Ana Cristina Cocolo
Imagem: Fernando Moraes
Imagem: Fernando Moraes
Imagem: Leo Francini
As pesquisas de Fábio Motta (de azul) e Guilherme Henrique Pereira Filho envolvem várias unidades de conservação ambiental e contam com a parceria de diversos institutos e órgãos, como a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade / Imagem: arquivo pessoal
O litoral do Estado de São Paulo reserva belezas impressionantes e uma biodiversidade riquíssima que está sendo foco cada vez mais de estudos, principalmente, no que diz respeito à proteção ambiental.
Desde 2015, Fábio dos Santos Motta e Guilherme Henrique Pereira Filho, docentes e coordenadores do Laboratório de Pesquisa em Ecologia e Conservação Marinha (LabecMar) do Instituto do Mar (IMar/Unifesp) – Campus Baixada Santista, estão à frente de um projeto de monitoramento da biodiversidade marinha do litoral paulista, com o intuito de medir os impactos da conservação à longo prazo de três áreas já protegidas: o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos – um dos principais destinos turísticos de mergulho, a 42 km da costa – e as estações ecológicas Tupinambás – que desde 1987 abrange parte das ilhas do Arquipélago dos Alcatrazes, localizado a 34 km da costa de São Sebastião – e Tupiniquins – que abrange as ilhas de Peruíbe, Camboriú, Castilho e Queimada Pequena, localizadas entre os municípios de Cananéia e Peruíbe.
Além delas, a equipe também realiza estudos no entorno da Ilha da Queimada Grande, a 35 km do litoral de Itanhaém e de Peruíbe. A ilha é uma Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) e suas águas integram a Área de Proteção Ambiental (APA) Marinha do Litoral Centro, onde a pesca é permitida. O local também é conhecido como Ilha das Cobras, devido ao elevado número de serpentes da espécie jararaca-ilhoa. Seu entorno é rico em corais, peixes e espécies ameaçadas de extinção, como as tartarugas marinhas.
O projeto Avaliação da Efetividade do Parque Estadual Marinho da Laje de Santos e das Estações Ecológicas Tupinambás e Tupiniquins, que é financiado pela Fundação SOS Mata Atlântica e conta com a parceria das universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e do ABC (UFABC), inclui uma série de estudos que buscam inventariar a biodiversidade, mapear novos habitats e, sobretudo, medir o impacto da proteção ambiental dessas unidades de conservação (UCs).
De acordo com Motta, resultados preliminares de mais de 400 mergulhos e 2 mil fotos realizadas até o momento possibilitaram a descoberta e a caracterização de ambientes marinhos pouco conhecidos, além de uma avaliação geral da “saúde” dessas áreas por meio da análise de organismos (algas, corais e outros invertebrados) nos recifes rochosos e da quantidade (biomassa) e da diversidade de peixes encontrados. “A biomassa de peixes registrada nas áreas protegidas de Laje de Santos e da Estação Ecológica de Tupinambás foi significativamente superior à encontrada na área desprotegida da Ilha da Queimada Grande, ainda que essa área compreenda atributos naturais de grande relevância como, por exemplo, uma cobertura significativa de corais”, afirma.
Para seu companheiro de pesquisas, Guilherme Pereira Filho, apesar dos desafios relacionados à falta de recursos e às ameaças diversas, como a pesca ilegal, as UCs têm conseguido, por meio de parcerias com os centros de pesquisa, avançar e aprimorar suas gestões. Tendo em mente a importância do conhecimento científico na gestão da biodiversidade marinha, o LabecMar tem despendido esforços para implementar um acordo de cooperação técnica entre o Imar/Unifesp e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O acordo visa ao aprimoramento e expansão do programa de monitoramento que, agora, também terá a missão de subsidiar o ordenamento das atividades de mergulho contemplativo no Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes. Para essas novas atividades, o LabecMar conta com apoio do Instituto Linha D'Água.
Além das atividades no litoral paulista, o grupo liderado por Motta e Pereira Filho também integra a Rede Abrolhos, que desenvolve pesquisas aplicadas à conservação do Banco dos Abrolhos, localizado no sul do litoral da Bahia. No local, além de monitorarem a “saúde” dos recifes de corais, o grupo estuda a influência do sedimento depositado nas algas sobre o comportamento alimentar dos peixes e a diversidade dos bancos de algas calcárias (rodolitos, também chamados de rochas vivas). “Estamos demonstrando que o aumento de sedimento diminui o quanto os peixes conseguem comer das algas”, explica Pereira Filho. “Se os peixes comerem pouco das algas, elas proliferam-se, levando à morte dos corais”.