Nota de Falecimento - Mirlene de Oliveira Marinho

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 À Comunidade Acadêmica,

É com profundo pesar que informamos o falecimento da pós-graduanda Mirlene de Oliveira Marinho, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação e Saúde da Infância e da Adolescência da EFLCH, no sábado, dia 19. A notícia chegou à Direção Acadêmica e à comunidade da EFLCH por comunicado enviado pela profa. Sueli Fidalgo, Coordenadora do Programa. Sua morte foi causada por complicações em decorrência do Covid-19.

A luta de Mirlene contra a doença teve início no dia 25 de novembro, quando de sua internação na cidade de Registro, onde residia e atuava como Diretora da Rede Municipal de Ensino.

Foi esse espírito de luta que a acompanhou por sua passagem como estudante do mestrado no PPG do campus Guarulhos. “Tenho certeza de que todos e todas que conviveram com Mirlene têm na memória uma pessoa super inteligente, prestativa, amiga e companheira dos colegas, excelente leitora e escritora, que fez um trabalho muito bonito sobre a identidade e subjetividade de surdos adultos que passaram a infância e/ou adolescência sem ter contato com surdos adultos”, lembra a profa. Sueli. 

O trabalho referido, a dissertação de Mestrado, foi defendida em 19 de novembro de 2020, ocasião que a presença de amigos e colegas foi maciça no encontro virtual. Sob a orientação de Sueli Fidaldo, a pesquisa, de grande relevância, recebeu a indicação ao prêmio EFLCH, como lembra a professora.

A mesma vontade de seguir lutando e nutrindo sua formação, levou-a à aprovação no Doutorado, notícia que não chegou a tomar conhecimento, devido ao agravamento de seu estado de saúde. “Mirlene fará muita falta. Nos eventos de nossos grupos de pesquisa, ela participava com muita energia e, apesar de ter dois empregos (três cargos), estava nos grupos de estudo, nos congressos, em todas as disciplinas que podia - mesmo que não precisasse dos créditos. Tinha uma sede enorme de saber”, complementa a profa. Sueli.

Essa sede de conhecimento era a força-motriz da aluna, que se empenhava numa batalha diária em manter-se ora como professora, ora como diretora, mas sobretudo como estudante de uma universidade pública. Como complementa, emocionada, a profa. Sueli: “Em sua defesa de mestrado contou que esse era o primeiro curso que tinha conseguido fazer em universidade pública e que, quando assistiu a primeira aula comigo, como aluna especial, há dois anos e meio atrás, não acreditou que estava assistindo aula em universidade pública.  No intervalo, foi ao banheiro e chorou de emoção”. 

À essa personalidade lutadora se somava, outra das características marcantes de Mirlene, a sua preocupação e dedicação com o outro. Entre seus colegas de turma está Jândela Tamashiro, que deixa em seu depoimento, palavras amigas que recordam sua maneira de se relacionar com quem estava próximo. “Um exemplo de força, determinação e alegria. Trabalhava o dia inteiro na escola, a noite lecionava até às 23h, mas às cinco da manhã, já estávamos saindo para UNIFESP. No caminho falávamos sobre os textos da aula, quando o sono queria chegar, sorríamos de alguma bobagem. Era uma aventura emocionante”.

Assim que chegavam da viagem, o destino imediato era o banheiro. “Ela fazia uma maquiagem pra esconder o cansaço e dizia ‘estou pronta’. Desfilava até chegar ao grande evento: assistir uma aula. E sempre repetia a frase ao entrar na UNIFESP: ‘Aqui é o meu lugar’. E parecia que não queria ir embora, acabava a aula e conversava nos corredores, no pátio e ainda tomava o café da Guinailda (referência à senhora que vende café na porta do campus), ela realmente queria estar lá”, completa Jândela Tamashiro.

Entre os amigos mestrandos saiam de madrugada do Vale do Ribeira em direção ao bairro dos Pimentas, em  Guarulhos também está Ademar Dias de Oliveira, que recorda as atitudes tão humanísticas de Mirlene: “Ela sempre levava uma maleta cheia de frutas, dizia assim  ‘trouxe pra nós’. Muitas vezes me levou e, eu, sem um centavo no bolso e me socorreu. Pra ela, não tinha eu, e sim, nós. Eu fico feliz em saber que uma pessoa vai e deixa tantas lembranças boas e amigos como vocês e como os que estão se manifestando na internet. Que Deus a receba de braços abertos. Vamos nos apegar a essa força e seguir firmes”.

A vontade de auxiliar e acolher as pessoas, fora do ambiente escolar, seguiram como outros traços expressivos de Mirlene. “E tinha uma vontade também enorme de estar com as pessoas e ajudá-las. Durante a pandemia, socorreu diversas famílias de alunos seus (ela era diretora de escola municipal de educação infantil no Vale do Ribeira). Comprava roupa, remédios, material de limpeza, comida. E distribuía tudo.  Socorria famílias com questões jurídicas e até chegou a fazer faxina em casa de um aluno cuja mãe é deficiente. Essa era a Mirlene. Tomava cuidado, protegia-se, mas a vida é de uma incerteza sem igual”, lembra a profa. Sueli, não deixando de salientar o apreço e o carinho que a aluna mantinha pelos animais, que adorava, e pelas plantas. 

Que sua família e seus amigos possam encontrar conforto neste momento tão difícil e recebam da Comunidade EFLCH nossos sentimentos e um abraço solidário.

Direção Acadêmica

Magali Aparecida Silvestre e Janes Jorge  (Gestão 2017-2021)

Assessoria de Comunicação EFLCH