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O Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF), órgão complementar da Universidade Federal de São Paulo (desde outubro de 2018) e vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), visa institucionalizar, em caráter interdisciplinar e intercampi, ações de pesquisa e formação em direitos humanos. O foco principal do trabalho se refere às violências institucionais e, em particular, à violência de Estado.

O CAAF foi criado em 2014. Por demanda dos familiares de mortos e desaparecidos políticos da Ditadura, sua criação respondia a um acordo de cooperação técnica, firmado entre a Unifesp, a Prefeitura de São Paulo e o Ministério dos Direitos Humanos, para a formação do Grupo de Trabalho Perus (GTP). Iniciou-se um trabalho forense multidisciplinar que passou a se dedicar à identificação de desaparecidos políticos entre os remanescentes ósseos da Vala de Perus (datada dos anos 70 e aberta no começo dos anos 90). Paralelamente, o CAAF desenvolveu, em parceria com o Centro Latino-Americano da Universidade de Oxford, e com o apoio do Fundo Newton, o projeto de pesquisa “Violência de Estado no Brasil: uma análise dos Crimes de Maio de 2006”.

O GTP conseguiu identificar dois desaparecidos políticos vítimas da Ditadura e enterrados na Vala Clandestina de Perus. São eles: Dimas Antônio Casemiro (desaparecido desde abril de 1971) e Aluizio Palhano Pedreira Ferreira (desaparecido desde maio de 1971). Segundo a Comissão Nacional da Verdade (CNV), ambos foram vítimas das equipes de tortura do Doi-Codi de São Paulo, comandado pelo então major Ustra. Os trabalhos de análises de algumas dezenas de desaparecidos, bem como as reflexões sobre o que significa uma vala clandestina em um país de extrema violência de Estado, continuam sendo objetos de trabalho de nossos pesquisadores.

Finalizado em 2018, o projeto "Crimes de Maio" resultou em um importante Relatório Final, que circunstância 60 casos de assassinatos, ocorridos na Baixada Santista durante os episódios, com o intuito de somar esforços na luta por responsabilização levada adiante por familiares das vítimas. 

Ambos os projetos resultaram em um acervo que reúne documentação produzida pela imprensa, pelos familiares das vítimas, testemunhas e por instituições do Estado, bem como mapas, estatísticas, protocolos e outros artefatos produzidos pelas equipes dos projetos.

Essas pesquisas possibilitaram o desenvolvimento de metodologias, protocolos, bem como a realização de análises que tem contribuído com a consolidação da antropologia e arqueologia forense como áreas do conhecimento no Brasil, a formação de equipes multiprofissionais e a apresentação dados que respondem às reivindicações históricas dos familiares das vítimas, na perspectiva da justiça de transição e da reparação psicossocial.

Frente ao trabalho realizado e em curso, inúmeras demandas têm sido apresentadas, exigindo a ampliação da oferta de serviços e de formação para promover a identificação e reconhecimento de mortos e desaparecidos, bem como a reparação psicossocial e o acompanhamento dos familiares das vítimas.

O compromisso institucional com o direito à cidadania e contra as violações sofridas pelos segmentos vulneráveis e minorias se reúne a esta proposta com o olhar dirigido aos sujeitos que têm se dedicado às lutas e aos movimentos em torno de um vocabulário de direitos humanos e em defesa da vida.

O encontro das demandas e lutas sociais com as iniciativas de docentes e pesquisadores da universidade tem produzido um processo de conhecimento interdisciplinar sobre a temática. A experiência dos eventos, projetos e parcerias decorrentes das várias iniciativas permite o investimento em mais uma etapa da consolidação de uma política institucional de conhecimento e promoção dos direitos humanos.