×

Aviso

JUser: :_load: Não foi possível carregar usuário com ID: 436

Síndrome metabólica é uma das principais causas de problemas cardíacos

Sistema de turnos aumenta as chances de desenvolvimento da doença

Da Redação
Com colaboração de Lu Sudré

Entreteses04 p049 sindrome metabolica

Noites maldormidas, cansaço e alimentação inadequada, provocados pela rotina estressante do trabalho em turnos, são ocorrências comuns na vida de muitos profissionais que podem acarretar sérios problemas de saúde. Trata-se de um problema grave o suficiente para contribuir para o surgimento da síndrome metabólica (SM), que é um conjunto de alterações no organismo que desenvolve doenças.

De acordo com Évelin Moreno, professora de Educação Física e doutora com tese defendida no Departamento de Enfermagem da Escola Paulista de Enfermagem (EPE/Unifesp) - no Campus São Paulo, a média de brasileiros diagnosticados com a síndrome chega a aproximadamente 30%. A linha de pesquisa da doutora está vinculada ao setor de Enfermagem, na área de Saúde do Trabalhador.

Em sua tese de doutorado, Évelin analisou a incidência da síndrome metabólica em trabalhadores de uma empresa automotiva que utiliza o sistema de turnos. “Estudos já demonstraram que aqueles que trabalham no período noturno estão condicionados ao diagnóstico positivo de síndrome metabólica, aumento de peso, maior estresse e redução da expectativa de vida. O diferencial dessa pesquisa foi encontrar a incidência de SM nos trabalhadores do turno da manhã”, esclarece a especialista. O sistema de turnos, utilizado por empresas brasileiras no setor de produção em diversas áreas, geralmente é dividido em três, sendo a primeira jornada das 6h às 14h, a segunda das 14h às 22h e a terceira das 22h às 6h.

O diagnóstico positivo da síndrome é associado ao aumento da ocorrência de diabetes e, principalmente, às doenças cardíacas que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), está em primeiro lugar entre as causas de mortalidade no mundo. Cinco fatores são utilizados para diagnosticar a síndrome metabólica: colesterol alto, pressão arterial diastólica acima do normal, assim como a pressão arterial sistólica, obesidade abdominal e o excesso de triglicerídeos no organismo.

Entreteses04 p050 pesquisadoras

Orientadora Milva Maria de Figueiredo (à esquerda) e pesquisadora Évelin Moreno (a direita), estudam aspectos da saúde dos trabalhadores

“A síndrome metabólica é confirmada quando a pessoa apresenta três alterações dessas cinco variáveis. A má alimentação, quando somada à qualidade de sono ruim, à redução de horas dormidas e ao sedentarismo, podem explicar a ocorrência de SM nos trabalhadores do primeiro turno (manhã)”, comenta Évelin.

Para a pesquisadora Milva Maria Figueiredo de Martino, orientadora da tese, o sistema de trabalho em turnos faz com que o indivíduo ganhe peso, outro agravante da doença. “O sono irregular provocado por esse sistema de trabalho propicia o aumento da ingestão alimentar. Ao acordar muito cedo ou dormir muito tarde, o metabolismo sofre alterações”, afirma Milva. A explicação para o aumento de peso é a relação do metabolismo com o sono, que influencia a produção e liberação dos hormônios grelina e leptina.

Além de administrar a quantidade de gasto energético do corpo, a leptina é o hormônio cuja principal função é controlar o apetite ao promover a redução do consumo de alimentos. A grelina, conhecida como o hormônio da fome, induz o apetite e o aumento da secreção do hormônio do crescimento (GH). Dessa forma, o déficit de sono altera a produção desses hormônios e o corpo passa a ter uma maior ingestão alimentar, prejudicando a saúde. A qualidade das refeições no ambiente de trabalho também influencia no processo.

Durante o estudo, cerca de 93 trabalhadores foram entrevistados e realizaram testes, dos quais 25 (aproximadamente 30%) foram positivos para síndrome metabólica. Foi aplicado um questionário relacionado à qualidade e prevalência de queixas relativas ao sono, outro abordando as características sociodemográficas e insônia, além da classificação do cronótipo dos trabalhadores – ritmo corporal segundo a disposição inata da pessoa, separando-as entre diurnas e noturnas. Os exames médicos e laboratoriais foram essenciais para avaliar os fatores da doença.

A pesquisa apresentou que a maior incidência da síndrome ocorreu nos trabalhadores do primeiro turno (das 6h – 14h), contrapondo o imaginário de que só aqueles que trabalham no período noturno desenvolvem problemas de saúde. “Não coincidentemente o primeiro turno foi o que apresentou mais falhas na produção. Eles dormiam mal, se alimentavam mal e não faziam exercícios físicos. Decorrente disso, há a insatisfação com o emprego e as falhas na produção”, assegura Evelin, complementando que para enfrentar as 6h tais trabalhadores precisavam sair de suas casas entre 3h30min e 4h, o que gerou a qualidade de sono ruim e resultou no desenvolvimento da síndrome. 

As medidas para enfrentar a síndrome metabólica são boa alimentação, exercício físico e sono restaurador. Por outro lado, os hábitos saudáveis são a melhor forma de prevenção, em conjunto com uma boa higiene de sono, ou seja, é indicado desligar a luz e evitar computadores, televisão e celulares antes de dormir, além de uma cama confortável. 

“O principal objetivo da pesquisa é recomendar que as empresas que trabalham em turnos adotem uma política de prevenção à síndrome metabólica. O descuido com a saúde do trabalhador também afeta à produção”, diz Évelin, que reafirma a necessidade de cuidado com os trabalhadores de todos os turnos. “Projetos que estimulem bons hábitos alimentares e a prática do exercício físico são essenciais”, finaliza a pesquisadora.

Entreteses04 p050 trabalhador sistema turnos

Trabalhador em sistemas de turnos em empresa automotiva

Diagnóstico para a síndrome metabólica

O critério internacional para diagnosticar a síndrome metabólica é a confirmação de três entre os cinco fatores abaixo:

• Circunferência abdominal maior que 102cm nos homens e maior que 88cm nas mulheres;

• Hiperglicemia (de jejum) maior ou igual a 110 mg/dL;

• Hipertensão arterial (pressão sistólica maior ou igual a 130 mmHg e/ou pressão diastólica maior ou igual a 85 mmHg);

• HDL-colesterol baixo (para homens; menor que 40md/dL e mulheres; menor 50mg/dL);

• Hipertrigliceridemia maior ou igual a 150 mg/dL).

Tese:
MORENO, Évelin. Prevalência da síndrome metabólica em trabalhadores nos diferentes turnos de trabalho. 2014. 92 f. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2014.