Você sabia?
Universidades ao redor do mundo têm diminuído ou até eliminado o fornecimento de carnes e outros produtos de origem animal.
Mas por quê?
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A produção de alimentos é responsável por uma fração expressiva do uso de recursos naturais e é uma das principais causadoras da degradação ambiental do planeta, sendo responsável por 20–30% das emissões totais de gases causadores do efeito estufa, captação de 70% da água fresca e cerca de 80% do desmatamento (Fresán e Sabaté, 2019), sendo os derivados de origem animal protagonistas destes impactos. A mudança para dietas sustentáveis é uma forma de diminuir os impactos da produção de alimentos, juntamente com o uso de tecnologias mais eficientes de produção e com a diminuição do desperdício de alimentos. A mudança no comportamento e nas escolhas alimentares de consumidores pode promover maiores ganhos ambientais do que mudanças por parte dos produtores (Poore e Nemecek, 2018);
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Dietas sem derivados de origem animal promovem reduções significativas dos impactos ambientais da alimentação em comparação com dietas convencionais: redução de 51% nas emissões de gases causadores do efeito estufa (Aleksandrowicz et al., 2016), 76% no uso da terra, 50% na acidificação, 49% na eutrofização, 19% no consumo de água fresca (Poore e Nemecek, 2018);
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em termos de conteúdo de proteína, as emissões de gases de efeito estufa e o uso Da terra 36 vezes e 6 vezes maior para a carne bovina do que para ervilhas (Poore e Nemecek, 2018);
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Para produzir 1 kg de carne, um boi precisa consumir 8 kg de comida (Charles e Godfray, 2010);
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A produção de carne, leite e ovos é responsável por cerca de 83% da terra cultivada no mundo, contribui com cerca de 57% das emissões de gases do efeito estufa da produção de alimentos, mas só fornece 37% da proteína e 18% das calorias de toda a alimentação (Poore e Nemecek, 2018);
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A produção de 1 kg de feijão requer 3,8 m² de terra, 2,5 m³ de água, 39g de fertilizantes, 2,2 kg de pesticidas; já a produção de 1 kg de carne demanda 52 m² de terra, 20,2 m³ de água, 360g de fertilizantes, 17,2 g de pesticidas, ou seja, entre 8 e 14 vez mais recursos são usados para produzir carne (Fresán e Sabaté, 2019)
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um estudo do IPAM mostrou que 75% da área pública desmatada da Amazônia é ocupado por pastagem (IPAM, 2021).
Além disso, a dieta sem derivados de origem animal traz benefícios à saúde de humanos:
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Pessoas vegetarianas têm menor incidência de diabetes tipo 2, obesidade, doenças coronárias e maior expectativa de vida (Fresán e Sabaté, 2019).
Para além dos impactos ambientais e para a saúde humana, o consumo de carnes é responsável por bilhões de mortos todos os anos.
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Somente no ano de 2022 no Brasil foram mortos 29,8 milhões de bovinos, 56,15 milhões de porcos (EBC, 2023) e 6,11 bilhões de frangos (AVINEWS, 2023);
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Em todo o mundo, estima-se que 80 bilhões de animais terrestres foram mortos para produção de carne em 2019 (Our World in Data, 2023).
Além de consumir recursos, todos estes animais geram milhões de toneladas de dejetos:
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Dados do IPEA (2012) mostram que em 2008 a produção de dejetos por galinhas poedeiras (para produção de ovos) foi de 11.782.568 toneladas, por vacas leiteiras foi de 316.909.675 toneladas, 1.338.458.709 toneladas por gado de corte e 20.379.732 toneladas geradas por porcos, gerando mais de 1,7 bilhão de toneladas de dejetos no ano de 2009. Com o aumento da produção de carne e ovos, estes números são certamente muito maiores em 2023;
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A maioria destes dejetos não é aproveitada, já que no Brasil a maior parte do gado de corte é criada na pecuária extensiva - ou seja, os resíduos gerados por estes animais ficam descartados nas áreas de pastagem onde eles vivem, contaminando solo e água.
Por estes e outros motivos, a Universidade de Cambridge recentemente instituiu sua Política de Alimentação Sustentável e eliminou o fornecimento de carne vermelha de suas dependências, além de reduzir o consumo de outras carnes e de laticínios, promovendo o consumo de alimentos vegetais (University of Cambridge, 2023).
Outras universidades, como a Universidade de Coimbra também proibiu recentemente a carne de vaca em suas cantinas.
As Universidades de Berlim limitaram a venda de carne em suas cantinas, promovendo menus majoritariamente veganos e ovolactovegetarianos (The Guardian, 2023). Em todo o mundo iniciativas voltadas à sustentabilidade e a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa estão sendo tomadas pelas universidades. Dados como os apresentados aqui mostram que é importante trazer também a discussão para a alimentação.
Referências:
1. Fresán e Sabaté, 2019: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2161831322002253
2. Aleksandrowicz et al., 2016: https://journals.plos.org/plosone/article/file?id=10.1371/journal.pone.0165797&type=printable
3. Poore et al.: Science 360, 987-992, 2018
4. Food Security: The Challenge of Feeding 9 Billion People. H. Charles J. Godfray et al. Science 327, 812 (2010);DOI: 10.1126/science.1185383
5. IPAM, 2021: https://ipam.org.br/wp-content/uploads/2022/05/Amazo%CC%82nia-em-Chamas-8-pecua%CC%81ria-pt.pdf
6. EBC, 2023: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2023-03/abate-de-bovinos-no-brasil-volta-crescer-apos-dois-anos-de-queda
8. Our World in Data, 2023: https://ourworldindata.org/meat-production
9. IPEA, 2012: https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/7687/1/RP_Diagn%C3%B3stico_2012.pdf
10. University of Cambridge, 2023. Sustainability: https://www.environment.admin.cam.ac.uk/sustainable-food/university-cambridges-sustainable-food-policy
11. The Guardian: https://www.theguardian.com/world/2021/aug/31/berlins-university-canteens-go-almost-meat-free-as-students-prioritise-climate