Um grupo de pesquisa interdisciplinar coordenado pelas docentes Ana Claudia Muniz Renno e Renata Neves Granito, ligado ao Laboratório de Biomateriais e Engenharia de Tecidos (Labetec) do Campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), está à frente de um projeto inovador que utiliza ativos que são extraídos de espécies marinhas, particularmente esponjas e peixes, para desenvolver novos tratamentos para doenças osteoarticulares e de feridas de pele e úlceras.
Com o aumento da expectativa de vida, também há o aumento de doenças crônico-degenerativas, especialmente as que afetam o sistema osteoarticular, como, por exemplo, o desenvolvimento de osteoporose e que leva a fraturas que não se consolidam. Também, o aumento de doenças metabólicas, como, por exemplo, a diabetes melittus (cada vez mais presente na sociedade atual) leva ao desenvolvimento de úlceras e feridas cutâneas. Com isto, há uma necessidade urgente de tratamentos cada vez mais eficazes para promover e acelerar o processo de reparo dessas afecções.
Com essa constatação, os(as) pesquisadores(as) do Labetec vêm há anos estudando ativos provenientes da biodiversidade marinha para o desenvolvimento de novos medicamentos. Assim, espécies como esponjas marinhas e peixes, em particular, possuem em suas estruturas (esqueleto ósseo, pele, etc.) bioativos que podem ser extraídos e que possuem propriedades antibacterianas, antivirais e anti-inflamatórias. O grupo conseguiu extrair, processar e identificar vários bioativos provenientes dessas espécies, como biosílica (parte mineral da esponja marinha e similar à parte mineral do tecido ósseo) e colágeno da pele de peixe e, a partir disso, desenvolver tratamentos para fraturas ósseas e úlceras e feridas.
Scaffold de biosílica e membrana impressa 3D (Foto: divulgação)
Essa linha de pesquisa inovadora tem aplicações diretas nas áreas de biotecnologia e engenharia de tecidos. Sendo assim, vários experimentos estão sendo feitos para demonstrar as propriedades benéficas dos tratamentos desenvolvidos para acelerar o processo de reparo tecidual. As pesquisas envolvem uma série de testes de caracterização de estudos in vitro com células ósseas e da pele e experimentos in vivo utilizando animais experimentais. Todos os testes vêm demonstrando que os bioativos são capazes de promover a proliferação celular, são compatíveis com tecidos biológicos e estimulam o crescimento do tecido ósseo e do tecido cutâneo, resultando em um processo de reparo mais acelerado. Assim, o enxerto ósseo desenvolvido possibilitou uma melhoria da consolidação óssea, e os curativos cutâneos promoveram um fechamento das feridas cutâneas. O próximo passo é a realização de estudos clínicos.
“O aproveitamento da biodiversidade marinha para o desenvolvimento de biomateriais e tratamentos representa uma fronteira extremamente promissora para a área de medicina regenerativa e engenharia de tecidos. Nosso objetivo é transformar essas descobertas em intervenções terapêuticas reais que possam melhorar significativamente a saúde e a qualidade de vida das pessoas", afirma a professora Ana Claudia Renno.
Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a pesquisa interdisciplinar em biomateriais marinhos poderá abrir novos caminhos para o tratamento de doenças osteoarticulares e para a medicina regenerativa.
*Por Lais Caroline Souza e Silva