Quinta, 01 Dezembro 2016 13:03

Lançamentos da Editora FAP-Unifesp

Escrito por
Avalie este item
(0 votos)
imagem da capa do livro Olhares que constroem

Porto de Santos

Saúde e trabalho em tempos de modernização

Maria de Fátima Ferreira Queiróz, Rosana Machin e Marcia Thereza Couto

Este livro procura investigar as singularidades do processo de modernização do Porto de Santos, sobretudo com as transformações socioeconômicas ocorridas no país nos anos 1990, e suas consequências para a saúde dos trabalhadores.

Os autores questionam como uma categoria profissional associada à valorização de atributos morais como coragem, força, honra e virilidade – e cuja representação predominante no imaginário social ainda é vinculada a atividades essencialmente masculinas e baseadas na força muscular – tem lidado com a modernização e com a nova gestão do emprego portuário. O resultado é uma profícua análise de como tais mudanças ecoam nas formas de sociabilidade e, também, nas experiências fisiológicas, orgânicas e simbólicas de saúde e adoecimento.

A redução da força de trabalho, a ampliação das inovações tecnológicas, a flexibilização e a desregulamentação dos direitos sociais e a introdução de novas formas de gestão são exemplos de medidas que vêm evidenciando uma intensa transformação, caracterizada por precarização, automação e heterogeneização do trabalho.

Ancorada na articulação entre ciências da saúde e ciências sociais em saúde, esta obra oferece uma visão interdisciplinar que associa diferentes olhares sobre a modernização portuária. A investigação de pesquisadores com sólidas formações em suas áreas específicas é combinada com a narrativa dos próprios operários do porto, que se colocam em face de uma realidade de perdas e desestruturações do seu trabalho, percebido como uma atividade complexa, gigantesca, por vezes penosa, mas da qual sobressai a ideia de gosto e satisfação.

Imagem da capa do livro O cego e o Coxo

Poder na França no Século XX

Jean-Yves Mollier

Jean-Yves Mollier, um dos melhores historiadores da edição contemporânea, reconstrói, nesta obra, a história de um século do tumultuado triângulo amoroso composto pelo comércio de livros, pela imprensa e pelo poder.

Se a história mostra que os jornais e as editoras tradicionalmente ignoravam e até combatiam a dinâmica do poder político, o século XX, por sua vez, foi marcado pelo estabelecimento de vínculos escusos e pela crescente harmonização entre esses dois mundos. Tentar decifrar esse movimento incessante de proximidade é a tarefa a que se propõe o autor, que evidencia o papel significativo que as diversas instâncias do poder – estatais, financeiras, políticas e religiosas – desempenham na evolução das empresas do setor editorial, misturando a política e a ideologia com a cultura e a economia.

Possibilitado pela recente e tardia liberação de acesso a importantes fontes primárias, como os arquivos da gigante Librairie Hachette, esse estudo apresenta uma síntese inédita que tenta abarcar no mesmo olhar o conjunto do sistema midiático, da imprensa escrita à internet. Partindo da ideia de que, atualmente, a mídia audiovisual se integra em conglomerados que englobam editoras, revistas e diários, o livro desvenda o processo de formação dos grandes grupos de comunicação que agregam imprensa e edição e disputam entre si o domínio dos mercados de educação, entretenimento e informação na França.

Jean-Yves Mollier é doutor em história pela Universidade Paris I (Panthéon-Sorbonne) e professor da Universidade de Versalhes Saint-Quentin-en-Yvelines. Dedica suas pesquisas sobretudo à história do livro e das mídias impressas e eletrônicas.

Imagem da capa do livro Desemprego e protestos Sociais no Brasil

Fanny e Margot, Libertinas

O aprendizado do corpo e do mundo em dois romances eróticos setecentistas

Mariana Teixeira Marques

Dois livros publicados quase simultaneamente e de enorme êxito perante o crescente público leitor do século XVIII; duas protagonistas, de origem humilde, que contam suas próprias histórias e relatam como, tendo entrado para o mundo da prostituição e da libertinagem, conseguem chegar a uma vida de conforto material; dois autores acusados de obscenidade que tiveram de prestar contas a autoridades policiais. Essas são algumas das semelhanças entre Memoirs of a Woman of Pleasure (1748-1749), de John Cleland, e Margot la ravaudeuse (1750), de Fougeret de Monbron, romances que instigaram esta análise comparada de Mariana Teixeira Marques.

A autora conduz o leitor pelas veredas da produção da literatura erótica na Inglaterra e na França setecentistas, narrativas que circularam com bastante vigor, mas que apenas a partir de meados do século XX passaram a ser vislumbradas pela crítica. Além disso, esta obra aprecia um aspecto crucial para a compreensão da literatura europeia da época: trata-se das trocas, dos cruzamentos, das apropriações e influências culturais entre os dois países em questão, o que favorece a compreensão dos pontos de contato entre ambas as tradições literárias. Ao mesmo tempo, cada uma das narrativas tem sua origem em um universo socioeconômico e cultural particular, dentro da perspectiva iluminista, cujas especificidades também são contempladas pela autora.

A ficção libertina é uma das múltiplas conexões entre as literaturas da França e da Inglaterra e, nesse sentido, pode servir de convite a aspectos da experiência cultural europeia nem sempre alumiados pela crítica literária tradicional.

Imagem da capa do livro Onde Tem fumaça Tem Fogo

Democracia e Estado de Exceção

O aprendizado do corpo e do mundo em dois romances eróticos setecentistas

Edson Teles

Há muito mais de estado de exceção nas democracias contemporâneas do que gostaríamos de admitir. Essa é a provocação central que Edson Teles nos desperta ao mesclar a experiência do vivido com o exercício da reflexão.

Tomando como ponto de partida uma original comparação entre os processos de acerto de contas com as violências do apartheid sul-africano e da ditadura civil-militar brasileira, este livro nos convida a um percurso teórico pela Filosofia Política no qual os conceitos vão sendo construídos e definidos, criticamente, na própria fluidez do texto.

De um lado, a lenta e controlada transição brasileira turvou o acesso à memória política, consagrando a impunidade dos torturadores. Medidas de reconhecimento esparsas e pouco articuladas entre si expressam o mal-estar de um passado que não passa. De outro, a mudança de regimes na África do Sul foi pautada pela criação de uma esfera pública de partilha dos sentimentos de horror após décadas de segregação racial. Em vez de silenciamento e esquecimento, emergiu um potencial redentor da narrativa, contribuindo decisivamente para a reconstrução dos laços sociais e da confiança cívica nas instituições do Estado. Em contrapartida, apesar de reconhecer os avanços da Comissão da Verdade e Reconciliação criada por Mandela, o autor não deixa de apontar as contradições desse processo. As exigências por justiça seguem em uma sociedade ainda marcada pela desigualdade econômica e pelo preconceito.

Essa obra consiste em uma contundente denúncia dos bloqueios que ainda temos de romper para fazer frente às violências que não cessam. Seu maior mérito é nos mostrar a importância de mobilizar a memória das violações de direitos humanos como uma forma de radicalizar a democracia nos dias atuais.

entrementes 12 nov 2015  Sumário do número 12

Lido 5368 vezes Última modificação em Segunda, 17 Junho 2024 14:07

Mídia