Mulheres, arte e cuidado: narrativas e estratégias para o combate às desigualdades de gênero

Projeto de extensão do Campus Baixada Santista possibilita a escuta e o cuidado de mulheres, por meio da arte e dos conhecimentos feministas

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Por Paula Garcia

Coordenado pelas docentes Raquel Baptista Spaziani e Jaquelina Maria Imbrizi, do Instituto de Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) - Campus Baixada Santista, o projeto de extensão Mulheres, Arte e Cuidado promove espaços de expressão e escuta para as mulheres da Baixada Santista, utilizando as produções de conhecimento feministas e a arte como possibilitadores de cuidado entre mulheres. Com início em outubro de 2021, articula ensino e pesquisa de modo que a formação das/os estudantes se dê por meio dessa relação, promovendo o senso crítico e a leitura da realidade histórica e social.

“Foi a partir do projeto de extensão Arte e Sonho: abordagem psicanalítica nos modos de cuidar das juventudes, coordenado pela professora Jaquelina, que identificamos o quanto as violências de gênero estão presentes no cotidiano das universitárias. Assim, percebendo a importância de um espaço para que as questões das mulheres pudessem ser refletidas, construímos junto às extensionistas Gabriela Corrêa Ramos, Jussara de Souza Silva, Luísa Segalla de Carvalho e Juliana Teixeira Gomes o projeto Mulheres, Arte e Cuidado”, explica Spaziani. “A universidade tem o compromisso ético-político em atuar no enfrentamento às desigualdades de gênero em suas intersecções com as questões de classe e raça, assim como de outros marcadores sociais da diferença. Contudo, esse ainda pode ser um espaço no qual opressões e violências contra mulheres se fazem presentes, seja de modo velado na cotidianidade, como pela produção de conhecimento que (re)produz subalternizações”, afirma a docente.

O trabalho é desenvolvido por meio de rodas de conversa quinzenais, via Google Meet, com participantes que se identificam como mulheres, com idade entre 14 e 29 anos. Os encontros se iniciam com obras feministas para despertar a reflexão, como textos literários, acadêmicos ou produções artísticas que tenham como questão central as diferentes formas de experienciar as feminilidades na contemporaneidade. Em seguida, as participantes são convidadas a narrar as suas experiências pessoais, dificuldades, sofrimentos e resistências em torno da temática. As rodas de conversa também foram pensadas considerando os efeitos da pandemia na vida das mulheres, como o aumento da vulnerabilidade em relação às violências intrafamiliares, visto que o distanciamento social dificultou as possibilidades de fuga e denúncia dessas situações.

Spaziani conta que, apesar de desafiador refletir sobre temas sensíveis às mulheres, sem estarem juntas em presença física, o espaço on-line se faz importante para a narrativa das experiências pessoais de opressão-exploração que visam acolher sofrimentos de ordem social, como também potencializar a construção de estratégias de transformação das relações desiguais de gênero: “percebemos com esses encontros a potência da arte como forma de reivindicação, expressão e cuidado entre mulheres. Do mesmo modo, acreditamos que a proposta de rodas de conversa ofereça relações horizontais e a livre circulação da palavra entre pessoas como estratégia de cuidado mútuo, possibilitando a troca de vivências, sentimentos e histórias em comum entre as participantes, assim como proporcionando a construção coletiva de alternativas para as situações de desigualdades de gênero”.

O projeto já abordou os temas: O que é ‘ser mulher’?; Sexualidade e o direito ao prazer; Maternidade, maternagem e aborto; e Casamento, mercado de trabalho e padrão de beleza. É aberto às estudantes do Campus Baixada Santista da Unifesp, bem como ao público externo, com encontros quinzenais no formato de rodas de conversa. Para participar é preciso se inscrever enviando um e-mail para: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Sarau Inaugural

Os encontros se iniciaram com um sarau em homenagem à Lia Rangel, estudante do Campus Baixada Santista que faleceu durante o período em que cursava o mestrado na Unifesp. Lia conduzia rodas de conversa e escuta somente com mulheres, por meio da arte e escrita, inspirada em autoras vinculadas ao movimento feminista negro.

Colaboraram nesta ação de extensão as docentes do Departamento de Saúde, Clínica e Instituições do ISS/Unifesp: Marina Guzzo, Simone Ramalho, Flavia Liberman e Stella Maris Nicolau. Todas as participantes, professoras e extensionistas, apresentaram sua relação com a arte (o canto, a música, o cinema) e suas trajetórias de vida como mulheres, ou em trabalhos com mulheres na contemporaneidade.

O encontro, aberto ao público, contou com a participação de cerca de 44 pessoas, dando origem ao grupo (A)grupa, e início as rodas de conversa com as mulheres inscritas no projeto.