridiana Vera De. Brazilian biodiversity fruits: discovering bioactive compounds from underexplored sources. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 7, n. 67, p. 1860−1876, fev. 2019.  Disponível em: <https://pubs.acs.org/doi/ipdf/10.1021/acs.jafc.8b05815 >. Acesso em: 17 abr. 2019.

 
Publicado em Edição 11