Lu Sudré
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Apesar de o Brasil receber uma insolação superior a de outros países, graças à sua extensão e localização geográfica, a energia solar ainda tem participação incipiente em sua matriz energética: representa apenas 0,2% da produção de eletricidade, de acordo com dados disponíveis no Banco de Informações de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica (BIG/Aneel). Com o intuito de contribuir para o planejamento do setor, a segunda edição do Atlas Brasileiro de Energia Solar, publicado no primeiro semestre de 2017, disponibilizou uma base de dados pública com informações cientificamente embasadas sobre o potencial e a variabilidade espacial e temporal do recurso energético solar no território brasileiro.
A partir de informações levantadas ao longo de 17 anos, o estudo foi produzido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com a participação de pesquisadores de várias universidades brasileiras. Fernando Ramos Martins, docente adjunto do Instituto do Mar (Imar/Unifesp) – Campus Baixada Santista, participa do projeto desde a década passada, quando ainda atuava no Centro de Ciência do Sistema Terrestre, no Inpe, e trouxe a pesquisa para a Unifesp.
Fernando Ramos Martins, docente adjunto do Instituto do Mar (Imar/Unifesp)
O atlas indica que há um grande potencial de geração de energia solar não explorado. Martins explica que mesmo a região no país com menor disponibilidade dessa energia, a região litorânea de Santa Catarina e Paraná, ainda apresenta maior disponibilidade que as consideradas melhores regiões da Alemanha, país onde a energia solar tem grande participação na matriz energética e um mercado consolidado.
“O nordeste brasileiro é a região com maior disponibilidade de energia solar, em razão das características climáticas no semiárido. No entanto, grande parte do território que cobre o nordeste, sudeste e centro-oeste do país apresenta recursos de energia solar muitos favoráveis. Essa região vem sendo denominada como o Cinturão Solar do Brasil”, afirma Martins. Mais especificamente, a área vai do nordeste ao Pantanal, incluindo o norte de Minas Gerais, o sul da Bahia e o norte e o nordeste de São Paulo.
Segundo o pesquisador, a energia solar é temporalmente intermitente (ocorre com interrupções) e apresenta elevada variabilidade em razão de sua relação com condições meteorológicas locais, como a cobertura de nuvens, concentração de gases atmosféricos e sistemas sinóticos, que é a área da Meteorologia que descreve, analisa e faz a previsão do tempo em grande escala. Fatores astronômicos associados aos movimentos orbitais e de rotação da Terra também influenciam na variabilidade temporal, e, por isso, estudos como o do atlas, que apresenta informações confiáveis sobre esses aspectos, são imprescindíveis para dar suporte ao desenvolvimento de projetos que visem o aproveitamento dessa fonte de energia.
O atlas foi elaborado com informações de um modelo computacional chamado Brasil-SR, que está adaptado para simular as condições atmosféricas e ambientais típicas observadas no Brasil. O modelo utiliza imagens digitais do satélite geoestacionário Goes, posicionado sobre a América do Sul para estimar a nebulosidade do território brasileiro. O modelo também precisa de dados sobre a topografia e informações meteorológicas que incluem a temperatura da superfície terrestre e umidade relativa do ar.
Martins contribuiu para o aprimoramento da modelagem numérica dos processos físicos da atmosfera para o território brasileiro, assim como no processo de obtenção das informações da nebulosidade a partir das imagens de satélite, etapas fundamentais para a redução das incertezas no aproveitamento da energia solar brasileira.
As dificuldades para o crescimento do uso dessa fonte energética envolvem o custo de investimento e o desconhecimento sobre a disponibilidade da variabilidade temporal do recurso e das tecnologias disponíveis para a conversão da energia solar. De acordo com Martins, os custos estão sendo reduzidos drasticamente com o desenvolvimento tecnológico e o crescimento do mercado a nível internacional. “Acredita-se que em mais dois a cinco anos o custo da energia solar estará equivalente ao da eletricidade produzida pela queima de combustíveis fósseis. O atlas contribui para a disseminação de conhecimento sobre o recurso disponível e fornece dados para elaboração de cenários de uso e estudo de viabilidade econômica do aproveitamento da energia solar”, ressalta o pesquisador.