Por Thaysa Paschoalin*
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não se sabe ao certo quanto tempo o vírus que causa a COVID-19 sobrevive em superfícies, mas ele parece se comportar como outros coronavírus. O vírus pode persistir nas superfícies por algumas horas ou, até mesmo, vários dias. Isso pode variar e depende das condições do local, do clima e da umidade do ambiente. Portanto, caso você desconfie que uma superfície está contaminada, higienize-a com desinfetante (água sanitária ou etanol a 70%, por exemplo) e não toque nos olhos, na boca ou no nariz. Após isso, lave as mãos com água e sabão ou faça a assepsia delas com álcool gel.
Aqui seguem algumas orientações do Departamento de Gestão e Segurança Ambiental da UNIFESP para desinfecção de superfícies contaminadas por coronavírus.
- Tensoativos - No caso de desinfeção de superfícies contaminadas apenas por coronavírus, os tensoativos (sabão, sabonete, detergente, entre outros) são bastante eficientes. O envelope viral (constituído de lipídeos e proteínas) é extremamente sensível aos tensoativos, portanto, lavar a mão ou as superfícies com água e sabão é uma maneira efetiva de eliminar o vírus. Além disso, o tensoativo não precisa ser “bactericida”, pois todos os sabonetes, sabões e detergentes têm a mesma ação sobre os microrganismos. É importante ressaltar que os tensoativos não são eficientes contra microrganismos mais resistentes, como, por exemplo, esporos bacterianos. Assim, se a sua intenção é realizar uma desinfecção contra vários microrganismos, além do coronavírus, o ideal é utilizar desinfetantes de médio e alto nível.
- Etanol a 70% - O etanol a 70% é um desinfetante de médio nível, muito eficiente em inativar o bacilo da tuberculose, bactérias na forma vegetativa, a maioria dos vírus e fungos, exceto esporos bacterianos. É o desinfetante recomendado pela OMS para eliminar o coronavírus de superfícies, sendo, além disso, um excelente antisséptico. É importante ressaltar que a concentração do etanol é fator importante para sua atividade. O etanol a 70% possui concentração ótima para o efeito microbicida, pois a água presente na sua formulação facilita a entrada do álcool para o interior do microrganismo e também retarda a volatilização do álcool, permitindo maior tempo de contato. Por outro lado, o etanol absoluto (100%) não é um desinfetante eficaz. Outras ações do etanol incluem a destruição da membrana celular externa por desidratação, a precipitação das proteínas devido à desnaturação e a coagulação de enzimas responsáveis por atividades celulares essenciais. O álcool (etanol) gel é um desinfetante tão eficaz quanto o líquido a 70%. O álcool gel é um pouco menos volátil do que o líquido, permanecendo mais tempo em contato com a superfície. Em artigo publicado na revista Emerging Infectious Diseases, no dia 13 de abril de 2020, assinalou-se que preparações de etanol ou isopropanol entre 30% e 80% são eficientes em eliminar SARS-CoV-2, SARS-CoV, MERS-CoV e BCoV, quando mantidas por 30 segundos em contato com o microrganismo 1. Essa informação é bastante importante, pois fornece outras alternativas para desinfeção de superfícies. Entretanto, ainda não foi ratificada pela Organização Mundial da Saúde e não se sabe a eficácia dessas concentrações mencionadas para eliminação de outros microrganismos. Desse modo, a indicação ainda é a utilização do etanol a 70% e a permanência deste desinfetante por pelo menos 20 segundos em contato com a superfície.
- Hipoclorito de sódio / água sanitária - O hipoclorito de sódio a 1% é um desinfetante de alto nível capaz de eliminar todas as formas vegetativas de microrganismos, inclusive o bacilo da tuberculose, vírus lipídicos e não lipídicos, fungos e uma parte dos esporos bacterianos. É, portanto, bastante eficiente em eliminar o coronavírus de superfícies. Em nossas residências, costumamos usar a água sanitária, que é uma solução menos concentrada de hipoclorito de sódio ou hipoclorito de cálcio, uma vez que a mesma possui de 2,0 a 2,5% p/p de cloro ativo em sua composição 2. A substância com atividade microbicida presente na água sanitária/hipoclorito é o cloro ativo. Naturalmente, ocorre uma redução do cloro ativo ou cloro livre por evaporação se a embalagem for deixada aberta, em ambientes quentes e até no processo de diluição da substância. Quanto mais concentrada a solução, maior o processo de evaporação e perda do cloro ativo. A embalagem original tem uma validade descrita pelos fabricantes de aproximadamente 6 meses. O ideal é sempre diluir a água sanitária no momento do uso para garantir a concentração de cloro ativo na solução diluída, mas, caso seja necessário diluí-la em maior quantidade, deve ser mantida em recipiente bem fechado, em local ventilado, protegido do sol e usar dentro de no máximo um mês.
No caso do coronavírus, a solução de hipoclorito de sódio de 0,05 a 0,5% já é efetiva contra o vírus. Nesta concentração (0,05-0,5%), é considerado um desinfetante de médio nível e tem ação semelhante ao etanol a 70%, sendo efetivo contra bactérias na forma vegetativa, vírus e fungos. A solução de hipoclorito a 1% é considerada um desinfetante de alto nível, efetiva contra os microrganismos citados acima além de ser eficaz contra a maioria dos esporos bacterianos 3-4. Para fazer a solução em casa, dilua um copinho de café (50 mL) de água sanitária a 2,0 a 2,5% em 1 L de água.
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Referências
1 KRATZEL, A.; TODT, D.; V’KOVSKI, P.; STEINER, S.; GULTOM, M.; THAO, T. T. N.; EBERT, N.; HOLWERDA, M.; STEINMANN, J.; NIEMEYER, D.; DIJKMAN, R.; KAMPF, G.; DROSTEN, C.; STEINMANN, E.; THIEL, V.; PFAENDER, S. Inactivation of Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 by WHO-Recommended Hand Rub Formulations and Alcohols. Emerging Infectious Diseases. ISSN: 1080-6059. Volume 26, Number 7—July 2020. Disponível em: <https://doi.org/10.3201/eid2607.20091>. Acesso em: 23 abr. 2020.
2 BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RESOLUÇÃO Nº 55, DE 10 DE NOVEMBRO DE 2009. Dispõe sobre Regulamento Técnico para Produtos Saneantes Categorizados como Água Sanitária e Alvejantes à Base de Hipoclorito de Sódio ou Hipoclorito de Cálcio e dá outras providências. Disponível em : <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2009/res0055_10_11_2009.html>. Acesso em: 23 abr. 2020.
3 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Departamento de Assistência e Promoção à Saúde. Coordenação de controle de Infecção Hospitalar. Processamento de artigos e superfícies em estabelecimentos de Saúde. 2a ed. Brasília: Ministério da Saúde; 1994. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/superficie.pdf>. Acesso em 24/04/2020.
4 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Orientações gerais para Central de Esterilização. Brasília; Ministério da Saúde; 2001. (Série A Normas e Manuais Técnicos, No. 108). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_gerais_central_esterilizacao_p2.pdf>. Acesso em 24/04/2020.
* Thaysa Paschoalin possui graduação em Ciências Biológicas Modalidade Médica, doutorado e pós-doutorado pela UNIFESP. Atualmente, é biomédica e chefe da Divisão de Biossegurança do Departamento de Gestão e Segurança Ambiental, na UNIFESP. Tem experiência na área de Bioquímica, com ênfase em Biologia Molecular, atuando principalmente nos temas: desenvolvimento tumoral, angiogênese, enzimas proteolíticas, inibidores enzimáticos, drogas antitumorais.