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Pesquisadores enfrentam os desafios de nossa época

Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni
Pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa

Desde a pré-história o homem procura nas drogas uma forma de alterar as percepções do mundo e reduzir suas dores. Provavelmente, faminto e sem melhores opções, algum indivíduo deve ter ingerido frutas já deterioradas e encontrou, além da saciedade, efeitos prazerosos naquele vinho primitivo. Há milhares de anos outras plantas têm sido igualmente utilizadas pela humanidade como a papoula, da qual se derivam os opiáceos – potentes analgésicos –, a maconha, com suas propriedades ansiolíticas, e os cogumelos com efeitos alucinógenos.

Com o advento da industrialização, aumentou a produção de bebidas alcoólicas com maior concentração (destilados), assim como sua disponibilidade, e cresceram os problemas associados, entre os quais o desenvolvimento da dependência. As propriedades terapêuticas de algumas drogas são amplamente reconhecidas pela ciência, abrindo a discussão sobre as políticas de controle e comercialização. A cocaína, lançada no mercado como um potente anestésico local, chegou a ser recomendada por Sigmund Freud para aumentar insights nas terapias, embora posteriormente ele tenha revisto sua posição, após perder um amigo por dependência daquela substância. 

O uso de álcool e de outras drogas é tão frequente em eventos sociais que há quem considere impossível divertir-se e ser feliz sem eles. Entretanto, as drogas não criam nada, não transformam a realidade, apenas atenuam ou amplificam nossas sensações. O grande desafio que se apresenta é utilizá-las quando necessário, por suas propriedades terapêuticas, e encontrar formas mais saudáveis para comemorar os momentos felizes ou atenuar os de tristeza e solidão. 

As diferentes visões políticas sobre como lidar com esse tema tão desafiador e com a economia do mercado de drogas, mencionada na Carta da Reitora, são alguns dos aspectos discutidos neste número. Os resultados obtidos por estudiosos da Unifesp que trabalham com a pesquisa básica, epidemiológica ou clínica nessa área convidam-nos a refletir sobre a complexidade do tema e sobre a importância das discussões com base científica, conduzidas de forma democrática e respeitosa no ambiente universitário. Cumprindo o objetivo de interação com a sociedade, a Unifesp tem transmitido o conhecimento gerado por meio de cursos presenciais ou a distância – como o Supera, que já atingiu mais de 75 mil profissionais das áreas de saúde, educação, assistência social e segurança. 

Entretanto, não são apenas as drogas que provocam dependência, mas também o uso abusivo das redes sociais, os jogos e as possibilidades criadas, de forma geral, pela internet, como demonstra um estudo realizado em parceria por pesquisadores dos campi São Paulo e Guarulhos. 

Além da matéria de capa, há outras pesquisas em desenvolvimento nos campi da Unifesp e os responsáveis por sua condução, como o entrevistado desta edição, o Prof. Dr. Marcelo Burattini, que explica o atual panorama da epidemia de zika no país. Apreciaremos também os estudos sobre as consequências oculares da infecção por esse vírus; a identificação de metástases em linfonodos de pacientes acometidos por carcinomas de cabeça e pescoço; a síndrome metabólica e a obesidade na adolescência; a relação entre enxaqueca e deficit de atenção em crianças; a influência de contaminações ambientais pelo manganês; e a negligenciada infecção pelo retrovírus HTLV. 

No âmbito da cooperação entre as Engenharias e a Medicina, acompanharemos os experimentos que se desenvolvem sobre a criação de mantas que induzem a regeneração óssea. Djamila Ribeiro, da área de Filosofia Política, estuda as relações raciais e de gênero. E há muito mais para conhecer e refletir.

Boa leitura!